terça-feira, 31 de julho de 2018

Fonte Santa

[procurar um país 042] A sacralização dos lugares que apresentavam alguma singularidade geológica foi um processo que terá contribuído para a fixação de comunidades humanas nas terras envolventes a esses mesmo lugares. Terão sido, também, desde tempos muito recuados, pontos de identificação e orientação dessas mesmas comunidades. Sítios para estruturar territórios vastos.


026. Penedo e capela da Fonte Santa. Pêra Velha. Moimenta da Beira. 2007

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Carris

[procurar um país 041] As Minas dos Carris tiveram início de atividade em 1941, em plena segunda Guerra Mundial. Delas era extraído, sobretudo, o volfrâmio que integrava armas e munições na alimentação do esforço de guerra. Findo o conflito as minas viriam a perder a sua importância, mas só viriam a ser encerradas e abandonadas na década de 1970. O acesso era feito por um estradão a partir das proximidades do lugar da Portela do Homem e subia o rio com este nome até uma cota de cerca de 1500 metros de altitude. Situadas em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês, estão localizadas perto do seu ponto mais elevado e também mais isolado de todo este complexo montanhoso.

025. Minas dos Carris. Serra do Gerês. Montalegre. 2012

domingo, 29 de julho de 2018

Seida

[procurar um país 040] Conhecia uma fotografia impressionante do livro Construções Primitivas em Portugal. Durante anos procurara a sua localização precisa em vários pontos. Viria a conseguir localizar a Branda da Seida e visualizar outras fotografias do lugar no Google Earth. Numa primeira oportunidade avancei para a serra da Peneda, a última montanha que não tivera ainda a oportunidade de conhecer com detalhe.

024. Branda da Seida. Serra da Peneda. Arcos de Valdevez. 2009

sábado, 28 de julho de 2018

Furdas

[procurar um país 039] As furdas de Salvaterra do Extremo são elementos construídos que seguem o mesmo princípio construtivo dos abrigos de pastor. A escala é mais pequena. São habitadas por porcos e hoje estão praticamente abandonadas. Em Salvaterra do Extremo existe, talvez, o maior núcleo destas construções em Portugal. Definem como que uma cidade dos porcos, com casas, quintais e arruamentos.

023. Furdas. Salvaterra do Extremo. Idanha-a-Nova. 2014

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Futuro

[cidade efémera 4] Decorrente do trabalho que tenho desenvolvido sobre o mapeamento do espaço português, já percorri e fotografei todas as cidades do nosso país. Não tenho dúvidas em afirmar que Viseu é a mais bem estruturada cidade de Portugal, em termos da sua malha urbana e fluidez de tráfego. São também relativamente reduzidas as formas mais agressivas de um urbanismo descontrolado como vemos em tantas outras urbes. O centro histórico, sem deixar de ter alguns problemas, está relativamente preservado. Viseu tem um potencial muito positivo como exemplo de boas práticas, de relação entre a própria malha urbana e a ruralidade que a envolve. Este projeto da horta levantava essa questão de forma muito clara. Era a criatividade de quem acredita na sua cidade, de quem nela vive, que procura construir esse percurso alternativo que não passa por ações de marketing esvaziadas de conteúdo. Os Jardins Efémeros, dentro dos quais esta iniciativa se enquadrava, são um espaço de diferença, irreverência e inovação. São, todos os anos, um contributo muito significativo para uma cidade nova, de que faz parte a Natureza, seja na forma perplexa da sua pujança evolutiva, seja na miríade de afeiçoamentos que a humanidade, à escala planetária, com ela tem dialogado desde os primeiros passos de um processo de uns poucos milhões de anos. Se há uma ruralidade em declínio, gestos simples, economicamente acessíveis, podem criar uma nova sensibilidade para as questões que gravitam em torno da sustentabilidade dos territórios. Que a destruição de uma horta não seja o prenúncio de uma cidade efémera. (Fim da série Cidade Efémera)

