[Alberto Carneiro 20] A exposição, que visitáramos em montagem, em Guimarães, está agora próxima do seu encerramento. Há uma visita guiada. Vemos o olhar das pessoas, ouvimos o seu silêncio. É a construção da “cidade” que Alberto Carneiro nos propõe, como se a Natureza estivesse integrada nos jardins humanos, como se as formas dessa orgânica fossem geradas por um projeto coerente e transformador. Nada. São processos cíclicos, cósmicos, sentido fugaz para a vida humana. O violentamente belo, a extraordinária força que nos move em fragilidade, que interpretamos que, a um mesmo tempo, nos esmaga e nos liberta. Esta é a interrogação da arte que cria universos. A ciência interpreta, escrutina, fixa, propõe. A música, a literatura, a arte, todas as formas expressivas, libertam, divergem caminhos, inquietam. São as tentativas de adaptação a um solo vertiginoso, abissal, violento e belo, duro e fascinante, tórrido e gelado. Caminhamos num limbo temporal em que a arte apaga limites e nos liberta para a angústia do desconhecido. Ao mesmo tempo que que nos parece dar um chão, inebria-nos com a sua sedução fantasmática real.
Este é o lugar criado por Alberto Carneiro. É o trazer a natureza para dentro da cidade, uma natureza que nos interroga, que nos desafia, que nos mostra as teias da sua construção num tempo de milhões de anos, a sucessão de vidas sobre vidas, a densidade e a opacidade das matérias, o seu carácter orgânico integrado num espaço-tempo sem limites. Mas a Natureza que é projetada por Alberto Carneiro, já não é aquela que conhecemos, aquela de onde evoluímos como espécie biológica, é um mundo por si inventado, é um convite a voltarmos a olhar para essa mesma natureza-mãe, como se num olhar demorado, envolvente, estivesse a chave do entendimento das nossas vidas, de uma condição humana divergente, fugaz, de futuro absolutamente imprevisível.
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Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2016 |