[cidade efémera 2] Mas esta horta era também mais do que isso. Foi uma homenagem breve ao mundo rural. Foi o trazer para dentro da cidade a dignidade de quem, nos campos, permanece a cultivar os solos, a desenhar, em jardins, paisagens que hoje vão estando cada vez mais dadas ao abandono. O grave problema da demanda das terras é o abandono da sustentabilidade de uma parte muito significativa do território. O abandono, sabemo-lo hoje, de forma muito clara, significa fogo, mais tarde ou mais cedo. Compreendamos a dureza da labor da terra, mostremos a nossa gratidão a quem resiste no seu trabalho e permanece erguido numa luta milenar, que é, também, a luta da própria civilização.
Esta homenagem ao mundo rural que a horta do Mercado 2 de Maio representou é especialmente significativa na cidade em que aconteceu: Viseu. A cidade está rodeada de centenas de aldeias e lugares, dentro dos limites do seu próprio concelho. Em 2015 no âmbito de um projeto proposto ao concurso Viseu Terceiro, e financiado parcialmente pela Câmara Municipal de Viseu, tive a oportunidade de fotografar 240 aldeias e cerca de 160 outros lugares de povoamento humano menos acentuado. Este é um território com numerosos pontos de interesse e é esta malha labiríntica de um povoamento humano milenar que esta horta também prestava homenagem. Foi o trazer a nobreza da agricultura, de uma beleza que poucas vezes, urbanos, reparamos, para o centro cívico de uma cidade. (Continua…)
Mercado 2 de Maio, Viseu. 16 de outubro de 2017 (luz dos incêndios na região) |
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