[Lugares livres 41] A cidade, os sítios que encontro, já não são os mesmos. Há um sedutor lugar humano constituído por fragmentos, pela exploração da linguagem e pela procura de paisagens distantes. Já não podemos voltar atrás, a uma qualquer idade mítica de uma indizível dureza a que hoje já não temos acesso, mas que continua a povoar o imaginário de alguém que, da terra, não percebe o desprendimento humano e a invenção das cidades como um produto biológico, enquadrado na longa linha evolutiva da vida.
Cidade Infinita
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
terça-feira, 19 de novembro de 2024
Cadernos-método
[Lugares livres 40] Os cadernos são a principal ferramenta metodológica deste trabalho. A mão que escreve sintonizada com o pensamento. Notações, textos, projetos, desenhos, aritmética, apontamentos para trabalhos futuros. Fixação da celeridade de uma ideia esquiva. São também a recusa de um mundo apenas digital. É a mão que escreve, que toca a textura do papel, que seleciona riscadores, canetas, pigmentos. Ensaio de desenhos, caligrafias, relação de pensamentos dispersos, sínteses de tempo e de posição face ao entendimento dos processos criativos, da arquitetura como conceito de habitar, da vida que se ergue da matéria e energia. Retrato possível de uma árvore no Universo.
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Exposição
[Lugares livres 39] Viseu Território Natureza foi uma exposição sobre o mapeamento fotográfico de lugares menos marcados pelo povoamento humano na área geográfica do município de Viseu. São espaços simultaneamente próximos e distantes. Próximos por lhes chegamos numa viagem breve, a partir do centro da cidade. Distantes porque parecem revelar-nos dimensões de uma Natureza intacta, primordial, cada vez mais difícil de encontrar. Nos lugares menos marcados pelo Antropoceno estabelecemos pontes com um mundo arcaico que parece guardar a sedução de um espaço de origem. Uma infância coletiva reencontrada.
Exposição Viseu território natureza, Quinta da Cruz - Centro de Arte Contemporânea, Viseu, 2023
domingo, 17 de novembro de 2024
Contradição
[Lugares livres 38] Permanecem as reminiscências de uma certa condição animal. A pobreza, a escravatura da terra, a consciência de uma imensa contradição, enclausuramento em relação a um mundo, tão diferente, que nos entra pelos olhos dentro, através, sobretudo, da televisão, novelas, noticiários que semeiam o medo, os jovens que se isolam na Internet, como que a negar o tempo e o espaço em que vivem, a cortarem as amarras com o mundo dos seus pais e mais ainda dos seus avós, é a desintegração das comunidades que os viram nascer. Este é um retrato, de algum modo, cru, mas há outras faces desta realidade. Há uma sedutora dimensão poética em tudo isto, nostálgica, poderosa, entrópica.
sábado, 16 de novembro de 2024
O futuro continua
[Lugares livres 37] O turismo é uma realidade evidente e os lugares que não são por si objeto de interesse, assumem-se na continuidade de um lento processo de constante mudança. Há uma derrota que representa a mudança de sistema económico. O futuro continuará a ser rigorosamente imprevisível, mas a geração, da pobreza e da subsistência remediada, está a desaparecer. Altera-se o valor económico da posse e do trabalho na terra. Os campos abandonados são uma imagem dessa realidade.
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Perversidade
[Lugares livres 36] A agricultura era um polo agregador de toda uma dinâmica social para a qual olhamos, muitas vezes com saudade, mas que não deixava de conter no seu seio perversidades e jogos de poder muito desiguais. Todos os tempos têm as suas contradições e estas tendem a agudizar-se com a complexificação das sociedades e dos espaços que elas desenvolvem. Com o declínio agrícola, observamos o fim do sentido de uma arquitetura popular, imagem de pobreza e fome, mas que, contraditoriamente, deu origem a paisagens humanas equilibradas. Foi como se tivéssemos atingido um ponto de equilíbrio, antes de nos precipitarmos na desordem.
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Desarranjo
[Lugares livres 35] Mas talvez o facto da cidade de Viseu ser bem estruturada faça acentuar o contraste em relação às aldeias envolventes onde, em muitos casos reina um certo desarranjo, ou a desfragmentação espacial. Creio que nunca foi tão evidente um progressivo abandono das terras, dos campos, ao mesmo tempo que a cidade não pára de crescer, mesmo que esse crescimento tenha desacelerado, em tempos recentes, devido à crise económica duradoura que continuamos a viver.