domingo, 28 de agosto de 2022

Geometria e tempo

[três viagens 06] A par da questão metodológica, que não deixava de ser geométrica, havia a necessidade de representar aspetos concretos da paisagem, tanto na diversidade de situações espaciais, geológicas e geográficas, a estrutura do território, os principais rios e serras, a linha de costa, mas também o povoamento humano. Sobre este último tema houve a necessidade de ter presentes todas as fases de ocupação do território hoje português. Todos os tempos, desde o Paleolítico até à atualidade, deveriam estar representados. Das paisagens arqueológicas à periferia das grandes cidades.

Praia de Mira, 2022

 

sábado, 27 de agosto de 2022

Complementar, continuar

[três viagens 05] Poderia desenvolver praticamente todo o trabalho a partir do meu arquivo, mas senti necessidade de atualizar o levantamento fotográfico em virtude de transformações muito recentes, e aceleradas, do espaço português. De qualquer modo, teria sempre de regressar ao terreno porque havia quadrículas sobre pedaços muito exíguos de território onde eu nunca tinha estado.

Rio Erges, Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, 2022

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Quadrícula

[três viagens 04] No dia 17 de fevereiro de 2022 saí em viagem de mapeamento fotográfico de alguns lugares um pouco por todo o espaço português peninsular. Com algumas exceções, foram pontos quase sempre próximos da linha de fronteira com Espanha ou sobre a linha de costa, tanto a poente como a sul, no Algarve. O trabalho em curso visava a caracterização da paisagem portuguesa através de fotografias e textos que as acompanhariam. Como princípio metodológico, tendo como referência um número de imagens a rondar as 150, decidi criar uma quadrícula baseada no cartograma do Instituto Geográfico Militar, para a escala 1:25.000. Agreguei conjuntos de 6 cartas militares, duas por linha, três por coluna. Cada carta representa um pedaço de território com 16x10 quilómetros. Assim, teria como unidade cartográfica deste projeto específico retângulos com 32x30 quilómetros o que, aplicando a malha ao território nacional, obteria um total de 128 retângulos. Haveria ainda de contar com os arquipélagos dos Açores e da Madeira. Neste caso concreto seria atribuída uma imagem a cada uma das ilhas habitadas e duas para a ilhas de maiores dimensões, São Miguel e Madeira.

Vale de Espinho, Vilar de Ossos, Vinhais, 2022

 

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O campo e a palavra

[três viagens 03] Estas são palavras e reflexões que se erguem de muitos dias, muitos quilómetros no campo, como se no terreno permanecessem as fontes fundamentais para o conhecimento, não apenas do povoamento humano, mas da vida, entendida em sentido lato. A partir do solo, das noites a céu aberto, numa miríade de referências desconexas, de autores das mais diferentes áreas científicas, num hiato temporal muito alargado, repensar a nossa condição biológica. A vida como uma viagem realizada com uma enorme curiosidade pelo conhecimento, pela forma de o exprimir, pela construção de uma coerência possível, como se de uma casa se tratasse. Arquitetura como conceito, como invenção de uma situação espacial nova, como cidade, memória, máquina do tempo.

Monte Clérigo, Aljezur, 2022

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Três viagens

[três viagens 02] Descrever três viagens céleres, de norte a sul de Portugal, com o objetivo de fazer um conjunto de fotografias para um trabalho em curso sobre a caracterização da paisagem portuguesa. Embora este projeto tenha por base um arquivo fotográfico pessoal de mais de 1.900.000 imagens, senti a necessidade de, pontualmente, introduzir fotografias de aspetos muito recentes de transformação da paisagem. Que lugares lemos quando regressamos a um mesmo espaço, décadas depois de lá termos estado uma primeira vez? Onde nos transporta o mapeamento fotográfico sistemático dos lugares de um país?

 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Camadas de tempo

[três viagens 09] Um dos objetivos das fotografias era mostrarem várias camadas de tempo e de espaço. No fundo retratar a complexidade dos territórios que habitamos em que nada parece ser óbvio, linear, simples. Não procurava qualquer espécie de pureza, imagens que nos remetessem para um mundo antigo, idealizado, perdido, mas a realidade com todas as suas dissonâncias, que são, de modo evidente, o mundo que habitamos. Há, quase sempre, uma estranheza no quadro visual que temos pela frente e é essa evidência que procurava captar com a câmara fotográfica. Pombal, a rotunda que na altura tinha diante de mim, era um ótimo exemplo destas paisagens da contemporaneidade, onde toda uma aparente confusão de elementos parecia estar reunida.

Pombal, 2022

 

Largada

[três viagens 08] Parto de Viseu, de madrugada. O dia amanhece nublado. A primeira paragem é na praia de Mira, onde é visível a erosão oceânica, fazendo recuar o areal. Não deixo de fotografar os passadiços que sobrevoam as dunas. Uma solução cada vez mais usada em muitos lugares como uma espécie de praga que parece ter como efeito levar as pessoas onde elas não iriam. Prossigo viagem para Montemor-o-Velho, onde fotografo, sobretudo, o vale do Mondego e o espaço que medeia entre o rio e a elevação onde está implantada a antiga vila medieval. Subo o curso do rio pela estrada que foi desenhada na sua margem direita. Não chego a entrar em Coimbra. Fotográfo a cidade a partir de Santa Clara, de início num terraço de uma área residencial relativamente recente, depois do adro em frente ao convento de Santa Clara-a-Nova. Impressiona a continuidade urbana que se espraia por ambas as margens do Mondego. Prossigo para Pombal, pela Estrada Nacional Nº1. O que tento fixar é mesmo um aspeto desta estrada, a rotunda a norte da cidade. Numa reflexão sobre a paisagem portuguesa não poderiam deixar de estar presentes as rotundas, uma marca urbana tão vincada em vilas e cidades de média dimensão.

Praia de Mira, 2022

 
Montemor-o-Novo, 2022

Santa Clara, Coimbra, 2022

Lugar, velocidade, derivação

[três viagens 07] Estas palavras são sobre as três viagens rápidas que fiz para mapear fotograficamente fragmentos do espaço português. É o retrato célere de um país, quando procurava identificar a paisagem portuguesa na sua múltipla complexidade. Relato breve dos dias em viagem. Os lugares por onde passei, algumas derivações em relação ao foco de partida. Houve alguns espaços onde nunca tinha estado, mas estas foram, sobretudo, viagens de regresso, revisitações. O que encontramos quando voltamos a um mesmo lugar, nalguns casos, mais de duas décadas volvidas? Há dimensões do tempo e do espaço que se cruzam. Há reflexões que se soltam da impossibilidade das fotografias dizerem tudo.

Santa Clara, Coimbra, 2022

 

Conferência de Estocolmo

[três viagens 01] A convite da professora Paula André (ISCTE), escrevi um texto que parte do desafio por ela lançado de refletir sobre o mundo atual tendo como data de referência os cinquenta anos sobre a Conferência de Estocolmo. Entre os dias 15 e 26 de junho de 1972, reuniram-se, pela primeira vez, no quadro das Nações Unidas, um conjunto de chefes de estado para debater as questões do clima, da biodiversidade e do rumo que estamos a dar, humanos, ao planeta que habitamos. As palavras que agora proponho não têm uma relação direta com a Conferência. São textos sobre três viagens recentes, pelo espaço português, num processo de mapeamento fotográfico continuado deste território.

Estocolmo, 2007