Mercado 2 de Maio, Viseu. 2010




Destruição

[cidade efémera 3] No dia 18 de julho a horta foi arrancada e, nos mesmos canteiros, foram plantadas flores, como aquelas que encontramos em várias rotundas da cidade. No espaço central da antiga horta foi aplicada uma “carpete” de plástico brilhante de cor verde. Contraditoriamente permaneceram as palavras das crianças que tinham ajudado a plantar a horta. A estimativa para a recolha dos alimentos ali produzidos apontava para o final de agosto ou princípio de setembro próximo, pois nessa altura estaria concluído o ciclo produtivo da maior parte daquelas espécies vegetais. Nesse momento, que assinalava o fim deste singular projeto, seria cozinhada uma sopa comunitária e servida aos cidadãos da cidade. Tudo tinha o detalhe e a sabedoria de uma construção coletiva que fluía naturalmente.  (Continua…)

Antigo Mercado 2 de Maio, Viseu. 2018

Antigo Mercado 2 de Maio, Viseu. 2018

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Homenagem

[cidade efémera 2] Mas esta horta era também mais do que isso. Foi uma homenagem breve ao mundo rural. Foi o trazer para dentro da cidade a dignidade de quem, nos campos, permanece a cultivar os solos, a desenhar, em jardins, paisagens que hoje vão estando cada vez mais dadas ao abandono. O grave problema da demanda das terras é o abandono da sustentabilidade de uma parte muito significativa do território. O abandono, sabemo-lo hoje, de forma muito clara, significa fogo, mais tarde ou mais cedo. Compreendamos a dureza da labor da terra, mostremos a nossa gratidão a quem resiste no seu trabalho e permanece erguido numa luta milenar, que é, também, a luta da própria civilização.
Esta homenagem ao mundo rural que a horta do Mercado 2 de Maio representou é especialmente significativa na cidade em que aconteceu: Viseu. A cidade está rodeada de centenas de aldeias e lugares, dentro dos limites do seu próprio concelho. Em 2015 no âmbito de um projeto proposto ao concurso Viseu Terceiro, e financiado parcialmente pela Câmara Municipal de Viseu, tive a oportunidade de fotografar 240 aldeias e cerca de 160 outros lugares de povoamento humano menos acentuado. Este é um território com numerosos pontos de interesse e é esta malha labiríntica de um povoamento humano milenar que esta horta também prestava homenagem. Foi o trazer a nobreza da agricultura, de uma beleza que poucas vezes, urbanos, reparamos, para o centro cívico de uma cidade.  (Continua…)

Mercado 2 de Maio, Viseu. 16 de outubro de 2017 (luz dos incêndios na região)

Enquadramento

[cidade efémera 1] As palavras que se vão seguir partem de um facto concreto, a destruição de uma horta urbana, em Viseu, para algumas reflexões sobre a própria cidade, sobre cidadania.
Os arquitetos Luís Pedro Seixas e Nuno Vasconcelos, desenharam uma horta, Jardim Alimentar, para ser implantada no espaço do antigo Mercado 2 de Maio, no coração da cidade de Viseu. A iniciativa estava enquadrada nos Jardins Efémeros, uma criação de Sandra Oliveira.
O projeto utilizou paletes em madeira para definir um espaço que não albergava apenas mais de 20 espécies hortícolas — como manjericão, salsa, várias diferentes alfaces, cebola, courgettes, abóbora, beterraba, etc — como criava um recinto de estar, com várias dezenas de lugares para quem quisesse se sentar. A peça, de desenho cuidado e muito bem articulado com a envolvente, dialogava com as árvores da praça, que ensombravam um parte daquela área. De algum modo esta horta também evocava a própria memória daquele espaço, um antigo mercado, há décadas reconvertido em espaço de lazer. Era o regresso dos produtos hortícolas a um lugar que fora nevrálgico dentro da cidade como ponto de encontro de toda uma comunidade. Era assim com todas as vilas e cidades portuguesas até as dinâmicas evolutivas do comércio assumirem outras formas.
O desenvolvimento e implementação deste projeto estava articulado com várias escolas do ensino básico do município. As crianças eram levadas ao local e estimuladas a cuidar da horta, a conhecerem as suas espécies e a relacionarem o que ali viam com alguns dos mais saudáveis alimentos de que podemos dispor no nosso quotidiano.
(Mais informação em: http://jardinsefemeros.pt/en/eventos/o-meu-corpo-e-o-meu-jardim/). 
(Continua…)

