terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Faltar sem falhar

[arquivo cidade 050] Há “uma” imagem que não ficou registada. É essa ausência que nos “puxa” para o regresso ao campo, para então repararmos em detalhes que antes não observáramos. As fotografias são uma dança, um movimento performativo sobre o real, liberdade, imersão num espaço-tempo singular, o diálogo com o mundo visível, formal, reflexos de luz e sombra.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O transporte do espaço

[arquivo cidade 049] As investigações fotográficas, os trabalhos extensivos sobre a imagem dos territórios, criam um corpus de informação com potencial estratégico para ser transformado em conhecimento estruturado. Há o “transporte” de uma realidade espácio-temporal vivida, complexa, tridimensional, para o espaço delimitado da representação bidimensional. O “poder” dessas fotografias não reside no seu valor individual, mas no conjunto que representam. Neste conjunto podemos estabelecer relações topológicas que ligam o sentido dos lugares, uma das maiores seduções num trabalho tendencialmente exaustivo de levantamento fotográfico. Depois de selecionar e de excluir fragmentos de realidade, de construir um discurso, em continuidade, a partir de centenas, milhares e milhares de imagens. As fotografias são unidades de significação, propostas para o entendimento do mundo.

Evoluir em dúvida

[arquivo cidade 048] Por vezes parece estarmos perto de uma ideia que esclarece uma dúvida difusa que perseguíamos ou que liga conceitos aparentemente díspares. Noutras vezes esse pensamento desvanece-se ou evolui simplesmente para dúvidas mais densas. Seguimos intuições que falham mas há um momento em que damos um passo em frente, em que algo se torna mais claro. Partimos para outras “batalhas”, para outras materializações do pensamento. Adaptação e sobrevivência, sem moral determinada, sem sentido definido. Um pouco como a arquitetura popular tradicional, construímos formas, reais e imaginárias, que um dia serão obsoletas.

domingo, 29 de janeiro de 2017

O passo do conhecimento da terra

[arquivo cidade 047] A terra é um labirinto e a forma de captarmos as suas dimensões não terá outra alternativa que não seja a de percorrermos os seus lugares. O que procuramos nesta busca árdua? Há aspetos individuais que se prendem com a consciência de identidade e posição de nós próprios, a procura da liberdade ou do sentido que a nossa vida pode ter. Mas há também aspetos coletivos conexos, como a identificação da comunidade a que pertencemos e o diálogo com a expressão da sua cultura. Talvez estas sejam apenas formas de procurar a sobrevivência num processo, em que há algo que nos escapa permanentemente.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Labirinto, tempo, fratal

[arquivo cidade 046] Numa experiência de levantamento fotográfico recente, desenvolvida em Viseu, em 2015, apontava, numa estimativa inicial, para o registo de cerca de 40 a 50 aldeias, além de toda a cidade. Ao fim de 33 dias de campo, que se estenderam ao longo de 4 meses de trabalho, foram registadas 240 aldeias, num total superior a 400 lugares. Quando pensamos que um determinado território está relativamente bem coberto, em termos de registo de imagem, deparamo-nos com o que poderíamos descrever como uma dimensão fratal das paisagens, sensação essa que é exponencialmente acentuada pela passagem do tempo, que muito transfigura os sítios, mesmo aqueles onde é pouco notada a intervenção humana
Parque do Fontelo, Viseu. 2015

Parque do Fontelo, Viseu. 2015

Fontes

[arquivo cidade 045] Este trabalho partiu do objetivo de produzir um mapeamento fotográfico de um território delimitado, no extremo poente de Castelo Branco. A materialização do projeto consistiu na apresentação pública do trabalho desenvolvido no campo junto de uma das comunidades visadas e na realização de uma exposição. A pesquisa que precedeu o trabalho no terreno foi feita na Carta Militar de Portugal, escala 1/25.000, série M 888, do Instituto Geográfico do Exército, bem como na consulta de fotografias aéreas disponibilizadas no Google Earth e no Google Maps.
Há uma base transversal e sempre presente num olhar sobre Portugal: a obra de Orlando Ribeiro e de um modo de fazer geografia por si fundado. Também a escola etnográfica de Jorge Dias, Ernesto Veiga de Oliveira, Benjamim Pereira, entre outros, é uma referência sobre a ruralidade. O inquérito à arquitetura Popular Portuguesa é outra obra incontornável.
De referir ainda o recurso a fontes bibliográficas díspares que, de algum modo, contribuem de forma ativa para a construção de um olhar e de uma reflexão sobre o espaço entendido de uma forma lata.
Não poderá deixar de ser aqui assinalado que este trabalho é a continuidade de cerca de 30 anos de recolhas fotográficas, de mais de 10.000 povoações fotografadas em espaço português, 1.200.000 fotografias feitas e referenciadas, 700.000 quilómetros percorridos.

