quarta-feira, 31 de maio de 2017

O espaço das raízes

[funchal 17] As raízes remotas de uma cidade poder-se-ão encontrar, eventualmente, nos seus territórios confinantes. As ribeiras são aqui, no Funchal, uma poderosa interpelação. Avançamos para as cotas mais elevadas da ribeira de Santa Luzia. Fazemos uma parte da levada dos Toiros num impressivo itinerário, ocasionalmente aberto por mão humana na falésia que se precipita sobre ribeira. Estamos já sobre o canal pedregoso aberto pela erosão da força torrencial das águas que se precipitam a partir dos pontos mais elevados da ilha. 
Ribeira de Santa Luzia, Funchal. 2017

Ribeira de Santa Luzia, Funchal. 2017

Ribeira de Santa Luzia, Funchal. 2017

Ribeira de Santa Luzia, Funchal. 2017

Espaços devolutos

[funchal 16] Todas as cidades têm espaços devolutos. São como células mortas de um corpo imenso. Estendem-se por toda a malha urbana, são espelho de dinâmicas sociais erráticas, impossíveis de prever, mas muitas vezes as zonas históricas, mais antigas, são aquelas onde há maior número de edifícios sem uso. Pontos de degradação.

Funchal. 2017

Funchal. 2017

terça-feira, 30 de maio de 2017

O turismo na cidade

[funchal 15] A cidade do turismo é feita de incongruências e estranhezas. Há edifícios de grandes dimensões, hotéis, que parece terem sido desenhados independentemente de qualquer relação com a especificidade do local, quer da cidade histórica, do seu ADN, quer mesmo da natureza do solo, dos declives, das falésias. São edifícios que parecem habitar uma realidade paralela, como se o turismo gozasse de um estatuto especial que o colocasse à margem de qualquer plano diretor municipal, de uma fiscalização cuidada no sentido da integração na “lógica” de cidade. É como se os desejos de economia fácil se colocassem acima do interesse público. E, o que é curioso, é que estes grandes edifícios são como gestos suicidários que se deflagram contra a própria cidade. Pois um dos motivos que chama o turismo é a singularidade de uma cidade que certas obras absurdas fazem, paulatinamente, desaparecer.
Funchal. 2017

Funchal. 2017

Ilhéus - Conde Carvalhal

[funchal 14] Há um eixo viário que assume várias designações, como que atravessa as várias cidades que aqui confluem. Vai desde a rua dos Ilhéus, a poente da cidade, até à rua Conde Carvalhal, atravessando, a meio do percurso, a Praça do Município. Se a Avenida do Mar bordeja a cidade e se assume como um eixo de circulação para pontos mais afastados da ilha, este eixo, a uma cota mais elevada, liga diferentes complexidades, atravessa a cidade habitada por populações diferenciadas. Percorrer esta linha é uma experiência de diversidade urbana, pois liga o espaços arrabaldinos, de poente e de nascente, ao centro da urbe.
Rua dos Ilhéus, Funchal. 2017
Rua da Carreira, Funchal. 2017

Praça do Município, Funchal. 2017
Rua Conde Carvalhal, Funchal. 2017

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Bairros

[funchal 13] Há vários bairros (Como o bairro do Frias, bairro dos Arrifes, bairro dos Moinhos, Bairro dos Viveiros, bairro do Matadouro e bairro da Portada de Ferro) que são a expressão orgânica de uma necessidade de habitação de baixos recursos. Ocupam áreas menos povoadas da cidade, na altura da sua fixação, quase sempre em “geografias” difíceis, junto de escarpas ou terrenos de declive acentuado. O seu desenho é desenvolvido sem o recurso a técnicos, arquitetos ou engenheiros, e geralmente a construção é evolutiva, feita ao longo dos anos de acordo com as necessidades e disponibilidade económica. São mundos de margem onde, não raras vezes, encontramos soluções muito conseguidas para problemas espaciais difíceis de resolver. É a exposição da face crua de um instinto humano para resolver os problemas do seu habitat. Os materiais pobres e a aparência frágil escondem soluções de arquitetura nobre.
Funchal. 2017

Funchal. 2017

Funchal. 2017

Funchal. 2017

Cidade-escarpa

[funchal 12] O Funchal é uma cidade complexa na sua estrutura urbana. É um território “tenso” devido aos acentuados desníveis do seu solo, em parte provocados pela presença das ribeiras que irão estruturar toda a malha urbana. O desenvolvimento da cidade ao longo dos séculos, obedece a uma crescente procura de terra para construção. Até meados do século XX este processo foi contido por um desenvolvimento demográfico lento. Será a partir da década de 1960 que se vai intensificar um rápido desenvolvimento urbano.
 
