sábado, 30 de novembro de 2019

Modos de permanência

[Alberto Carneiro 12] Tudo existe de forma aleatória, ensaiam-se modos de permanência e este pode ser o sentido da existência, permanecer, movimentarmo-nos, levar longe no tempo os genes que transportamos, reserva de memória para a continuidade da vida.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Natureza como linguagem

[Alberto Carneiro 11] No trabalho de Alberto Carneiro há uma transição da Natureza para a linguagem ou uma hipótese possível para o desenvolvimento embrionário de uma descodificação das formas da natureza, uma tradução de conexões, invenção de símbolos. Há uma interpretação do mundo que é transposta, que é deslocalizada, matéria nova, transformada numa outra coisa. Há uma decifração dos elementos do ambiente exterior para a invenção de uma mensagem partilhada. Peças de arte que são a proposta de um diálogo, da invenção da escrita, da palavra polissémica.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Ataduras

[Alberto Carneiro 10] Observamos as pequenas intervenções, como as ataduras de algumas peças, que prendem os ramos, canas ou outros elementos vegetais. Este é mais um gesto que agarra o seu significado a uma leitura do mundo rural, das práticas longamente aplicadas em meios arcaicos, de práticas agrícolas antigas.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Arte

[Alberto Carneiro 09] Descemos para um outro espaço onde estão algumas obras de Alberto Carneiro. Como que caminhamos entre as ruínas deixadas por uma tempestade, mas as marcas que encontramos são as das goivas e dos formões, das serras. Não se trata de uma paisagem assolada por uma catástrofe, por ventos ciclónicos, abalos violentos, derrocadas, cheias, matérias transportadas aleatoriamente para locais distantes. Aqui há o desenho que parte do envolvimento físico com as peças de madeira, pressentem-se gestos de uma luta dura, de um trabalho sem descanso, de uma força imparável, as mãos e o corpo sem repouso, o limiar da exaustão. As noites habitadas pelo desejo célere da madrugada seguinte. Deste tempo longo, que apenas intuímos, ficam as marcas delicadas, os veios subtis, as texturas surpreendentes. Uma nova natureza, como se este fosse o natural passo seguinte de formas que procuram a sobrevivência no diálogo com o tempo que passa sobre um mundo mutante, efémero, veloz e agreste.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Livros

[Alberto Carneiro 08] Nas lombadas dos livros identificamos como que toda a procura humana das formas, da arte, dos sons, da palavra, como se na espessura daquelas paredes, na sequência ordenada das páginas de volumes desencontrados estivesse o sentido perplexo do espaço e do tempo contemporâneos. Estava ali plasmada toda a história conhecida da escultura, da pintura, da arquitetura, de todos os fazeres subtis que nos conduzem ao presente. Ali estava também a construção lenta de um fazer, as margens de uma vida funcional, a busca da arte que interpela o mundo desconhecido, a escultura de cosmogonias. Mas os livros são também futuro, são as leituras vindouras mesmo que nunca se venham a realizar, são uma reserva de tempo e de pensamento para viver mais tarde, são demora, presença, presente constante e imutável.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

sábado, 23 de novembro de 2019

Biblioteca

[Alberto Carneiro 07] A biblioteca de Alberto Carneiro é uma cidade suspensa sobre a natureza, sobre o seu espaço de trabalho, sobre o imenso jardim que criou, que é a sua obra, onde quotidianamente trabalha. Há aqui busca de uma síntese, de tudo aquilo que fez, de um caminho que se ramifica em veredas densas, de um passado que ganha complexidade e espessura com o decurso do tempo. Nada é neutro nesta “cidade”, tudo tem uma posição selecionada, posta deliberadamente, pensada. Não haverá uma geometria totalitária, mas uma determinação de ordem topológica, acionada por uma memória sem fim, sem limites, por vezes apenas latente, mas que a qualquer momento desperta na construção de histórias, sempre irrepetíveis.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Escada

[Alberto Carneiro 06] Subimos uma escada. Observamos, num primeiro relance, objetos de diferentes proveniências, objetos como que criaturas com a marca do tempo, tal como encontráramos nas ferramentas. Tudo está envolvido em livros, que revestem as paredes, arrumados em estantes.