Ribeira do Alvito, Sesmo, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Limite do viajar

[arquivo cidade 044] Estes trabalhos questionam o sentido do viajar, do registo fotográfico, do entendimento da terra, de “toda a terra”. Há um limite de registo que nunca se alcança, persistem sempre enormes descontinuidades nessa aproximação, como que a ideia de um mapa à própria escala do território, como escreveu Jorge Luis Borges. Uma realidade que nos escapa. Projetos expositivos recentes como Procurar um País - trinta anos em viagem, apresentado em Coimbra, Mundo Português, em Viseu, ou O arquivo como cidade, primeiro sob a forma de conferência no ISCTE, depois o conjunto das imagens foi mostrado na Golegã, são a procura de uma síntese, de uma caracterização dos territórios na sua imensa diversidade, modos de comunicar uma reflexão sobre Portugal, expor informação, suscitar conhecimento.
Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Garalhós

[arquivo cidade 043] Antes de partir daquelas paisagens da Lisga procuramos Garalhós, uma pequena aldeia de Oleiros a cerca de duzentos metros do limite do concelho de Castelo Branco. Percorremos estradas que serpenteiam entre pinhais, em horizontes ocultos. Seguimos uma indicação para virar à esquerda. Entramos num estradão. Chegamos ao ponto mais elevado da pequena aldeia. Completamente abandonada. O lugar não é habitado por quem quer que seja em permanência. O último habitante da aldeia morrera em 1984 e nesse momento já não se encontrava em Garalhós. Em 2003 um incêndio florestal destruiu completamente o que então restava da povoação. Uma parte das casas está hoje recuperada. É como se uma força poderosa lutasse com tenacidade contra o desaparecimento de um lugar. Esta é uma imagem possível deste mundo, a recusa do fim, o apelo da terra, como se na sabedoria do diálogo com a natureza estivesse a única chave possível para o entendimento da vida, a sobrevivência da luta tranquila pela permanência, a compreensão dos gestos que nos ergueram humanos ao longo de centenas de milhares de anos.
Garalhós, Oleiros, Castelo Branco. 2016

Garalhós, Oleiros, Castelo Branco. 2016

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Guardar paisagens

[arquivo cidade 042] Reserva de lugar pode ser o que encontramos no vale da ribeira da Lisga. Num avanço da intervenção humana por todo o território, do desenho, técnico, de todos os espaços, são estes territórios mais escondidos que vão guardar micro paisagens. Aqui se criam estratos geológicos que contam a passagem do tempo e a história da ocupação do espaço ao longo dos séculos. Sedimentos civilizacionais que poderão ser eventualmente encontrados daqui a milhares de anos.
Lisga, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Serpentes

[arquivo cidade 041] Hoje, Portugal tem uma rede de estradas qualificada. As auto estradas parecem-se com os componentes de um computador onde a informação circula a velocidades luminosas. Uma imagem relativamente homogénea e equilibrada, no jogo de forças entre o povoamento humano e a natureza, mostrou-nos, no passado, um país onde a arquitetura popular era a face dessa realidade aparentemente eterna. Atualmente lemos um país com enormes cicatrizes deixadas no solo, a par de construções recentes, do desejo de povoar, de desenhar. A arquitetura popular foi abandonada. A Lisga é um lugar que se sente afastado, mas que acaba por estar em ligação com tudo. As estradas são hoje linhas de fuga e de aproximação, de visitas breves, serpentes, muito mais do que artérias de vida entre comunidades vizinhas ou afastadas. São os territórios onde nunca estamos, que se escondem em recantos insuspeitos.
 