Funchal. 2017

Funchal. 2017
 

domingo, 28 de maio de 2017

Debaixo da montanha

[funchal 11] As cinturas mais afastadas do centro da cidade trepam a montanha. Estão para lá da antiga cintura de quintas. Arruamentos íngremes dão acesso a casas, quase sempre de uma população de maior carência económica, sobre as altitudes limite do povoamento humano
 
Funchal. 2016
 

sábado, 27 de maio de 2017

Palheiro Ferreiro

[funchal 10] A Quinta do Palheiro Ferreiro é um muito bom exemplo do que seriam as quintas no Funchal num passado recente. É praticamente a única que subsiste, íntegra, do extenso perímetro que envolvia a cidade é lhe conferia uma cintura verde. Eram como que jardins, espaços verdes construídos, com desenho humano, a fazer a transição espacial para a floresta, num perímetro mais afastado e mais elevado, e, depois, às montanhas, já a altitudes onde não crescem árvores de grande porte e onde os ventos fortes e invernos severos impedem o desenvolvimento de um coberto vegetal tal como o podemos observar nos vales abrigados, quase sempre escarpados, e nas terras baixas.
 
Quinta do Palheiro Ferreiro, Funchal. 2017

Quinta do Palheiro Ferreiro, Funchal. 2017

Quinta do Palheiro Ferreiro, Funchal. 2017

Quinta do Palheiro Ferreiro, Funchal. 2017
 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Quintas desfragmentadas

[funchal 09] Havia uma cintura de quintas que hoje praticamente não existe. A pressão demográfica da segunda metade do século XX levou à subdivisão das propriedades e o espaço verde, de uma considerável extensão, desapareceu. Permanecem algumas casas despojadas da sua antiga nobreza, integradas num horizonte caótico de pequenas habitações de desenho uniforme e pouco qualificado
 
Funchal. 2017
 

terça-feira, 23 de maio de 2017

Gigantes frágeis

[funchal 08] Há árvores que são seres monumentais. São presenças imponentes, guardiões de um tempo antigo, vegetal, memória quase perdida na cidade. São outra face da natureza intacta que permanece, que resiste a fogos e dilúvios, que nos olha, que nos interroga sobre um mundo que não podemos perder. São opulente e perturbadora manifestação de vida, gigantes frágeis.
 
Funchal. 2017

Funchal. 2017
 

Do sacrilégio

[caos 12] Não temos um conceito de intervenção estética subjacente a esta ideia. Cada um seguirá o seu caminho próprio em diálogo com os restantes elementos. A primeira exposição é coletiva e o espelho de diferentes caminhos. O tema, lançado a partir do dia 13 de maio, não sem ironia e benévola provocação, é “O Sacrilégio como uma das Belas Artes”.
 
Luís Calheiros, Caos. Viseu. 2017

Duarte Belo, Caos. Viseu. 2017

Paula Magalhães, Caos. Viseu. 2017
 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Cidade botânica

[funchal 07] Os jardins assumem uma dimensão importante na cidade do Funchal, e na ilha da Madeira de um modo geral. O clima quente e húmido, decorrente da sua posição geográfica, bem como a altitude elevada da ilha, levam à criação de condições ótimas para o desenvolvimento de espécies vegetais. No entanto a pressão demográfica e o constante alargamento das malhas urbanas, particularmente na vertente sul da ilha, tem levado a uma progressiva devastação de áreas de floresta. Mas vão ficando marcas importantes, focos de resistência verdes a pontuar a urbanidade crescente.
 
Funchal. 2017

Funchal. 2017

Funchal. 2017

Funchal. 2017
 

Paula Magalhães, Caos

[caos 11] A origem e a determinação na criação deste projeto, o nome dado a esta causa e o desejo antigo de proporcionar à cidade algo que passe pela expressão plástica como o desenho, a pintura, a gravura, a serigrafia, a fotografia e alguns dos seus antigos processos de impressão.
Paula Magalhães, Caos, Viseu. 2017

Luís Calheiros, Caos

[caos 10] O pensador e o homem do traço fino, da mão hábil, da voz aglutinadora e da palavra fluente.

Luís Calheiros, Caos, Viseu. 2017

José Cruzio, Caos

[caos 09] Um homem incansável na procura das formas, do preto e branco e das cores, da arte e das suas variações entre o desenho e a fotografia.

José Cruzio, Caos, Viseu. 2017

domingo, 21 de maio de 2017

Duarte Belo, Caos

[caos 08] O último a entrar no projeto Caos, sem muito para dizer de si próprio que não sejam as palavras que nesta “cidade” se vão alinhando.

