quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Quinto elemento

[regressar onde 11] Há um quinto elemento que nunca foi especialmente referido durante a polémica da barragem, mas que provoca na paisagem uma ferida acentuada. São as pedreiras do Poio, de onde é feita a extração de xisto, de lousa, há várias décadas. O destino inicial dessa extração foi, creio, os esteios para a vinha de todo o vale do Douro. Hoje, nas quintas em modernização ou na plantação de vinha nova, são usados esteios metálicos ou de madeira. As pedreiras estão apostadas na indústria das rochas ornamentais, de aplicação na construção civil. O processo de escavação não parece ter fim. A cicatriz causada pelo esventrar da terra tem uma dimensão cada vez maior. Há um núcleo de gravuras, o sítio da Canada do Inferno, que fica a escassas centenas de metros das pedreiras. É para montante deste sítio, e até à quinta da Barca, que se situam os principais núcleos de gravuras como sejam o do Fariseu, de vale Figueira, da Ribeira dos Piscos e o da Penascosa. Para montante destas terras de xisto temos um vale que se adensa e que se aperta já em solos de granito e onde podemos ainda observar outros núcleos de expressão desenhada, particularmente de períodos da idade dos metais. Mas as pedreiras do Poio também se apresentam como um espaço de inquietação e de mistério para quem hoje as percorre. Há zonas da pedreira que estão desativadas que se assemelham à ruína de uma cidade habitada por colossos.

dd163-05 - Pedreiras do Poio, Vila Nova de Foz Côa. 1996

Sem comentários:

Enviar um comentário