segunda-feira, 27 de maio de 2019

28 de abril 2019

[Caminhar oblíquo 02] Um marco geodésico assinala um ponto elevado. O Penedo Durão, não longe de Freixo de Espada à Cinta, é um lugar que, simultaneamente, revela e oculta uma realidade geográfica singular. O rio Douro é um dos elementos mais vincados na estruturação do território português. Vindo de montante, com a direção nordeste-sudoeste, o rio abriu, ao longo de milhões de anos, um profundo sulco sobre terras graníticas, planálticas. Ao “dobrar” o Penedo Durão o rio inflete na direção nascente, como se procurasse agora o caminho mais curto para o mar. Poucos quilómetros à frente, na foz do rio Águeda, o rio deixa de fazer fronteira entre Espanha e Portugal e passa a navegar em território português. A constituição da matéria geológica das suas margens também se altera significativamente. Do granito, do profundo canhão fluvial, passamos para as terras de xisto, com as margens de inclinações menos acentuadas e onde vamos encontrar uma civilização da vinha e do vinho. O Penedo Durão é, assim, uma rótula que articula diferentes paisagens, diferentes mundos. Quando estamos no marco geodésico pode não ser evidente esta variação, mas lentamente começamos a perceber que este ponto é como um farol que põe em diálogo mundos diferentes.
É aqui o ponto de partida para uma viagem que quer traçar uma linha oblíqua sobre o espaço português. É um farol sem luz ao contrário de esse outro que será o destino deste caminhar, o Cabo da Roca. No fundo esta é uma viagem entre dois pontos notáveis entre os quais cabe um país inteiro.

Dado o adiantado da hora da partida, eram cerca de 18 horas, o objetivo deste primeiro dia de caminhada seria a aproximação a Barca d’Alva. Partia de uma cota de 730 metros de altitude para descer cerca de 600 metros, até ao nível das águas do Douro, a rondar os 130 metros. Quase todo o percurso seria feito por estradas de terra e o atravessamento de alguns olivais. Depois tomaria a estrada nacional 221 que, após o atravessamento da ponte Almirante Sarmento Rodrigues, estaria em Barca d’Alva. Já estava a noite feita aquando da passagem da ponte. Dois barcos turísticos estavam atracados. No seu interior pessoas jantavam. O atravessamento do Douro seria como que o abandonar a civilização e mergulhar numa viagem com muitos quilómetros pela frente. Foram mais uns minutos de caminhada, apenas para deixar de ouvir os motores das embarcações, que permaneciam em funcionamento, e procurar um local para passar a noite. No escuro, em solos próximos de um rio, com inclinações mais ou menos acentuadas, nem sempre é fácil encontrar uma área plana para montar a tenda. O sítio não era perfeito mas tinha silêncio e imaginava já a paisagem da madrugada.




















Dia: 28 de abril de 2019, domingo
Lugar referência: Barca d'Alva
Pernoita: Barca d'Alva
Quilómetros percorridos: 17
Quilómetros acumulados: 17
Concelhos atravessados: Freixo de Espada à Cinta; Figueira de Castelo Rodrigo
Cartas militares: 142
Fotografia inicial: dg896784, 17h51
Fotografia final: dg897183, 21h15
Duração trabalho fotográfico: 3h24
Fotografias: 400
Somatório fotografias: 400
Fotografias selecionadas: 48 (12,0%)

Penedo Durão. Freixo de Espada à Cinta. 28 de abril de 2019



Rio Douro. Freixo de Espada à Cinta. 28 de abril de 2019

Rio Douro, Barca d'Alva. Figueira de Castelo Rodrigo. 28 de abril de 2019

Barca d'Alva. Figueira de Castelo Rodrigo. 28 de abril de 2019

1 comentário:

  1. "O Penedo Durão é, assim, uma rótula que articula diferentes paisagens" é uma bela metáfora.

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