terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Teresa e Ruy

[agora 01] Desde 1979 que não mais comemorámos esta data, o dia de hoje, 27 de fevereiro. Mas é uma data que não podíamos esquecer e todos os anos era motivo de conversa breve. Neste dia, em 1933, nascia em São João da Ribeira, meu pai, Ruy Belo. Haveria de partir 45 anos depois, em agosto de 1978. Hoje passam dez dias sobre a morte de minha mãe, Teresa Belo. É o fim de um tempo para mim e para os meus irmãos Catarina e Diogo. O meu pai deixou, em poemas, palavras sobre o amor, sobre o tempo, sobre a morte, sobre tantas coisas, sobre o cosmos presente num quotidiano errático. Minha mãe desenhou caminhos para a liberdade, mostrou-nos, aos quatro, a força e a determinação da alegria, da vontade, da coragem. Transmitia-nos uma energia enigmática, funda, irrecusável. Era esta uma das suas faces. Era uma generosidade que não queria retorno. Silêncio. Ensinou-nos o que não se explica, o intraduzível em palavras, talvez em coisa nenhuma, uma condição de humanidade em aberto, onde o futuro é vislumbrado pela curiosidade e pela criatividade. Mostrou-nos a arte da vida, mesmo nos momentos mais duros e difíceis. Deixou-nos a dignidade maior.

Ruy e Teresa Belo. Praia da Senhora da Guia, Vila do Conde. Década de 1970.

6 comentários:

  1. A vocês que tiveram a incomparável fortuna de terem a Teresa por mãe. E a todos aqueles a quem a vida proporcionou momentos de convívio e partilha com ela

    ResponderEliminar
  2. Também em mim existe muito desse mundo que foi a tua mãe, minha querida e insubstituível amiga! Abraço Duarte !

    ResponderEliminar
  3. Que história tão bonita, os afectos e sentimentos bem visíveis neste quadro familiar. Os alicerces da família são a melhor herança que nos resta, infelizmente não para todos... parabéns-

    ResponderEliminar
  4. Gostei dos textos inseridos no último JL Sou fã da poesia do seu pai.

    ResponderEliminar