quinta-feira, 31 de julho de 2014

Caldas de São Lourenço

[Linha do Tua 30] As Caldas de São Lourenço não são bem uma povoação, são um aglomerado de casas em torno de uma nascente termal. O local tem alguma procura durante o Verão, mas a imagem do conjunto de edifícios é a de abandono e desleixo: não há um espaço urbano estruturado e as áreas públicas não são cuidadas. A nascente termal é de água sulfúrica sódica, brota à temperatura de 33˚C e é adequada para o tratamento de doenças do aparelho digestivo, reumatismo e pele. O pequeno edifício termal alberga apenas cinco banheiras e um tanque. No lugar não existem quaisquer equipamentos de hotelaria ou restauração. Carrazeda de Ansiães, a sede do concelho, fica a cerca de 18 quilómetros deste local, por uma estrada sinuosa. Entre os vários edifícios do lugar podemos destacar uma curiosa fonte de dimensões consideráveis, com o perfil de uma cisterna elevada do solo construída em pedra, e uma pequena capela, de São Lourenço, à entrada do povoado. Este edifício religioso, construído em granito, é de estrutura muito simples, com planta retangular e cobertura em duas águas. Sobre a porta de acesso ao interior ergue-se um pequeno campanário. 
Capela de São Lourenço. 2003

Fonte de São Lourenço. 2003

São Lourenço. 2003

quarta-feira, 30 de julho de 2014

São Lourenço

[Linha do Tua 29] O apeadeiro de São Lourenço apresenta uma estrutura arquitectónica diferente da dos primeiros edifícios. Provavelmente terá sido construído numa fase posterior à construção da linha, ou corresponde ao reaproveitamento de uma estrutura anterior. O alpendre para proteção dos passageiros apresenta um desenho em betão armado que também é diferente de outras soluções espaciais observadas até este ponto. Os pilares de secção quadrangular insinuam uma solução espacial que não tínhamos observado até aqui. O beiral que remata as paredes verticais e a cobertura em quatro águas são os principais elementos que diferenciam esta estação das outras construções da linha. Um cais mais cuidado indica-nos que este apeadeiro deverá ter tido uma circulação de passageiros mais intensa. A esta suposição não será alheio o facto de, muito próximo, com acesso pedestre, se localizarem as termas de São Lourenço.
 
Apeadeiro de São Lourenço. 2008

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Rochosa vertical

[Linha do Tua 28] Voltamos a mergulhar numa paisagem onde, de novo, praticamente não se vislumbram marcas de povoamento humano. Nas margens predominam os afloramentos rochosos de topografia muito irregular, e também mato, dominado por espécies arbustivas como a carqueja, a urze e a giesta, com os seus verdes característicos. Não demora muito até à próxima paragem, cerca de dois quilómetros adiante, num troço sensivelmente retilíneo, depois da passagem por uma curiosa formação rochosa vertical, que foi deixada pelos construtores da linha.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Santa Luzia

[Linha do Tua 27] Um pouco à frente, já no quilómetro 13, está a estação de Santa Luzia, constituída por um pequeno edifício, que é a estação, e um armazém de mercadorias, o primeiro desde da estação do Tua, ligeiramente maior do que o edifício da estação. A arquitectura do edifício, embora afiliada aos dois apeadeiros anteriores, do Tralhariz e do Castanheiro, é ligeiramente diferente destes. Um telhado de duas águas assenta sobre um corpo de planta rectangular, e duas portas dão acesso ao interior, onde existem dois compartimentos – um foi sala de espera dos passageiros, e o outro o gabinete do chefe da estação. Neste local houve uma obra significativa de movimentação de terras, para ganhar espaço à encosta e implantar os edifícios e, também, para construir uma segunda linha que permitisse o cruzamento de duas composições, visto que toda a linha foi construída em via única.
Estação de Santa Luzia. 2008



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Passagem de nível

[Linha do Tua 26] Já não muito longe, avistamos a pequena aldeia de Amieiro, sede de freguesia do concelho de Alijó. Ao longo deste troço inicial, esta é a povoação mais próxima do leito do rio. De qualquer forma, não confina com as suas margens, já que está a uma altitude cerca de 100 metros acima do nível da água. A Igreja de Santa Luzia, com uma arquitetura sóbria e comprometida com o universo rural, construída em meados do século xx, foi edificada num ponto alto do aglomerado urbano, com uma orientação em que a capela-mor se volta para o rio. Na linha, com Amieira à vista, encontramos o primeiro atravessamento rodoviário da linha desde o início da viagem. É um estradão de terra batida que segue para o rio, num ponto onde atualmente existe um pequeno teleférico, constituído por um cabo de aço esticado entre as duas margens. Esta travessia, que no período em que o comboio funcionava se fazia habitualmente através de uma barca, está hoje praticamente desativada.

