segunda-feira, 30 de junho de 2014

Inflexão

[Linha do Tua 10] A Linha do Tua é, no seu início, paralela à Linha do Douro e ao próprio rio Douro, mas com um declive mais acentuado. Ao chegar a um pequeno povoado na foz do rio, que teve origem na Quinta do Smith, a linha inflecte para norte e afasta-se do vale do Douro, entrando no vale do Tua pela sua margem esquerda. Nessa curta inflexão que o trajecto ferroviário faz, a paisagem transforma-se profundamente. É visível, a uma cota inferior, a ponte rodoviária, em arco único de betão, que liga a estação a São Mamede de Ribatua e a Alijó. Pelo carácter inesperado, numa paisagem dominada pelas terras de xisto e pela vinha, a vista que se colhe desta ponte é das mais impressionantes de todo o percurso da linha ferroviária. A jusante vemos a desembocadura do Tua e a ponte ferroviária metálica da Linha do Douro; a montante, o vale do Tua, que, neste troço, se apresenta muito cavado. É a porta de entrada de um universo surpreendente e único.
 
Início da linha do Tua. 2008




Início da linha do Tua.1996

domingo, 29 de junho de 2014

O edifício da estação

[Linha do Tua 09] A estação do Tua, estação terminal da linha construída em via estreita, localiza-se no quilómetro 139 da Linha do Douro, e o edifício da estação é semelhante a outras estações desta via ferroviária. No piso térreo estão localizados os serviços de apoio aos passageiros, como as bilheteiras e a sala de espera, e os espaços dos funcionários da estação, como o gabinete do chefe da estação. No piso elevado, de carácter privado, localiza-se a residência do chefe da estação. O edifício do armazém marca uma presença muito forte no complexo e a sua volumetria característica é semelhante a muitos armazéns de outras estações do sistema ferroviário nacional. Existem ainda outros edifícios de apoio a ambas as linhas, bem como equipamentos relacionados com a manutenção das composições, como sejam depósitos de água. Todo o conjunto se encontra atualmente bem preservado. Nesta estação são ainda de notar algumas locomotivas e carruagens que pertenceram à Linha do Tua e que neste momento aguardam, certamente, intervenções de restauro.
Estação do Tua, na linha do Douro. 2010

sábado, 28 de junho de 2014

O território enigmático

[Linha do Tua 08] Pelo seu contexto geográfico, os quilómetros iniciais da linha do Tua são os mais impressionante de todo o percurso. O rio cavou um sulco profundo na área planáltica que atravessa quando se aproxima do rio Douro. A sucessão de túneis que a linha percorre é um indício de quão íngremes são as arribas que se precipitam sobre o rio que corre a uma cota significativamente mais baixa. Praticamente não são visíveis da linha marcas de povoamento humano, excepto pequenas parcelas agrícolas onde domina a oliveira. Estamos em pleno coração do Douro Vinhateiro. No vale do rio Douro, para montante do Pinhão, a paisagem torna-se progressivamente rarefeita de povoamento e é dominada por extensas áreas de vinha plantada, em declives por vezes fortemente acentuados. Mas existem também áreas de mato ou os mortórios – antigos vinhedos que foram abandonados e que, hoje, nos falam de um dos momentos mais negros da história da cultura da vinha neste vale profundo. A linha ferroviária do Douro atravessa este cenário dominado por um clima ameno no Inverno, se comparado com as terras a cotas mais elevadas das serras que envolvem o vale, e por Verões muito quentes. É este clima vincado e a natureza do solo que dão origem a um dos mais afamados vinhos portugueses. O encontro do rio Tua com o Douro dá-se neste contexto geográfico. A foz do tributário do Douro é marcada por uma ponte ferroviária metálica e, na margem oposta, vemos a Quinta dos Aciprestes, cuja origem remonta ao século xviii e resulta da integração sucessiva de quintas limítrofes. Este lugar sintetiza alguns dos elementos-chave da paisagem do Douro: um vale povoado por quintas, uma linha ferroviária e uma porta de acesso a um território enigmático, o vale do rio Tua.
Vale e linha do Tua, a partir da ponte rodoviária sobre a sua foz. 1997

