terça-feira, 28 de abril de 2015

Documentos criativos

[Jesus Cristo 30] Estes documentos criativos oferecem a quem sobre eles se debruçar, como que um labirinto mitológico, tal a sua proliferação e variações na forma. O seu desenho é seguramente, anterior à eclosão dos meios de divulgação em massa, como a imprensa periódica escrita, com a reprodução de imagens, não havia ainda uma imagem que se replicava, um estereótipo iconográfico definidor da imagem de Jesus Cristo, que mais tarde se viria a verificar. Mas mesmo que existisse essa proliferação da imagem impressa, a sua penetração nos meios rurais onde se encontram estas esculturas, seria certamente muito débil. Encontramos assim uma imagem pouco homogénea, proveniente de um imaginário difuso.
Marialva. Meda, Guarda. 26.09.2003

Ribeira de Nisa. Portalegre. 02.04.2002

Podame. Monção, Viana do Castelo. 01.07.2002

São Gregório. Melgaço, Viana do Castelo. 03.07.2002

Lapa, Pias. Monção, Viana do Castelo. 03.07.2002

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Desabamento

[Jesus Cristo 29] Há uma reflexão sobre o humano que se impõe, talvez mais hoje do que nunca. Parece estarmos na eminência de um inevitável desabamento. Se o desenvolvimento desenfreado continuar ao ritmo crescente que se tem verificado, somos ameaçados por um colapso da insustentabilidade das nossas vidas. Se a crise se agudiza podemos precipitar-nos no abismo da fome e da morte. Deseja-se um ponto de equilíbrio em que o ser humano, despojado, saiba habitar este planeta de esplendor de vida. Estas esculturas convocam o olhar e a reflexão sobre uma humanidade comum, sem fronteiras, sem distinções entre si.
Cruzeiro de S. Pedro, Alcains. Castelo Branco. 24.03.2003

Escalos de Cima. Castelo Branco. 24.03.2003

Santuário de São Salvador do Mundo, Alto das Macieiras. São Salvador de Viveiro, Boticas, Vila Real. 31.05.2003




domingo, 26 de abril de 2015

Falência

[Jesus Cristo 28] Vivemos um tempo de mudança célere, em que as dimensões económicas da vida social se parecem sobrepor a todos os outros aspetos. Há modelos de subsistência do passado que parece terem chegado ao fim. Estamos, sempre estivemos, frente ao impasse de desconhecimento do futuro muito próximo. Novos tempos se avizinham com uma sociedade que terá de ser muito mais activa face à eminente falência do conceito de  Estado como motor do desenvolvimento económico.
Porto Bom, Boivães. Ponte da Barca, Viana do Castelo. 04.09.2002

Segura. Idanha-a-Nova, Castelo Branco. 12.03.2003

Alcains. Castelo Branco. 24.03.2003





sexta-feira, 24 de abril de 2015

Mestres perdidos

[Jesus Cristo 27] A história e a teoria da arte, aplicadas a estas peças escultóricas representando Jesus, poderiam conduzir-nos a mais diversificadas e densas linhas de pensamento, poderíamos, talvez, seguir mestres escultores na sua intervenção em diferentes lugares, mais ou menos próximos, poderíamos definir uma estética comum a diversos autores, poderíamos precisar, com rigor, as datas de elaboração das esculturas e relacioná-las com a cultura erudita de então. Certamente de a existência de centenas destas peças não apenas em Portugal, mas também em Espanha e em todo o mundo cristão, dificultaria uma tarefa que se tornaria ciclópica.
Fontoura. Valença, Viana do Castelo. 26.06.2002

Cristoval. Melgaço, Viana do Castelo. 03.07.2002

Vila Nova de Muía. Ponte da Barca, Viana do Castelo. 02.09.2002




terça-feira, 21 de abril de 2015

Rocha

[Jesus Cristo 26] De uma pedreira, mais ou menos distante, alguém terá extraído fragmentos de rocha para neles esculpir uma imagem de Jesus. São matéria que vem de uma longa viagem, quase certamente anterior à formação de vida complexa, e extremamente diversificada, tal como hoje a conhecemos. Pura matéria cósmica, singelo pedaço de Universo, condensado em homem. Retrato de si próprio, homenagem a uma edificação estranha e inquitante, que cada vez mais se vai emaranhando no rio caudaloso de um conhecimento sempre mais vasto, quanto mais fugidio e apreensivel, raiando a abstração destruidora.
Meixedo. Viana do Castelo. 18.06.2002