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Formões, goivas, grosas, serras

[Alberto Carneiro 05] Nas ferramentas de Alberto Carneiro antevemos um mundo de formas da matéria, da madeira trabalhada. Há uma questão de perplexidade que parece evidente quando observamos estes instrumentos: há aqui uma força extrema, ou a violência que encontramos na natureza, em todas as espécies que lutam pela vida: estas são as “armas” de um combate, mas esse combate é também um diálogo com os elementos que se trabalham, a que se molda um desenho, um projeto, uma orgânica nova que liga mundos distantes. São utensílios de força com polimento da mão, com marcas do uso prolongado. O paradoxo da dureza expressa naqueles cabos de madeira e naquelas lâminas é o facto de nelas terem origem peças de uma grande delicadeza. São os fazeres da mão ou a dimensão humana sobre as paisagens.

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado, Trofa. 2015

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Guimarães

[Alberto Carneiro 04] Faltavam poucos dias para a inauguração e a exposição encontrava-se em montagem, nos ajustes finais. Os Inquéritos [à Fotografia e ao Território] — Paisagem e Povoamento viria a inaugurar no dia 17 de outubro de 2015, no Centro Internacional de Artes José de Guimarães, com curadoria de Nuno Faria. A exposição percorria uma série de trabalhos de fundo sobre o espaço português, desde 1881, data de uma expedição científica à serra da Estrela, até à atualidade. Uma parte muito significativa do trabalho de Alberto Carneiro que tem como elemento chave a fotografia, está aqui em exibição. Percebemos o sentido destas fotografias no âmbito de uma exposição alargada sobre o território. Nelas está um olhar que hoje mantém toda a sua pertinência. Naquelas imagens está registada uma aproximação à Natureza, singular e única. Fotografias compostas com desenhos estão fixadas nas paredes brancas. Há cores vivas, dominantes; as fotografias são a preto e branco. São trabalhos de descodificação da Natureza, de interpretação da paisagem, leitura, fascínio por tudo quanto era ali visível, da procura de relação, números, desenhos, geometrias, construção, significação. Depois há palavras que despoletam pensamentos, que acrescentam complexidade àquele mundo que se adensa em labirintos.

Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2015

Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2015

Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2015

Centro Internacional de Arte José de Guimarães, Guimarães. 2015

domingo, 17 de novembro de 2019

Trinta anos depois

[Alberto Carneiro 03] Partimos de uma situação concreta, vivida. Poucos dos seus alunos esquecerão as aulas de Alberto Carneiro e o seu olhar fixo em desafio ao nosso próprio olhar: jogo de procura do que está por trás dessa face, da vida e dos mundos que transportamos e refletimos. 1987. Estávamos a aprender desenho na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Trinta anos passaram.

Espaço de Alberto Carneiro, São Mamede do Coronado, Trofa. 2016

sábado, 16 de novembro de 2019

Abertura

[Alberto Carneiro 02] Este trabalho é sobre o projeto, sobre o desenho. É sobre a terra, sobre a arte, sobre as “cidades”. É sobre a natureza, sobre a transparência da opacidade do que não vemos, sobre a densidade de um mundo fascinante.

Centro Internacional de Arte José de Guimarães. Guimarães. 2015

Espaço de Alberto Carneiro. São Mamede do Coronado. Trofa. 2016

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Natureza Dentro, Alberto Carneiro, 2017

[Alberto Carneiro 01] Desde os tempos da faculdade, quando, no segundo ano do curso de Arquitetura da Universidade do Porto, fui aluno de Alberto Carneiro, que procurava uma forma de abordar o seu trabalho pela fotografia. Sentia uma enorme gratidão por ter podido contactar com ele e pela amizade que se seguiu até ao final da sua vida. O texto que se vai seguir, em várias publicações neste espaço, foi editado em livro por ocasião da exposição «Alberto Carneiro — Árvores e Rios», com curadoria de António Gonçalves, realizada na galeria Ala da Frente, em Vila Nova de Famalicão, entre os dias 10 de junho e 23 de setembro de 2017.
Estas palavras e fotografias são para Alberto Carneiro pelo pensamento que ergue do desenho para nos mostrar a delicadeza brutal da natureza.