Vale do rio Tua, próximo da sua foz. 1996

Escarpa rochosa aberta na construção da linha do Tua. 2008

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Contexto de paisagem

[Linha do Tua 07] Pelo seu contexto paisagístico e geográfico, a linha ferroviária do Tua é a mais impressionante de toda a rede ferroviária portuguesa. Há diversos troços ao longo dos quais assistimos a uma grande diversidade de paisagens – e de obras de arte associadas à via, como túneis e pontes – e nos cruzamos com estações, apeadeiros e até com pequenas peças de grande valor arquitetónico que existem nas povoações em redor. É deste mundo que queremos dar conta nestas publicações. Aqui a fotografia assume-se como uma forma de registo da memória, um registo com critérios objetivos e metódicos que procuram dar uma ideia abrangente das características do percurso. Estas imagens registam um momento do processo complexo e dinâmico que relaciona pessoas e populações e o espaço em que habitam. Sem constituir um juízo sobre as práticas de utilização e exploração da linha do Tua, fica a proposta para visitar um itinerário extraordinário na paisagem portuguesa.
Vale e linha do Tua.2008

Vale e linha do Tua. 1996

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Refletir a linha

[Linha do Tua 06] Estas imagens são uma reflexão sobre um itinerário de extraordinária diversidade que simboliza uma região. Embora os comboios já não circulem, este percurso ferroviário deixou uma marca indelével na paisagem. É esse rasto que nos propomos seguir. Agora, a pé ou de carro, este itinerário continua a ser extremamente interessante para quem o percorrer, não apenas por lhe estar associado um traçado ferroviário, mas porque atravessa uma multiplicidade de lugares que, no seu conjunto, espelham o carácter de uma região. A construção desta linha de caminho-de-ferro foi uma grande obra da engenharia portuguesa e representou a capacidade de superar as adversidades de uma geomorfologia difícil. Independentemente de uma parte dele estar em vias de ser submerso, é um itinerário que, hoje, nos liga a uma história de povoamento difícil e ao processo de união do espaço nacional, num período em que o Nordeste Transmontano vivia num profundo isolamento.
Vale do Tua, no seu troço terminal. 2008

Castanheiro próximo da via férrea, na aproximação a Bragança. 2009

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Toda a extensão do Tua

[Linha do Tua 05] Foi em 2008 e 2009 que percorri toda a extensão da linha, com o Luís Oliveira Santos, já com o propósito de fazer um levantamento fotográfico extensivo da linha do Tua e, na medida do possível, trabalhar a edição de um livro. No dia 18 de Outubro de 2008, saímos da estação do Tua em caminhada pedestre até Mirandela, onde chegámos dois dias mais tarde. No ano seguinte, entre os dias 2 e 4 de Outubro, já de automóvel, percorremos os principais pontos da linha desde Mirandela até Bragança. Ainda voltei à Linha do Tua no dia 9 de Março de 2010, para produzir algumas fotografias, pontuais, do curso terminal do vale e da estação do Tua.
Linha do Tua. 2008

Linha do Tua. 2009

terça-feira, 24 de junho de 2014

Início da década 2001 no Tua

[Linha do Tua 04] Em 2001 e 2003, voltei a terras do Tua, desta vez no âmbito de um outro projecto editorial, Portugal Património. Reforçava o desejo de voltar e percorrer toda a linha do Tua.
Linha do Tua. 2003

segunda-feira, 23 de junho de 2014

1997. Estação do Tua

[Linha do Tua 03] No âmbito de uma encomenda do Centro de Português de Fotografia, fotografo a Linha do Douro, a partir do trabalho de Emílio Biel. Detenho-me na estação do Tua, onde se encontravam algumas composições que tinham servido o troço ferroviário até Bragança.
Estação do Tua. 1997. (Todas as fotografias)








sexta-feira, 20 de junho de 2014

1996. Regresso à desembocadura do Tua

[Linha do Tua 02] Mais tarde, a 10 de Julho de 1996, fiz fotografias a preto e branco de alguns pontos da Linha do Tua, quando fotografei Portugal continental para a obra Portugal, o Sabor da Terra. A foz do Tua era, continua a ser, especialmente impressiva e significante. O desenho do vale, cavado, e a linha férrea, com a ponte e o túnel das Presas, parecem convidar-nos a uma viagem pelo desconhecido, rio acima.
 
