terça-feira, 13 de agosto de 2019

Itinerários de margem

[regressar onde 09] Houve um momento em que um último trabalhador deixou os estaleiros. Nenhum funcionário voltaria ao serviço da obra. Já nada mais haveria para remover. Hoje apenas algumas pessoas visitam, ocasionalmente, a ruína de algo que não foi construído. Silêncio. Se aproximarmos o olhar do solo da ruína, vemos a natureza a tomar parte de algo que lhe fora estranho. Em todos os locais há vestígios de um processo de renaturalização que vai envolvendo os elementos. As britas deixadas no chão, que deveriam integrar o grande paredão da barragem, estão envoltas por musgo que reverdece com a chuva. As estruturas de betão construídas para o apoio da obra, mantêm a sua imponência rasa, de elementos abandonados prematuramente. Trilhos, carreiros de pé posto, muitas vezes quase impercetíveis, percorrem este labirinto acidentado. São os passos deixados por alguém que por qualquer motivo, atravessa esta paisagem contraditória, sem aparente motivo que o justifique. Breves marcas de passagem sem destino. Itinerários de margem.

dg222369 - Barragem, Vila Nova de Foz Côa. 2011

dg314243 - Barragem, Vila Nova de Foz Côa. 2012

dg315774 - Barragem, Vila Nova de Foz Côa. 2012

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