[Linha do Tua 36] Prosseguindo mais um quilómetro e meio, passamos a ponte da Cabreira, com uma estrutura metálica que apoia em socos de alvenaria de granito. Após um pequeno aluvião e uma curva para norte, a linha inflete para a direita, para nordeste, e entra num novo estreitamento do vale. A linha volta a ser apoiada num extenso socalco, construído no declive da margem. Atravessamos o sítio do Zambujal. À passagem do quilómetro 28, o rio flete ligeiramente a norte e abre-se como que numa enorme concha. O olhar atinge agora horizontes distantes, como até agora não tinha acontecido. Para quem sobe a linha a partir do Tua, este é um lugar em que se respira uma tranquilidade não experimentada desde que a linha tinha abandonado o vale do Douro. No sentido contrário, para quem desce de Bragança, este é o ponto de viragem entre um universo luminoso e outro, distinto, onde parecem dominar as trevas. Nos dias de Inverno mais rigoroso esta dualidade deve ser particularmente acentuada. Apesar da extraordinária beleza do troço percorrido até aqui, não se pode deixar de sentir uma sensação de desconforto, dada a pequenez da nossa dimensão perante a grandiosidade do vale. Uma certa escuridão também contribui para esse sentimento de inquietação, que ao mesmo tempo é um dos aspetos mais fascinantes desta viagem. Agora, uma vaga sensação de medo é subitamente aliviada pela presença repentina desta nova paisagem, com uma escala mais familiar, mais de acordo com os territórios povoados pelas nossas cidades. Uma enorme extensão horizontal de água contrasta com a sucessão de rápidos que predominavam na paisagem fluvial até aqui.
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