Jardim Alimentar, Mercado 2 de Maio, Viseu. 2018 (Fotografia de Cristina Nogueira)

Jardim Alimentar, Mercado 2 de Maio, Viseu. 2018 (Fotografia de Cristina Nogueira)

Jardim Alimentar, Mercado 2 de Maio, Viseu. 2018 (Fotografia de Cristina Nogueira)

Abrigo de Pastor

[procurar um país 038] Os abrigos de pastor são, talvez, dos elementos arquitetónicos mais arcaicos que permanecem em uso, que existem em espaço português. São construções fascinantes, com uma enorme capacidade de estímulo para a procura de uma origem da própria arquitetura. Os mais primitivos abrigos humanos na inserção em territórios “hostis”, de clima agreste, ou povoados por espécies predadoras, como eram os ursos no passado, neste território.

022. Abrigo de Pastor. Serra do Gerês. Montalegre. 1988

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Castelo da Lousa

[procurar um país 037] Uma viagem pelo património português que dura 30 anos não pode deixar de passar por alguns locais que já desapareceram, ou que por um tempo longo não se encontram visitáveis. O Castelo da Lousa permanece sob as águas da albufeira do Alqueva, no vale do Guadiana.

021. Castelo da Lousa. Mourão. 1996

Castro de São Lourenço

[procurar um país 036] Encontramos no espaço português numerosos vestígios de construções que nos permitem seguir praticamente todos os passos evolutivos que levaram à construção das cidades tal como hoje as conhecemos. A civilização castreja passou por vários momentos, quase todos marcados por pequenos aglomerados populacionais que habitavam pontos relativamente elevados e aí construíam perímetros muralhados a envolver um núcleo habitacional. A complexidade destas construções foi aumentando ao longo dos séculos. Viveram-se tempos de guerra, de saques, durante largos períodos. Eram tempos e grande instabilidade, de uma dependência forte de ciclos agrícolas e consequentemente, de condições meteorológicas sempre instáveis. Só com a romanização se viria a atingir uma acalmia, à medida que o Império se expandia, neste limite de terras conhecidas. Estas foram as primeiras cidades construídas no espaço hoje Portugal. Existem muitíssimos vestígios desta forma de habitar, com um grande prevalência no norte montanhoso.

020. Castro de São Lourenço. Esposende. 1995

Fojo de Alcântara

[procurar um país 035] O fojo do lobo é, talvez,  um dos mais notáveis elementos construídos no mundo rural do espaço hoje Portugal. Os fojos são armadilhas para a captura e aniquilação do lobo. Requeriam trabalho comunitário. Quando era detetado um animal, ou uma alcateia, populações de várias aldeias, pastores, faziam uma batida com o objetivo de conduzirem os animais à boca de um enorme “funil” construído, geralmente, em terras altas. Muros com cerca de 2 metros de altura erguiam-se numa extensão que poderia chegar quase aos 2 quilómetros. Na confluência dos dois segmentos do muro era aberto um poço, para onde os animais fugiam, sem itinerário alternativo. Eram aí mortos, na esperança de que os rebanhos tivessem segurança.

019. Fojo de Alcântara. Serra do Gerês. Montalegre. 2012

Bebedouro

[procurar um país 034] A água, os elementos construídos a ela associados, são, muitas vezes, de uma enorme simplicidade e eficácia. São também obras que louvam o significado da água na fixação de comunidades humanas a lugares específicos, são condição de sobrevivência.