Igreja de Santa Luzia. 2003

sábado, 19 de julho de 2014

Barrabás

[Linha do Tua 25] Ao longo deste itinerário, o tempo parece passar lentamente. Os quilómetros sucedem-se em perspetivas sempre renovadas. Raramente a margem do rio se abre um pouco para receber um afluente. A ribeira de Barrabás, uma tributária da margem esquerda do rio Tua, é a exceção que confirma este cenário. Embora tenha obrigado à construção de uma ponte metálica, esta ribeira de reduzidas dimensões precipita-se sobre as águas do Tua em acentuado declive, não abrindo um rasgo na margem capaz de permitir observar terras mais longínquas. Atravessamos a ponte de Paradela, que, tal como a de Prezas, é montada muito próximo da encosta.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

“Contranatura”

[Linha do Tua 24] Se treparmos um pouco a encosta, na tentativa de observarmos o vale de um ponto de vista privilegiado, esta realidade torna-se mais clara. Apesar da sua dimensão alienígena, a via-férrea integra-se perfeitamente na paisagem. Este é um dos factos que faz desta obra uma referência sobre a intervenção num lugar natural. O desenho do traçado, apesar de «contranatura», é delicado e revela um respeito primordial pela Natureza. Certamente que o facto de os meios de intervenção, no passado, serem mais reduzidos e custosos, levava a que se «destruísse» o menos possível a natureza do território sobre o qual se operava. Também é certo que o tempo contribuiu para que, atualmente, se tenha uma leitura de coerência entre a intervenção e a Natureza receptora. Talvez hoje se considerasse um crime construir uma linha-férrea ao longo de um vale com as características do vale do Tua, mas o que é facto é que nos habituámos à existência deste itinerário, que entretanto se integrou no imaginário coletivo de uma identidade, se não de todo o país, pelo menos de um modo significativo nos transmontanos e nos habitantes do Norte Interior de Portugal.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sobreiros

[Linha do Tua 23] Prosseguimos a viagem e deparamos com o anúncio de mais uma curva para a esquerda, depois de passarmos por um conjunto de sobreiros muito próximos da linha e dos quais a cortiça é retirada com regularidade. São indícios de que, apesar do isolamento destes lugares, há uma atividade agrícola que já observáramos anteriormente, no olival. Estas espécies vegetais, tal como o mato dominante, são exemplos da flora mediterrânica. Apesar de o cenário ser montanhoso e algo sombrio, por estarmos num fundo de um vale fechado, continuamos sob a influência do clima regional do vale do Douro. As temperaturas sazonais extremas, o ar seco, recordam-nos o Alentejo, mas a presença do rio, da água em permanente movimento e de uma luminosidade que não tem a intensidade dos campos abertos do sul do Tejo sublinha a singularidade desta realidade irrepetível.



terça-feira, 15 de julho de 2014

Falcoeira

[Linha do Tua 22] Antes de entrarmos no túnel da Falcoeira, observamos, do lado direito, uma estrutura em betão que nos indica que o local foi objecto de intervenção recente, para consolidar a escarpa naquele local. Este pequeno elemento faz-nos pensar na solidez com que a linha foi construída. São muito reduzidas as obras desta natureza, e não terá sido certamente por desleixo que não se fizeram mais intervenções, mas pela natureza firme da construção inicial e pela estabilidade geológica do solo. Ao entrarmos no túnel temos a clara percepção deste aspeto que acabámos de referir: o túnel é aberto em rocha maciça, e a sua aparência é a de uma caverna em que não se vê o fundo. A extensão do túnel e o facto de ser construído em curva levam a que nos pontos de entrada e saída não seja visível o extremo oposto. Tal como nos túneis anteriores, na entrada e saída do túnel foi construído um portal em arco de volta perfeita.




