quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Urbanidade

[Alberto Carneiro 21] O “urbano” é aqui, sobretudo, uma forma civilizacional, a condição humana de afastamento a um mundo de origem. A urbanidade é o agir sobre a natureza, é a consciência crítica sobre esse mundo de onde se vem e a partir do qual se quer construir a diferença, firmar o progresso, a conquista de território, de um lugar, de um tempo próprio.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Cidade

[Alberto Carneiro 20] A exposição, que visitáramos em montagem, em Guimarães, está agora próxima do seu encerramento. Há uma visita guiada. Vemos o olhar das pessoas, ouvimos o seu silêncio. É a construção da “cidade” que Alberto Carneiro nos propõe, como se a Natureza estivesse integrada nos jardins humanos, como se as formas dessa orgânica fossem geradas por um projeto coerente e transformador. Nada. São processos cíclicos, cósmicos, sentido fugaz para a vida humana. O violentamente belo, a extraordinária força que nos move em fragilidade, que interpretamos que, a um mesmo tempo, nos esmaga e nos liberta. Esta é a interrogação da arte que cria universos. A ciência interpreta, escrutina, fixa, propõe. A música, a literatura, a arte, todas as formas expressivas, libertam, divergem caminhos, inquietam. São as tentativas de adaptação a um solo vertiginoso, abissal, violento e belo, duro e fascinante, tórrido e gelado. Caminhamos num limbo temporal em que a arte apaga limites e nos liberta para a angústia do desconhecido. Ao mesmo tempo que que nos parece dar um chão, inebria-nos com a sua sedução fantasmática real.
Este é o lugar criado por Alberto Carneiro. É o trazer a natureza para dentro da cidade, uma natureza que nos interroga, que nos desafia, que nos mostra as teias da sua construção num tempo de milhões de anos, a sucessão de vidas sobre vidas, a densidade e a opacidade das matérias, o seu carácter orgânico integrado num espaço-tempo sem limites. Mas a Natureza que é projetada por Alberto Carneiro, já não é aquela que conhecemos, aquela de onde evoluímos como espécie biológica, é um mundo por si inventado, é um convite a voltarmos a olhar para essa mesma natureza-mãe, como se num olhar demorado, envolvente, estivesse a chave do entendimento das nossas vidas, de uma condição humana divergente, fugaz, de futuro absolutamente imprevisível.

Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2016

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Regresso

[Alberto Carneiro 19] Deste mundo vasto, aberto, pleno de sinais, regressamos ao jardim. Há aqui duas naturezas em relação: os fazeres de Alberto Carneiro e a natureza que os envolve e com os quais a sua obra comunica. Há também a cidade habitada de que parece nos conseguimos ausentar momentaneamente. Como se, neste jardim, todos os gestos humanos e a evolução da natureza, da vida na Terra, da geologia, de tudo, tudo pertencesse a um mesmo desígnio, sentido. Mas os fazeres humanos estão integrados nesta marcha evolutiva, são os elementos que um universo em expansão pôs em relação, que gerou formas inexistentes no passado, num processo imparável. É a “seta do tempo”, um mundo cada vez mais complexo e interminável nos labirintos que sucessivamente cria. Há em Alberto Carneiro desenhos que ligam territórios infinitos.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Sobre o olhar

[Alberto Carneiro 18] Uma extraordinária viagem em que transportamos em nós o desejo de regresso a um mundo onde já não é possível voltarmos. Mas há olhares que nos permitem imaginar essa descoberta primordial.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2016

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Estranhezas

[Alberto Carneiro 17] Imagens estranhas que encontramos num arquivo fotográfico de todos as viagens feitas no passado. De onde vêem as estranhas fotografias que atravessam todo o arquivo? Trinta anos de trabalho. Representações que procuram o significado das formas, como se nos prendessem à única possibilidade de sobrevivência, aqui, neste solo onde repousamos horizontais nas noites estrelas das caminhadas ininterruptas.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Modelação

[Alberto Carneiro 16] No jogo humano de modelação da face dos solos, criar o seu próprio território, a Natureza interpela-nos com desconcerto, como que a deixar à nossa leitura que a Terra requer um compromisso para o seu habitar. Caminhamos sobre essa terra, respiramos eras antigas, um pouco do futuro, o ensaio evolutivo da significação inexistente. O tempo passa. Corpos celestes movem-se no frio escuro do espaço sideral. Cosmos.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Filamentos

[Alberto Carneiro 15] Quando viajamos sob um céu descoberto ou nos caminhos da floresta, longe das cidades, há elementos que prendem a nossa atenção, sobretudo vegetais entrelaçados, troncos, ramos, teias finas de filamentos, musgos, como se neles nos sugerissem uma ausência de nós próprios, de uma condição racional, para o regresso ao passado muito remoto em que teremos dado os primeiros passos. Os lugares pouco povoados são espaços do tempo longo, onde os elementos estão sujeitos à ordem natural, onde os humanos não deixam a sua ânsia de transformação e fuga.



quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Terra

[Alberto Carneiro 14] Viajamos para campo aberto, para longe. Lugares distantes e distintos. Observamos a natureza intacta, as suas formas vegetais. Não podemos ficar indiferentes a estes elementos, como se houvesse a necessidade de a eles justapormos uma linguagem simbólica que permita a sua descodificação. Constantemente relembramos o labor de Alberto Carneiro. A invenção da palavra parecia há muito estar inscrita nesta orgânica biológica que nos antecedeu e nos acompanha.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Jardim

[Alberto Carneiro 13] Saímos para o jardim exterior. Há humidade. Voltamos a encontrar peças dispersas, mas agora essas esculturas estão integradas com a própria natureza, aqui contida, limitada por muros. Há elementos trazidos de outras paisagens, pedras. Há o verde que cresce, que se entrecruza com o próprio imaginário que percorremos. Uma imensa geografia.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015