segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Um oceano inexistente

[regressar onde 08] Em 2011 regresso ao curso terminal do Côa. No fundo do vale tudo parece permanecer numa dimensão atemporal. Talvez a maior diferença em relação ao ano de 1995 seja um acentuado crescimento das árvores que agora assumem uma presença mais significativa criando uma cortina visual. O silêncio é apenas quebrado pelas aves, pelo vento nas folhas, pelos insetos, pelo marulhar do rio que agora, verão, está com o caudal muito baixo, depois de um inverno e primavera de pouca precipitação. À noite, como que nas vagas de um oceano inexistente, o coaxar das rãs faz-se ouvir com intensidade descontinuada. Este era o reencontro com a força telúrica de um vale, com o carácter de uma paisagem que motivou, há dezenas de milhares de anos, a fixação de comunidades humanas que aqui deixaram uma mensagem para o futuro. Foi a perenidade dos traços deixados nas rochas. Estava agora, de novo, no coração desse sítio, na proximidade dos mais significativos conjuntos de gravuras do vale. O voltar a estes lugares revela também alterações na paisagem. Há mudanças que escapam na leitura dos espaços que percorremos. Há um dinamismo que esconde uma vertigem temporal a que muitas vezes não somos sensíveis. Há algo de imparável na Natureza que vai além de algumas morfologias, da erosão, do coberto vegetal.

dd170-22 - Ribeira de Piscos, Vila Nova de Foz Côa. 1996

dd192-14 - Ribeira de Piscos, Vila Nova de Foz Côa. 1996

na0284-03 - Penascosa, Vila Nova de Foz Côa. 1995

1 comentário:

  1. E como vai a vinha que não morreu com a barragem do Côa, e assim impediu que se fizesse a unica barragem de albufeira que existiria em toda a bacia hidrográfica do Douro ?
    Ah,as gravuras,só descobertas durante as obras... E vivam os arqueólogos,sempre com a medalha de prata do segundo lugar...

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