018. Bebedouro. Rosmaninhal. Idanha-a-Nova. 2005

Tarde

[procurar um país 033] O fim da tarde nas margens de um rio que é uma poderosa sequência de paisagens. As marcas do povoamento humano são aqui fruto de um labor de séculos continuados nas encostas acentuadas deste vale do rio Douro. Cada regresso é um reencontro com o verde e as variações cromáticas conferidas pelas estações do ano. Desenhos possíveis, linhas de continuidade.

017. Quinta dos Murças. Rio Douro. Peso da Régua. 2008

Oliveiras

[procurar um país 032] As oliveiras são árvores que perduram em sucessivas gerações humanas. São algumas das mais antigas árvores que existem em solo português, os mais antigos a seres vivos com quem hoje podemos dialogar. São tempo transformado em matéria. Silêncio.

016. Herdade do Barrocal de São Lourenço. Reguengos de Monsaraz. 2006


Castanheiro

[procurar um país 031] Algumas árvores monumentais parecem dialogar com os elementos construídos mais arcaicos das paisagens. São seres com gigantescos corpos erguidos em busca da luz. Extraordinários monumentos evolutivos. Um olhar consciente converte estas árvores em linguagem e com elas dialogaremos sobre a vida e a sombra. 

015. Castanheiro. Castelo de Ansiães. Carrazeda de Ansiães. 1993



quarta-feira, 18 de julho de 2018

Pico

[procurar um país 030] O tempo e o espaço das formas vegetais arcaicas que quotidianamente lutam com um ambiente hostil, de altitude, de invernos duros e prolongados, de ventos agrestes. A lembrança da nossa própria condição primordial, de seres em adaptação permanente a um mundo em mudança constante.

014. Ilha do Pico. Açores. 2008

terça-feira, 17 de julho de 2018

Solitário

[procurar um país 029] Teias. Há uma “transparência” muito sedutora nas florestas densas. Num emaranhado de ramos, de formas vegetais, há uma enorme variedade de formas. Estamos numa casa aparentemente estranha e confusa, muitas vezes acompanhada de ruídos de aves, insetos, ou outros animais. Inquietação e medo também, como que no espaço de um crime.

013. Mata do Solitário. Setúbal. 2012

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Rio Côa

[procurar um país 028] Uma paisagem que se mantém em muito do seu carácter selvagem, quase intocado. A procura permanente de uma origem, de um espaço onde não esteja presente a pegada humana, onde apenas possamos ver a Natureza intacta, construída por si própria. Procuramos estes lugares quase desaparecidos, impossíveis.
 
012. Rio Côa. Algodres. Figueira de Castelo Rodrigo. 1995
 

domingo, 15 de julho de 2018

Pulo

[procurar um país 027] Um, dois passos de concentração para atravessar um rios maiores da península ibérica, o Guadiana. O rio mergulha entre as margens de xisto muito polido. É um dos mais singulares lugares fluviais de todos os rios portugueses. Há ali histórias de fascínio e tragédia.

011. Pulo do Lobo. Rio Guadiana. Mértola/Serpa. 1998

sábado, 14 de julho de 2018

Calcedónia

[procurar um país 026] Arquiteturas cíclicas, como que de mundos arcaicos se tratasse, de que hoje apenas permanecem vestígios diluídos num solo de penedos labirínticos. Construções reais e imaginárias de uma civilização maior, numa escala superior à dimensão humana.

010. Cabeço de Calcedónia. Serra do Gerês. Terras de Bouro. 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Estrela

[procurar um país 025] As formas, o clima extremo, o medo, a ideia de sobrevivência em clima hostil. Não podemos deixar de nos questionar sobre a nossa condição de habitar um planeta que teve, ao longo da sua evolução, fortes variações climáticas.

009. Serra da Estrela. Covilhã. 2013

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Serra Amarela

[procurar um país 024] Os momentos únicos que vivemos em tempos específicos da nossa juventude, que nos haveriam de marcar para sempre, nas leituras da terra, na ânsia de viver o campo, o espaço aberto, o infinito desejo de conhecimento e de expressão do pensamento.

008. Serra Amarela. Ponte da Barca. 1987