quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Resposta

Vale do rio Erges, próximo de Salvaterra do Extremo. 2005
[suporte 01] Sobre uma questão suscitada por um post neste espaço em que eu próprio afirmava "A Arte pode perder a sua própria materialidade e passar a ser um conceito de sobrevivência, de sanidade mental, de lucidez", Luís Miguel Gomes fazia-me a pergunta: "Não entendi o remate final do teu post, ou seja, em que medida a imaterialidade da Arte pode ser um conceito de sobrevivência e sanidade mental ?". A questão foi-me posta no passado do 18 de junho. Ao invés de uma resposta direta, que de qualquer forma exigiria uma redação trabalhada, vou mergulhar num espaço existencial em que a fotografia, como matéria, é o núcleo ativo. Será a continuação do espírito desta cidade infinita, os fazeres em torno da fotografia, do espaço, do tempo, das construções humanas no território, depois as palavras. A construção de um fazer aqui desenvolvido, a tentativa de explicitar, de consciencializar, também, o coração deste trabalho específico.

sábado, 10 de agosto de 2013

Diálogo futuro próximo

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 27] A Biblioteca estabelece hoje um diálogo com o futuro. É neste futuro próximo que se joga o futuro do livro, da sua existência como suporte de papel e que há já cerca de vinte anos é dado como condenado e substituído por outros suportes digitais. O livro tem resistido a todas as profecias que lhe ditam o fim e, ao invés, assistimos a um número de livro publicados anualmente cada vez maior, talvez com um decréscimo neste tempo mais recente, e contingente, em que a crise económica diminuiu generalizadamente os consumos de todo o tipo de bens. A palavra, a linguagem escrita e verbal, não está em causa, mas o futuro da forma como ela é materializada é uma incógnita. Cada vez surgem mais suportes onde ela pode ser lida, todos ele de base digital. Em ultima instância o que está em causa é mesmo a forma de comunicar entre os humanos, já não se tratará apenas de uma questão material, mas de uma relação cada vez mais estreita entre o homem e a máquina, que acaba por ser uma forma diferente de nos relacionarmos com o tempo, com uma tradicional noção de tempo continuo, mas sobretudo com o espaço e com as suas representações virtuais, em num dado momento parece estarmos em vários lugares do mundo, ou mesmo em todos e, simultaneamente, em lugar nenhum. Habitamos uma reinvenção da espaço-tempo que nos é proporcionada pelos novos suportes da palavra impressa e por uma língua que se torna a língua franca, em que todos os cidadãos em frente a um computador parecem partilhar um nível de comunicação antes nunca alcançado. Mais do que uma relação com um suporte para a palavra impressa, estamos no centro do turbilhão da comunicação entre seres e comunidades. A Biblioteca, através de várias ferramentas, como a Biblioteca Digital, e a disponibilização de um crescente número de obras na Rede, acompanha a contemporaneidade deste movimento imparável. A grande casa do livro manter-se-à como o fiel depositário da cultura materializada em livro, ao mesmo tempo que trabalha as mais recentes ferramentas de divulgação e partilha da língua portuguesa, casa imaginaria de mais de duzentos milhões de falantes em todo o mundo. Esta foi a última publicação relativa à Torre, obra de ampliação da Torre de Depósitos da Biblioteca Nacional de Portugal.
Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Face material

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 26] Se a ampliação da torre de depósitos é a face visível, material, de uma instituição que se afirma pela capacidade de receber, catalogar, disponibilizar e conservar os seus espécimes, há um trabalho imenso e silencioso que todos os dias pode ser visitado, por cada um de nós em quase todos os lugares da superfície terrestre. Esse labor é a continuidade incansável de uma comunidade de mulheres e homens de uma curiosidade sem limites. A Torre, a Biblioteca e o seu conteúdo é, simultaneamente, o espelho e o reflexo do que somos como portugueses.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Tornar acessível