Lisga, prox. Sarzedas, Castelo Branco. 2016
 

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Tabuleiro de tensões

[arquivo cidade 040] Muito mais do que em qualquer outro período no passado, o mundo rural é hoje um tabuleiro onde se jogam tensões de enorme complexidade. As cidades polarizam regiões cada vez mais vastas. A globalização vai invadindo territórios que não estão minimamente preparados para a receber. Há, na procura das cidades, um desagregar de estruturas sociais longamente maturadas. Os trabalhos árduos do campo não serão, quase nunca, substituídos por mundos fáceis e coloridos muitas vezes são veiculados pela televisão, pela internet dos mais jovens. Há uma dureza oculta na periferia cinza das urbes maiores, silêncios que escondem dor e sofrimento. Nenhuma revolução nos livrou ainda da luta quotidiana pela sobrevivência.
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Construtores

[arquivo cidade 039] As ruínas no interior das aldeias são cicatrizes insanáveis de um modo de construir que deixou de fazer sentido. Os artífices dessas obras também desapareceram, eram os construtores de uma arquitetura de aparência rude a par de pormenores de elevado refinamento no seu desenho. Agora são lugares de impasse e de solidão. Isolamento e, por oposição, indiretamente, a afirmação das cidades como polos de agregação de populações que para elas convergem de diferentes territórios.
Lisga, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

domingo, 22 de janeiro de 2017

Pedras, lama e geada

[arquivo cidade 038] Mas não deixa, contudo, de haver algo de muito sedutor neste processo de transformação do solo, quanto mais não seja o desejo de o entender. O conhecimento é construído com a vivência do terreno, com o caminhar sobre um solo pedregoso, lamacento ou coberto de geada. Na terra poderemos encontrar um olhar renovado, a compreensão de gestos do passado, mesmo aqueles que poderão ter sido vividos por quem há séculos desapareceu. Há um caminhar humano que permanece por longos anos plasmado nestes horizontes. Estas fotografias buscam também esse tempo, essa memória. Procurar o tempo longo da cisão da passagem de uma condição animal para o dealbar da humanidade. Dificilmente uma bibliografia transmite uma vivência concreta, mesmo o cinema tem limitações. As fotografias aqui apresentadas são um movimento que procura a representação do desejo de captura das dimensões da terra e do tempo breve do seu habitar. Andamos, lentos, sobre um reino de silêncio, de sentidos despertos, de aproximação à força dos elementos basilares que compõem a natureza intacta ou o ambiente habitado.
Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

sábado, 21 de janeiro de 2017

Libertação da terra

[arquivo cidade 037] O abandono da “prisão” da terra é uma realidade que poderá ser difícil de interpretar à luz de conceitos contemporâneos. E estamos tão próximos desse passado. Aquele espaço teria que ser vivenciado noutro tempo, durante os invernos duros e os verões tórridos. Quem habita as aldeias não tem dúvidas nem hesitações sobre o porquê do fim das mãos no arado. Foram tempos e rituais que se deixaram para trás, que levaram muita gente para as cidades, para as suas cinturas periféricas. Nos povoados de origem deixaram, indeléveis, memórias fortes, mas, ainda assim, a recusa de um regresso. 
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Os caminhos que partem do último lugar

[arquivo cidade 036] O “fim” da arquitetura popular tradicional poderia ser interpretado como uma derrota. Não há perdedores, há um movimento civilizacional imparável. É um ciclo de habitar que chega ao fim, que deixa no solo as ruínas do seu “esplendor” passado. Foram desenvolvidas soluções arquitetónicas de grande equilíbrio e qualidade de desenho. Eram formas que respondiam a problemas concretos, saídas para necessidades prementes, muitas vezes de sobrevivência. O Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal, coordenado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, então presidente do Sindicato Nacional dos Arquitetos, é um tributo a esse mundo. É um registo feito entre 1955 e 1960 que capta uma civilização à beira do seu colapso. Legitima uma fonte de inspiração e de liberdade para o modernismo arquitetónico que, tardiamente, despontava de forma generalizada em Portugal e que procurava a sua internacionalização. Era como se a própria arquitetura tradicional aguardasse esta passagem de mensagem e de testemunho para implodir. 
Ficalho, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Segundo revés