Riba de Âncora. Caminha, Viana do Castelo. 20.06.2002

Nogueira. Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo. 26.06.2002




segunda-feira, 20 de abril de 2015

Quartzo, feldspato e mica

[Jesus Cristo 25] Muitas abordagens se poderiam fazer destas esculturas num entendimento do conhecimento cada vez mais especializado. A matéria com que foram feitas quase todas estas peças é o granito, uma rocha ígnea, aqui de grão fino, composta por quartzo, feldspato e mica, em quantidades mais reduzidas, contendo ainda vestígios de outros minerais de presença residual. Estas rochas são formadas, ou transformadas de forma a não deixarem vestígios do que antes tinham sido, num subsolo profundo e aí derretidas. Aqui é recombinada toda a sua estrutura mineral e quaisquer vestígios, de fossilização de seres vivos, por exemplo, são eliminados. Encontram-se à superfície terrestre depois de movimentos tectónicos e de processos erosivos de milhões de anos.
Cabeço de Vide. Fronteira, Portalegre. 01.04.2002

Guarda. 12.05.2002

Nogueira. Viana do Castelo. 18.06.2002




domingo, 19 de abril de 2015

E agora?

[arquivar 31] Quando olhamos para fotografias feitas há mais de trinta anos constatamos que um enorme caudal de espaço e tempo aconteceu. Tudo mudou, tudo se transformou na mais absoluta imprevisibilidade. Mas que lugares são estes agora? Onde nos conduzem? (Esta é a última publicação relativa à série arquivar).

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Negar o retrato

[Jesus Cristo 24] Esta é uma negação do retrato fotográfico que mostra a face de todos os homens e mulheres, não apenas de um presente esquivo, mas dos mais recentes milénios de uma marcha de séculos, de milénios. Poderíamos também pensar que é um olhar próprio do Ocidente, a síntese de todo o seu processo histórico dos últimos dois mil anos. Não. Certamente que outros existirão, mas este é um retrato humano que não tem fronteiras definidas, é um retrato cósmico do humano que, simultaneamente, nos mostra a vida e a morte condensadas sob um céu estrelado e frio, sob um sol abrasador, todos os tempos, todos os lugares. Nestas imagens desenhámos um ponto de equilíbrio, daqui olhámos o futuro e o passado. O tempo está a passar, que mais nos poderá mostrar Jesus?
 
Pedrosa, Correlhã. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 21.08.2001

São Brás de Alportel. Faro. 18.10.2001

Alpalhão. Nisa, Portalegre. 30.03.2002




quarta-feira, 15 de abril de 2015

Razão objetiva esquiva

[arquivar 30] Num conjunto vasto de fotografias procuramos formas de organização que nos permitam localizar todas e cada uma delas. Encontramos um mundo que se abre e se transforma, que se torna mais esquivo ao mesmo tempo que parece chegarmos próximo de alguma razão objetiva, algum dado concreto, quase como que um princípio definitivo e imutável. Mas nada disso parece existir.



Perplexidade e medo

[Jesus Cristo 23] A face de Jesus é o rosto de todos nós, ou uma cosmogonia de ser humano, é perplexidade e medo perante o desconhecido, o fascínio exacerbado perante a Natureza e o próprio humano, que todos os dias se descobre e se revela, se oculta, se esconde. É olhar as cidades como o lugar de espanto, derradeiro atual ponto de um caminhar humano, da permanente construção de uma paisagem nova. Talvez mais do que um ser divino, esta é, na sua imensa diversidade, a representação possível de nós próprios.
Santa Maria de Rebordãos. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 21.08.2001

Real de Baixo, Refoios do Lima. Ponte de Lima, Viana do Castelo. 25.08.2001

Codeçais, Pereiros. Carrazeda de Ansiães, Bragança. 05.07.2003






sábado, 11 de abril de 2015

Reinterpretação acutilante

[arquivar 29] Na vivência de um arquivo há a procura de conhecimento e de devir, como se o conhecimento do passado nos transportasse para a leitura antecipada do futuro. Talvez cheguemos à conclusão que é apenas o passado que estamos a transformar, a reinterpretar com um olhar mais acutilante.