Aproximação à estação do Tua. 1996

Estação do Tua. 1996

Estação do Tua. 1996

Ponte ferroviária sobre a foz do rio Tua. 1996

Ponte rodoviária sobre a foz do rio Tua. 1996

Rua de acesso à estação do Tua. 1996

Ponte e túnel das Presas. Linha do Tua. 1996

Túnel das Presas. Linha do Tua. 1996







quinta-feira, 19 de junho de 2014

1987. Aproximação ao Tua

[Linha do Tua 01] No dia 17 de Setembro de 1987 parti do Porto, de comboio, da estação de São Bento, rumo a Barca de Alva. Nesse dia iniciei uma longa caminhada pedestre, solitária, até Miranda do Douro, onde cheguei a 22 de Setembro. Foram dias intensos, duros, numa paisagem de invulgar imponência. Eram as primeiras grandes viagens por um Portugal que, ainda hoje, não deixa de me surpreender. No dia seguinte, de madrugada, apanhei uma camioneta com destino a Bragança com o objetivo de aí apanhar, de novo, o comboio e de fazer a Linha do Tua, um percurso que considerava quase mítico. Apanhei o comboio em Bragança com destino ao Tua e, ainda no dia 23, regressei ao Porto, o ponto de partida da viagem. É um itinerário que quem percorre não esquece. As últimas fotografias que fiz nesta viagem são de Bragança, onde se acabaram os filmes que tinha disponíveis. O itinerário ferroviário apenas ficou gravado na minha memória.
Irei iniciar, neste espaço, a apresentação do itinerário ferroviário da linha do Tua, seguramente, nos seus quilómetros iniciais, pelo contexto paisagístico, o mais extraordinário de toda a rede ferroviária portuguesa.
Estação de São Bento. Porto. 1987

Comboio, linha do Douro, São Bento - Barca de Alva. 1987

Rio Douro próximo de Freixo de Espada à Cinta. 1987

Rio Douro próximo de Miranda do Douro. 1987

Paisagem próxima de Miranda do Douro. 1987

Bragança. 1987

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Arquitetura serial

[Pomarão-Mina de São Domingos 21] Neste ano de 2014 não visitara o aglomerado urbano, mas apenas o itinerário ferroviário e os espaços mineiros. Em 1996 ficava impressionado com o bairro habitacional, de que fizera algumas fotografias. Destacavam-se os edifícios em banda, semelhantes ao que vira, em ruínas, no bairro da Moitinha, alguns quilómetros a jusante deste local, na direção do Pomarão. Pela sua extensão e implantação curvilínea são dos mais notáveis, no seu género, em todo o espaço português. (Esta é a última publicação relativa ao itinerário Pomarão - Mina de São Domingos).
Mina de São Domingos. Mértola. 1996




quarta-feira, 11 de junho de 2014

São Domingos, 1996

[Pomarão-Mina de São Domingos 20] Se no Pomarão, em 1996, havia uma certa permanência, já na Mina notava-se, hoje, por um lado uma certa limpeza do seu espaço, mas, por outro lado, essa limpeza parecia estender-se aos próprios edifícios e outros elementos relacionados com a atividade mineira. O conjunto edificado apresentava um mais adiantado estado de ruína. Notava-se, no entanto, alguma preocupação em museslizar o conjunto. Eram visíveis painéis informativos e alguns troços de vedação em torno de alguns edifícios e do grande lago de águas negras.
Mina de São Domingos. Mértola. 1996







terça-feira, 10 de junho de 2014

Pomarão, 1996

[Pomarão-Mina de São Domingos 19] No ano 1996, nas últimas viagens de preparação da obra Portugal - O Sabor da Terra, tinha estado, no mesmo dia, no Pomarão e na Mina de São Domingos. Dezessete anos passados pouco se alterara a paisagem do porto fluvial, apenas um ou outro mais cuidado, mais desenho no espaço urbano. Na altura não fizera o itinerário ferroviário, nem, tão pouco, tinha a noção da sua implantação e dos seus vários elementos construídos, como sejam a sucessão de túneis, única, pela proximidade entre si, no espaço português.
Pomarão. Mértola. 2014

Pomarão. Mértola. 1996