segunda-feira, 14 de julho de 2014

Apeadeiro do Castanheiro

[Linha do Tua 21] O percurso leva-nos ao apeadeiro do Castanheiro. Trata-se de um edifício muito simples, de pequenas dimensões, com uma única porta e uma cobertura em telhado de duas águas. Existe um pequeno cais de embarque no local. Castanheiro é uma pequena sede de freguesia do concelho de Carrazeda de Ansiães, situada próximo do rio Tua, na sua margem esquerda, mas, à semelhança dos anteriores povoados, está a uma cota muito elevada, aproximadamente a 510 metros de altitude. A altitude a que estes povoados se localizam é o reflexo da geomorfologia acidentada, já que com o declive muito acentuado é muito escassa a possibilidade de construir a cotas baixas, na proximidade dos cursos de água. A Igreja Matriz de São Brás localiza-se fora do aglomerado urbano, sensivelmente a meio da estrada que liga esta povoação a Tralhariz. No cimo de um cabeço, perto da Igreja de São Brás, está implantada a Capela do Senhor da Boa Morte, em torno da qual se desenvolve um terreiro de festa. No interior do aglomerado urbano destaca-se a Capela de São Descendente, que, tal como a igreja matriz, apresenta uma feição barroca, simples, de cariz popular.

domingo, 13 de julho de 2014

Renaturalização

[Linha do Tua 20] Segue-se um traçado com uma sucessão de aterros e desaterros, alguns que impressionam pela dimensão da escavação. As rochas que durante vários anos devem ter apresentado a marca dessa intervenção estão hoje, na maior parte das situações, cobertas por líquenes ou outro tipo de vegetação. Isso faz que estes rasgamentos violentos se tenham integrado num processo de renaturalização. Noutros casos, mais abrigados das intempéries, a escuridão da rocha remete-nos para o tempo em que as composições eram puxadas por locomotivas a vapor.



sábado, 12 de julho de 2014

Acidente 6,9

[Linha do Tua 20] A história de uma via ferroviária é também feita dos acidentes que a marcaram. Foi um pouco antes do apeadeiro do Castanheiro, ao quilómetro 6,9, que se deu o mais grave acidente da história da Linha do Tua, quando a queda da automotora ao rio provocou a morte a três pessoas e feriu outras duas. Aconteceu em 2007 e foi o mais trágico em 120 anos de história da linha. Foi também o segundo desastre a provocar vítimas mortais (o primeiro fora o que vitimara o conselheiro Abílio Beça). Na causa do acidente esteve num enorme rochedo que se soltou da encosta, caiu sobre a linha e provocou o desmoronamento da infraestrutura ferroviária. Na manhã seguinte, a automotora, ao tentar passar no local, caiu ao rio, que na altura se apresentava com forte caudal. 


sexta-feira, 11 de julho de 2014

Caudal

[Linha do Tua 19] O silêncio que domina este troço isolado da via-férrea é quebrado pelo ruído de uma ou outra ave e pelo barulho constante da água do rio. No Verão, o caudal é relativamente reduzido, mas as marcas deixadas no leito são certamente as de invernos em que o caudal sobe consideravelmente e a quantidade de água transportada é muito mais significativa.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Paisagem indomável

[Linha do Tua 18] Volvidos os primeiros seis quilómetros, a linha segue na direção poente-nascente até pouco depois da apeadeiro do Castanheiro. O vale vai apresentando uma sucessão de paisagens diferenciadas e sempre surpreendentes. Do ponto de vista do povoamento humano da paisagem, este é o troço mais isolado de todo o percurso. Numa extensão de cerca de 13 quilómetros, entre a Quinta do Smith, junto à foz do rio, e as proximidades da povoação de Amieiro, ao quilómetro 13, a linha não tem um único ponto de acesso rodoviário. Ao observar uma imagem aérea vemos que esta área é dominada pelo verde-escuro do pinheiro-bravo e do mato rasteiro, pontualmente rasgado por um ou outro estradão de acesso a pequenos terrenos agrícolas ou de exploração florestal, localizado em pontos de cota elevada. Junto à linha, ou nas paredes do vale, observamos extensas superfícies contínuas de granito que dão a impressão de uma terra agreste, tão agreste que é quase impossível a sua exploração pelo homem. Trata-se, no fundo, de um troço de paisagem indomável no centro do Douro vinhateiro. O facto de a pedra dominante ser o granito, uma rocha magmática de extrema dureza, faz-nos também refletir sobre a força extraordinária dos movimentos telúricos que contribuíram para a abertura do vale.