[arquivo cidade 035] Hoje, este mundo afastado das maiores cidades continua o seu processo evolutivo com um outro revés. As casas que foram construídas pelos emigrantes destinavam-se também a acolher os filhos e os netos. Mas os jovens integraram-se nas comunidades de acolhimento, estudaram e, no início da vida adulta, iniciaram a vida laboral. O passo seguinte seria a constituição de família. O regresso à terra dos pais, em Portugal, deixava de se perspetivar. No tempo da reforma da atividade profissional, a primeira geração de emigrantes volta aos seus lugares de origem, mas, em muitos, casos, não será por muito tempo. A permanência de filhos e netos nos países estrangeiros leva a que estes homens e mulheres voltem para junto dos mesmos. As aldeias apresentam agora dois níveis de abandono. O das casas pequenas, mais antigas, quase sempre construídas com métodos tradicionais, e as casas grandes, mais recentes. Este fenómeno não é uniforme em todo o país, apresentando mesmo algumas diferenciações assinaláveis. O Minho e o Alentejo são um pouco uma exceção a esta leitura, mas correspondem a territórios que não deixaram de ser também transformados em direções opostas: o Minho numa exuberância significativa de muitas das suas formas construídas versus o Alentejo num conservadorismo evidente, em contraste com uma vanguarda ideológica de oposição ao regime do Estado Novo, na incessantemente procurada reforma agrária. Há ainda casos pontuais, um pouco por todo o país, de resistência ou declínio mais acentuado desta imagem geral que caracteriza o mundo rural. Algumas destas diferenças constituem casos de estudo muito interessantes.
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Pobreza

[arquivo cidade 034] Com o amealhar de poupanças, a primeira geração de emigrantes começa a construir novas habitações. Novos materiais e áreas muito mais generosas levam a que se abra o perímetro das aldeias. O seu antigo núcleo rural é, em parte, desabitado. As relações sociais, muito relacionadas com rituais associados aos ciclos das plantações e colheitas, também se alteram. As novas casas grande construídas por quem fora procurara alguma riqueza, de desenho quase sempre pobre e uniforme nas suas soluções arquitetónicas, simbolizam o sucesso na vida face à pobreza em que permaneciam as populações que haviam decidido ficar.
 
Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016
 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Tempo longo delimitado

[arquivo cidade 033] Historicamente, a maior densidade populacional de todo o espaço português, com a exclusão das cidades, dá-se em meados do século passado. Um regime opressor governava um país fechado ao exterior. A grande maioria dos solos era, e é, pobre e em parcelas de pequenas dimensões, mas sempre se procuraram novos campos para cultivar à medida que as famílias cresciam. A fome surda, ou o seu limiar, estimulou o “salto”. Em meados dos anos sessenta o regime começou a apresentar fragilidades. A uma vigilância menos apertada da fronteira com Espanha não será alheia a participação portuguesa nas guerras que, entretanto, eclodiram nos territórios ultramarinos de expressão portuguesa, concentrando em si um enorme esforço administrativo e militar. Há um esvaziar parcial dos campos. Simultaneamente, aumentam consideravelmente as migrações internas com destino às cidades, particularmente Lisboa e a sua área limítrofe, onde se procura trabalho e o afastamento da dureza das lides da agricultura, dos pés na terra e as mãos no arado ou na sachola. Este movimento populacional tem como consequência, não só o abandono dos campos, mas, sobretudo, de muitas casas. O declínio não mais será travado.
 
Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016
 
 
 

domingo, 15 de janeiro de 2017

Um lugar em processo

[arquivo cidade 032] A arquitetura popular tradicional teve um lugar próprio na história do povoamento do espaço português. O período do seu desenvolvimento é necessariamente limitado. A sua evolução foi lenta, mas terá durado vários séculos. Agarra as suas raízes, talvez, ao período castrejo, quando se erguiam cividades no alto dos montes. O uso dos metais e da mineração irá proporcionar poderosas ferramentas evolutivas. Daí até meados do século xx, os processos construtivos pouco evoluíram em espaço rural. O grande salto dá-se com o uso generalizado do cimento. Betão armado, ferro, tijolo, vidro e, mais tarde, o alumínio.
Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

sábado, 14 de janeiro de 2017

O “caroço”

[arquivo cidade 031] Olhamos para um pequeno núcleo de casas abandonadas no centro da aldeia da Lisga. Também poderíamos observar a sua antiga ponte de pedra, os socalcos agrícolas, os muros de contenção de terras, as ruínas de azenhas ao longo da ribeira, ou os numerosos caminhos. Nestes elementos podemos ler uma parte do processo civilizacional que nos conduziu ao presente, como se ali estivesse representada a história de séculos do caminhar humano, entre derrotas e vitórias.
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Alguns números e datas

[arquivo cidade 030] Este levantamento fotográfico decorreu nos dias 2 a 4 de outubro e, mais tarde, no dia 22 do mesmo mês, período em que choveu praticamente durante todo o dia. O objetivo deste trabalho consistiu na caracterização daquele espaço pela imagem fotográfica, um registo livre de paisagem e de povoamento humano. Foram feitas 6.604 fotografias nos primeiros três dias e 2.007 fotografias no dia 22. No total, foram captadas 8.611 imagens. Na preparação da exposição, o passo seguinte foi proceder a uma primeira seleção de fotografias. Do número total, foram destacadas 2.834 fotografias. Num segundo nível, reduziu-se aquele número para 1745. No terceiro e último passo, foram editadas, convertidas do formato original, RAW, para TIFF, 624 fotografias. Seguiu-se a estruturação da exposição. Definiram-se 11 grupos de imagens: Lisga; Sesmo; Pomar; Sesminho; arquitetura; caminhos; rural; natureza; ruína; fragmentos; Sarzedas. Procurou-se criar uma narrativa, pôr em diálogo os vários conjuntos de imagens que caracterizavam a região.
Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga Velha, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga Velha, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Resiliência

[arquivo cidade 029] “A sombra do Moradal” é este território próximo daquela serra, são as terras de xisto vizinhas dos horizontes planos de Castelo Branco, mas onde os solos de xisto são enrugados e pobres. São hoje paisagens em processo de desertificação humana, pontuadas por casos de resiliência. Alguns desses exemplos são obras de arquitetura tradicional muito interessantes, mas dominadas atualmente pela imagem de abandono. Campos agrícolas, parcelas conquistadas à floresta e ao mato, outrora trabalhados, são hoje as ruínas que revelam um “esplendor” passado e perdido.
Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Gratidão na sombra

[arquivo cidade 028] Fica um agradecimento muito especial a Carlos Semedo, programador e coordenador de produção das residências artísticas promovidas pelo município de Castelo Branco, a quem devo o convite para conhecer e trabalhar sobre tão singular território e, sobretudo, as conversas tidas que muito contribuíram para o olhar que se apresenta nestas imagens. Não poderei também deixar de agradecer a Celeste Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia de Sarzedas, a forma como mobilizou a população da sua freguesia e tornou possível o tão bom acolhimento deste projeto. A ambos a minha gratidão por uma das experiências mais intensas e significativas desta caminhada de várias décadas entre paisagens e fotografias.

Ribeira da Lisga, Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Ribeira do Alvito, Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Suspeitar

[arquivo cidade 027] A confirmação das suspeitas que levanta este trabalho de fotografia do território, particularmente, como neste caso, em que há o regresso várias vezes aos mesmos lugares, em dias consecutivos, ou com o intervalo de poucas semanas. na conversa com os habitantes da Lisga, quase todos manifestam alguma apreensão sobre alguém que por ali andou a fotografar em dias consecutivos. Em encontros ocasionais, nesses dias de recolha fotográfica, sempre é deixado clara a natureza e os objetivos deste trabalho. mas quem observa ao longe este labor desconfia de alguém que por ali anda, por terras que raramente recebem a visita de quem vem de fora.
Sesminho, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma conversa