Duarte Belo, Caos. Viseu. 2017

Perímetro muralhado

[funchal 06] Houve, no passado, um perímetro muralhado a envolver a cidade. A sua construção obedeceu a uma função defensiva, particularmente devido aos ataques dos corsários e piratas que navegavam em mar aberto a pilhar as cidades costeiras e a deixar um rasto de destruição. Desta muralha já muito pouco subsiste no Funchal. A perda da função defensiva e a expansão demográfica levou à sua demolição. Permanecem quatro fortes, que definem como quatro bons exemplos de arquitetura militar. A fortaleza do ilhéu, construída sobre um esporão rochoso ao largo da baía do Funchal, entretanto ligado a terra por um paredão de betão que conforma o porto marítimo. O forte e palácio de São Lourenço, no centro do Funchal, o forte São Tiago, junto à linha de costa a nascente da cidade, e o forte de São João Batista, a uma cota mais elevada e com um vista muito impressiva sobre a malha urbana a todo o redor.
 
Forte do Ilhéu, Funchal. 2017
 
 
Forte de São Tiago, Funchal. 2017

Forte de São Lourenço, Funchal. 2017

Forte de São João Batista, Funchal. 2017
 
 
 

Cristina Nogueira, Caos

[caos 07] A pedra basilar deste projeto, alguém que deu a face humana a umas paredes bastante maltratadas por presenças anteriores neste mesmo espaço. Infatigável na criação de uma dimensão familiar associada a um conceito de arte como vida.
 
Cristina Nogueira, Caos. Viseu. 2017
 

sábado, 20 de maio de 2017

Cinco, do Caos

[caos 06] Somos Cristina Nogueira, Duarte Belo, José Cruzio, Luís Calheiros e Paula Magalhães. Transportamos identidades e experiências individuais que se fundem num coletivo para criar sinergias que amplifiquem saberes adquiridos e modos de ação.
José Cruzio, Paula Magalhães, Luís Calheiros, Cristina Nogueira, Duarte Belo. Viseu. 2017

Santa Clara

[funchal 05] O convento de Santa Clara permanece como uma ilha de tempo antigo no coração do Funchal. Ao longo do último século foi perdendo área mas mantém um carácter genuíno e ainda algum solo agrícola dentro da sua cerca. O claustro impressiona pelos seus arcos, envolvência do edificado e pela próprio solo cultivado. Ao redor há a arquitetura e a arte que são verdadeiramente únicas. É um espaço para a vivência de uma experiência de fruição estética e existencial muitos marcantes.

Convento de Santa Clara, Funchal. 2017

Convento de Santa Clara, Funchal. 2017

Convento de Santa Clara, Funchal. 2017

Inusitados

[caos 05] Apontaremos trilhos de liberdade, invenção de percurso. No cruzamento de itinerários desconexos marcamos a nossa condição de observação do caos. Avançaremos sobre relações topológicas inusitadas, diálogos abertos, rostos que são mapas da terra e do tempo. Edificar aqui o sentido dos fazeres e do entendimento do habitar. Transformar em linguagem os códigos da vida. Fazer desenhos, apresentar ideias, edificar propostas de permanência, imaginar novos espaços-tempo, compreender quem somos na irredutível impossibilidade de parar.
Largo de São Teotónio, Viseu. 2017

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Religião, guerra, sociedade

[funchal 04] As marcas mais duradouras e antigas que geralmente permanecem nas cidades estão relacionadas com o sagrado e com a guerra. São as arquiteturas religiosas e militares. Este é, quase sempre o património mais rico que chega aos nossos dias. Depois temos também os edifícios relacionados com o poder civil, seja ele público ou privado. O Funchal não é exceção nesta categorização. A Sé Catedral é, talvez, o edifício mais imponente da cidade e continua a representar o poder religioso. Mas a cidade está semeada de outros edifícios relacionados com a cultura cristã.
 
Sé Catedral do Funchal. 2016
 
Funchal. 2017

Cidade, abismo paralelo

[caos 04] As experiências de vida, o fascínio da comunicação e da partilha, a solidão em contemplação. Os jogos da existência imponderável. A sedução do vazio. Um rasto de luz, uma sombra iluminada. Ser uma cidade dentro da cidade. Ser cor para o atravessamento de mundos estranhos intuídos. Lugares imaginários, civilizações cintilantes, reinos inventados, sublimados. Penetramos condições paralelas, respiramos atmosferas desconhecidas. Desenhamos arquiteturas e abismos, caminhos na floresta densa e sombria. Nas montanhas geladas observamos as nuvens sobre as terras baixas. Um planeta a girar na noite sob um céu estrelado em movimento. Escutamos o silêncio.
[2016]