Condição diluente

[Jesus Cristo 22] Que rosto encontramos na face de Jesus? Num olhar múltiplo, encontramos o humano em toda a sua complexidade e indeterminação, encontramos uma condição, que dilui, funde, todos os sentimentos: a angústia, a serenidade, a resignação, a paz, a alegria, o sofrimento, a ânsia de liberdade, a impossibilidade das lutas efémeras, os jogos de sobrevivência, a esperança, o desejo de compreensão de uma totalidade, de uma integração cósmica.
Santuário de Nossa Senhora da Portela, Tamel, São Pedro de Fins. Barcelos, Braga. 19.09.2001

Ponte da Barca. Viana do Castelo. 25.08.2001

Sobre a Fonte, Sedielos. Peso da Régua, Vila Real. 10.06.2003




quinta-feira, 9 de abril de 2015

Encontrar o que não procuramos

[arquivar 28] Uma das questões mais apelativas de um arquivo fotográfico extenso é a ideia de infinito, dos cada vez mais divergentes caminhos que se vão encontrando. Procuramos uma determinada imagem e encontramos outra, ou outras, que nos abrem a porta a novos caminhos, novos projetos de trabalho. O processo é ilimitado como se se regesse pelas próprias leis, indeterminadas, da evolução biológica. Há uma constante adaptação a um mundo sempre em mutação.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Valores coligidos

[Jesus Cristo 21] Jesus Cristo é um conceito que veicula uma série de valores coligidos, que emergem dispersos, de um mundo de trevas que avançam à medida que se desmembra o império romano e toda a sua organização social. Há uma ética que emerge da sombra que levará séculos para se disseminar por todo o Ocidente. Mas esse olhar estava lançado. Nestas representações encontramos esse desejo, de alguém que nos observa, como se nos fosse estranho ao mundo humano que habitamos, alguém cujo sofrimento desenhado no rosto, reflete, já não uma ideia moral específica, mas uma condição de habitar um planeta em movimento.
Castelo Branco. 02.03.2000

Braga. 22.05.2001

São Martinho de Antas. Sabrosa, Vila Real. 18.07.2001


terça-feira, 7 de abril de 2015

A permanência da luz

[arquivar 27] Um arquivo torna-se mais complexo ser for vivo, se estivermos permanentemente a acrescentar informação decorrente de trabalhos em curso. Deixa, então, de ser um arquivo de memórias, para se tornar numa entidade quase com vida própria. As fotografias recentes vão alterar o significado das que pertencem a um passado mais remoto.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

A vertigem da perda

[Jesus Cristo 20] Há palavras que se atropelam na impossibilidade de acompanharem o raciocínio, entra-se na vertigem da perda e do limite possível da comunicação. Mas vai ficar uma presença latente, a que mais tarde, possivelmente muito mais tarde, noutro contexto de espaço e tempo, podemos regressar, negando a impossibilidade de comunicar, de expressar por palavras. O discurso verbal é a construção quotidiana de uma luta sem tréguas. Que aí se justifique a razão do pensamento.
Póvoa. Miranda do Douro, Bragança. 08.09.2001

Cervães. Vila Verde, Braga. 18.09.2001

Penso. Melgaço, Viana do Castelo. 02.07.2002




domingo, 5 de abril de 2015

Monstro latente

[arquivar 26] O contacto continuado com o nosso passado, através das leituras sucessivas de um arquivo fotográfico onde estão praticamente todos os factos importantes que nos definiram, tem também, creio, a virtude de 'domarmos' esse passado, eventualmente, irrequieto e sensível. Relativizar os melhores e os piores momentos das nossas vidas. Entendemos, está ali expresso nas imagens, o significado do tempo que passou. Esta demora dá-nos a oportunidade de olhar de frente os 'monstros', as latências, que povoam uma parte do nosso imaginário, contaminado de realidade, e de os tranquilizarmos. Liberdade para o futuro.