[arquivo cidade 026] No dia 28 de outubro de 2016 sou convidado para ir apresentar o trabalho desenvolvido à aldeia da Lisga. Levo comigo um documento preparado com as fotografias da exposição que acabava de ser montada em Sarzedas. Provavelmente esta população envelhecida e com pouca capacidade de transporte, não se deslocará a Sarzedas, até ao final do ano. Depois de uma breve apresentação do trabalho, feita por Carlos Semedo, promotor do evento, e pela presidente da Junta de Freguesia de Sarzedas, Celeste Rodrigues, avanço para a projeção das imagens. Nunca no passado tivera a oportunidade de falar com uma população que nada tem de próximo com este género de registo. O ruído das conversas e comentários alterna com o silêncio. Vou avançando com a projeção e os comentários pontuais às imagens. Da apreensão inicial, pela especificidade do público, rapidamente me apercebo que há uma identificação com as imagens, com os lugares que elas representam. Há o reconhecimento da terra por alguém que vem de fora e se fixa em fatores aparentemente insignificantes, mas que dizem muito àquela população. De uma forma inesperada, encontro no olhar e nas palavras daquelas pessoas, algo do sentido mais profundo do que eu próprio procuro no meu trabalho: a representação da terra, a identificação e o reconhecimento dos lugares, a materialização de uma “geografia” própria, a convicção de que o conhecimento dos lugares e das formas sábias da sua sobrevivência são elementos chave para o desenho de uma mundo mais qualificado, informado e livre. Fotografias que tentam captar a estrutura e a face dos lugares, das povoações e das paisagens.
Ribeira do Alvito, Sesmo, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

sábado, 7 de janeiro de 2017

Sarzedas

[arquivo cidade 025] Sarzedas é uma vila que já fica de fora do espaço que se tomou como referência de trabalho, mas o facto de ali se realizar a exposição, levou à inclusão de algumas fotografias na exposição. Dessas imagens, algumas são de arquivo, feitas em 1996, outras em 2003. As mais recentes são já deste ano de 2016. Nestas representações é percetível a passagem do tempo, mas há uma estrutura urbana que se mantém e que é muito interessante. A povoação é definida por duas linhas, duas ruas paralelas. Ao centro há uma pequena praça onde se localiza o Pelourinho, símbolo de um antigo poder municipal que entretanto se perdeu. Ao fundo do povo, a nascente, está a igreja matriz. Do alto de um cabeço, no topo de uma torre sineira isolada, vemos extensas paisagens em todas as direções. O Moradal e a sua sombra estão próximos.
Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Sarzedas, Castelo Branco. 2003

Sarzedas, Castelo Branco. 1996

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Fragmentos

[arquivo cidade 024] Percorremos as terras altas, as linhas de festo que envolvem a ribeira da Lisga. Percebemos, do alto, a dimensão de isolamento destas paisagens. Para norte, ao longe, vemos montanhas: Gardunha, Estrela, Açôr, Lousã. Para Sul sentimos o enunciar do vale do rio Tejo e das terras mais planas. Horizontes longínquos.
Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, prox., Sarzedas, Castelo Branco. 2016

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Ruínas

[arquivo cidade 023] Uma civilização que se perde. Gestos humanos poderão querer resgatá-la, fixar a memória de antigos construtores de paisagens. Talvez não faça hoje sentido lutar pela integração numa natureza dura em que apenas a falta de diferentes caminhos levou a erguer tão notáveis obras. Hoje percorremos a arqueologia de um tempo que queremos compreender, mas que quem o habitou o quer esquecer.
 
Pomar, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016
 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Natureza

[arquivo cidade 022] A Natureza vai tomando progressivamente antigos campos agrícolas. As águas de uma ribeira que correm ininterruptamente. Desenhos tornados vivos pela erosão das cheias sazonais. Plantas que mostram poderosas raízes. Expressões perplexas de vida que se revelam no movimento efémero do transporte de uma folha sobre a água, ou na chuva que desenha círculos na sua superfície, que ao mesmo tempo aviva o verde permanente.
Ribeira do Alvito, Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Ribeira do Alvito, Sesmo, Sarzedas, Castelo Branco. 2016

Ribeira do Alvito, Lisga, Sarzedas, Castelo Branco. 2016