terça-feira, 8 de julho de 2014

Fragas Más

[Linha do Tua 17] Depois do túnel do Tralhariz e de um troço bastante rectilíneo através de um vale sinuoso, numa curva acentuada para a direita encontramos uma sequência de dois túneis, os túneis das Fragas Más. O primeiro é mais extenso e curvilíneo. O topónimo, Fragas Más, é bem sugestivo das características deste troço do vale. Há relatos, em fontes bibliográficas que referem as dificuldades de construção da linha. Devido à inacessibilidade do local, um dos processos referidos para colocar os explosivos necessários para abrir caminho consistia em fazer descer homens suspensos por cordas. Depois de ateado o rastilho do explosivo, e dada a impossibilidade de se conseguir outro itinerário de fuga em segurança, esses homens faziam sinal a outros, que por sua vez se encontravam a segurar as cordas a cotas mais elevadas, a fim de serem içados rapidamente.
Túneis das Fragas Más. 2008





segunda-feira, 7 de julho de 2014

São Mamede de Ribatua

[Linha do Tua 16] São Mamede de Ribatua é uma sede de freguesia do concelho de Alijó, situada nas margens da ribeira de São Mamede, a cerca de um quilómetro da margem direita do Tua. É uma povoação com alguma dimensão, que foi sede de concelho até ao início do século xix. O povoamento da aldeia é concentrado e alberga algumas unidades com valor patrimonial. No Largo do Pelourinho está localizado o antigo edifício da Câmara Municipal, que, simultaneamente, albergava a prisão. O Pelourinho, que se pode enquadrar na tipologia de gaiola, data de 1573. A Igreja Matriz de São Mamede data de 1737 e é o edifício mais significativo do conjunto urbano. É constituída por nave e capela-mor, o exterior é revestido a azulejos com elementos de granito salientes. O portal, enquadrado por pilastras, é sobrepujado por um nicho com a imagem de São Mamede. Num local elevado, um pouco afastado do centro urbano, está implantada uma pequena capela e, à sua frente, um calvário, de onde se obtém uma vista abrangente dos encaixes dos vales do Douro e do Tua e das serranias envolventes.
São Mamede de Ribatua. 2010





domingo, 6 de julho de 2014

Tralhariz

[Linha do Tua 15] Passado o primeiro troço de garganta do vale, começamos a encontrar pequenos terrenos agrícolas, onde são construídos taludes e plantadas oliveiras. Noutros pontos, a via foi aberta com explosivos e desenvolve-se sobre desaterros. Em pontos elevados do vale existem algumas povoações, que não são visíveis da linha. Fiolhal é um pequeno lugar implantado a uma cota de mais de 300 metros de altitude, embora se localize muito perto do rio Tua, cuja foz está a cerca de 70 metros. No Fiolhal, uma pequena capela estrutura o espaço construído, ao mesmo tempo que parece dominar visualmente o vale. Um pouco a norte desta aldeia localiza-se outra povoação, a uma cota de 500 metros. Tralhariz deu nome a um pequeno apeadeiro na Linha do Tua, uma obra de arquitetura muito simples, de planta quadrangular e com um alçado para a via-férrea marcado por três portas. A cobertura é em duas águas, de onde se elevam duas chaminés de dimensão acentuada. Como noutras estações que se lhe seguem, este primeiro apeadeiro da Linha do Tua não tem acesso rodoviário. Cerca de 200 metros à frente encontramos um túnel, ligeiramente curvo, que tem também o nome da aldeia.
Apeadeiro do Tralhariz. 2008

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Profundo alheamento

[Linha do Tua 14] Microcosmos de profundo isolamento e grande inacessibilidade, o vale parece alhear-nos da realidade. Uma sensação bem diferente da que temos nas cotas mais elevadas, onde o cenário continua a ser dominado pela paisagem do Douro Vinhateiro, pela imponência do seu vale e pela forma como as encostas de xisto foram trabalhadas pelo homem através da construção de socalcos monumentais e de um sistema de acessibilidades por caminhos e escadas que, muitas vezes, se revelam como soluções de desenho elaborado e complexo. A construção da linha do Tua usou este mesmo saber e modo de edificar. O rio Douro abriu o seu curso entre serras e planaltos, em encostas de declive íngreme, num clima local muito próprio, particularmente quente no verão e relativamente ameno no inverno, que, conciliado com a natureza seca do solo de xisto, deu origem a um processo de exploração vinícola que já dura há mais de três séculos, numa luta diária com a natureza agreste. Todo o modo de produção, desde a construção dos socalcos, à plantação das vinhas e aos trabalhos associados à sua manutenção, bem como a vindima, eram feitos de forma manual. As transformações tecnológicas e comerciais da atividade agrícola, que rejeitam a dureza de um ofício intermitente, conduziram ao longo das últimas décadas a uma mecanização dos processos de exploração vinícola, assistindo-se assim a uma progressiva transformação destas paisagens. Nos locais onde as encostas são menos inclinadas a vinha em patamares tem vindo a ser substituída pela «vinha ao alto». No entanto, os socalcos, na sua impressionante dimensão de modelador da paisagem, continuam a dominar o vale. A vinha domina a região, mas a oliveira também está presente, assim como a amendoeira. Um ou outro cipreste marca o lugar de uma quinta, muitas delas de origem no século xviii, as quais constituem uma das expressões mais marcantes da arquitetura da região, onde as povoações, quase sempre, se localizam a cotas mais elevadas. Por vezes vemos pequenos matos entremeados na extensão da vinha. São, quase sempre, solos antigos onde a vinha foi abandonada após o ataque da filoxera, uma das pragas mais difíceis de combater, testemunhos de uma história que não se esqueceu e que continua evidente nesses socalcos abandonados, conhecidos na região por mortórios. Mas a vinha, com as suas cores que se alteram ao longo do ano, domina a paisagem e suplanta qualquer expectativa que se pudesse ter de um lugar imaginado. Este é o mundo duriense, o país do vinho.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Taludes

[Linha do Tua 13] Se as pontes e os túneis, as obras de arte da engenharia, são um dos principais indicadores de dificuldade de construção deste caminho-de-ferro, existem outros elementos que não deixam de impressionar. Há taludes construídos com pedras de dimensão ciclópica, que se desenvolvem por extensões consideráveis. São, seguramente, os troços de construção mais difícil. A pedra era removida das encostas e afeiçoada para construir taludes de sustentação da linha. O betão armado, tecnologia que na época começava a dar os primeiros passos, não foi utilizado para a construção desta linha. O emprego de cimento, areia e ferro provavelmente teria facilitado muitos aspetos da construção e aliviado a mão-de-obra de trabalhos pesados e extremamente duros.
Muro de de suporte. Linha do Tua. 2008

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Disciplina

[Linha do Tua 12] Apesar de ser uma estrutura pesada, a via-férrea é capaz de circular por este vale com uma leveza notável. Pelo facto de circularem sobre carris, os comboios são muito «disciplinados» e conseguem trilhar uma via muito estreita, ao contrário de, por exemplo, um automóvel, cuja circulação necessita de mais espaço e exige uma via bastante mais larga. O calibre da via-férrea permite uma intervenção construtiva de menor dimensão. Esta é também a imagem do tempo em que este projeto foi construído. Na segunda metade do século xix, o automóvel não era ainda um veículo usual; ele só apareceu como o conhecemos perto da transição para o século xx, e o seu uso só começou a ser generalizado décadas mais tarde. Se, por um lado, a ferrovia era a única via de transporte terrestre coletivo possível para os meios tecnológicos da época, por outro lado o trajecto era pouco recomendável para outros meios de transporte. Este facto constitui, por si só, uma das singularidades da linha do Tua no contexto da rede de transportes portuguesa.
 
Linha do Tua. 2008

Linha do Tua. 2008

terça-feira, 1 de julho de 2014

Presas

[Linha do Tua 11] A Ponte das Presas e o túnel com o mesmo nome, que imediatamente lhe segue, são a primeira expressão da intervenção que constituiu um grande desafio da engenharia portuguesa do século xix. O conjunto enquadra-se perfeitamente na paisagem, e revela uma delicadeza singular face à grandiosidade do vale. Este curioso conjunto, de ponte e túnel contíguo, faz uma excelente introdução ao troço inicial do percurso, que, sensivelmente até à povoação da Ribeirinha, 33 quilómetros a montante, tem características homogéneas. A ponte não atravessa a linha de água, como as restantes pontes ao longo deste percurso, mas faz a consolidação em estrutura metálica do «chão» da linha. De repente, parece que a paisagem do Douro Vinhateiro ficou para trás. As encostas passam a ser fortemente dominadas pelo granito, e já não pelo xisto que constitui o solo dos melhores vinhedos da região. Pontualmente, ainda se encontram pequenos talhões com vinha plantada, mas a natureza agreste tem aqui uma presença avassaladora, apenas quebrada pela superfície estreita e horizontal do caminho-de-ferro.
Ponte e túnel das Presas. 2008

 
Ponte e túnel das Presas. 2003