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 25] O desafio maior é, cada vez mais, o da comunicação, o de tornar acessíveis a um número potencialmente ilimitado de leitores os conteúdos de uma cultura, uma parte significativa da sua produção intelectual e da sua criatividade. Numa contemporaneidade em que os países se assumem como complexas marcas num mercado global, há organismos que assumem uma particular relevância na afirmação da singularidade de um projeto de cultura que quer transportar para o futuro, sem o comprometer em toda a sua expectância, desejo de uma vida melhor, uma cultura com séculos de crescimento e que na sua expressão escrita, na singularidade da sua língua, tem expressado alguns dos seus mais significativos e significantes momentos. Mais do que uma casa que recebe investigadores e estudiosos do seu acervo imenso, a biblioteca quer ser a voz serena e tranquila de uma língua global e de uma cultura que existe disponível em todos os terminais de computador, em todos os suportes que recebem a informação que está disponível na Internet.
Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Expansão tecnológica

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 24] Se os primeiros registos fotográficos surgem por alturas, sensivelmente, da Revolução Industrial, não podemos deixar de pensar que estas fotografias se apresentam num período em que continua em curso uma progressiva expansão das tecnologias digitais. Já foi anunciado o fim do livro impresso. Numa propagada crise que não pára de se acentuar, o número de edições impressas não não tem parado de crescer, tal como pequenas editoras, muitas vezes, é certo, de vida breve. O destino da impressão em suporte de papel é absolutamente imprevisível. Mas independentemente desta questão as bibliotecas não podem passar ao lado de um posicionamento face à edição de conteúdos digitais e à sua divulgação.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Coleção bibliográfica

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 23] A Biblioteca Nacional de Portugal alberga a maior coleção bibliográfica de Portugal, uma coleção notável de manuscritos, de incunábulos, de iconografia, de cartografia, de peças musicais impressas. A Biblioteca é um dos mais importantes repositórios da cultura portuguesa e mesmo de uma língua falada em todo o mundo por mais de duzentos milhões de pessoas.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Depósito legal

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 22] Mas há outra questão que se prende com as existências da biblioteca, com as suas ausências e com o tempo contemporâneo. A figura do Depósito Legal foi criada com diversos objetivos e o principal talvez seja a ambição de um Estado reunir em diversos pontos toda a produção impressa em livro, ou publicação periódica, que se faz no país. No fundo trata-se de coligir todos os mais relevantes elementos culturais impressos em Portugal. Com a afirmação cada vez mais inequívoca dos meios de reprodução digital há uma lógica tradicional que é quebrada. Muitas publicações deixam de ser impressas em offset, nas tradicionais tipografias, para serem impressas por pequenas empresas que se dedicam a essa área de negócio, ou mesmo numa dimensão mais caseira. Se pensarmos nas publicações feitas em suporte exclusivamente digital, torna-se muito mais difícil o seu controlo e não há, ainda, forma de as recolher e catalogar. A este nível o advento do fenómeno digital traz problemas que ainda não encontram solução. Há uma muito maior proliferação de formas de comunicar e mesmo de comunicar através de livros impressos suporte de papel. As impressões a pedido, print on demand, são cada vez maiores, fenómeno que acompanha a redução das tradicionais edições em tipografia, dado que poderá conduzir a uma progressiva redução de livros impressos em offset, deixando este processo apenas para os livros de grandes tiragens. A ideia da morte de livro, há muito anunciada, não é aqui sugerida, pois tem acontecido justamente o contrário, mas não há duvida que os paradigmas editoriais estão a mudar e o futuro é completamente imprevisível.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Perdidos pedidos

Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011
[a torre 21] Durante este processo de obra e consequente esvaziamento dos pisos de todos os livros, aconteceu um facto curioso, que não passa disso mesmo: um movimento de todos os livros. Para muitos volumes foi uma viagem efémera que não os fez sair da solidão. Há um número muito elevado de livros que nunca foram pedidos. São livros que desde o momento em que chegaram à Biblioteca, nunca desceram à sala de leitura, nunca foram solicitados por um único leitor. Este facto deixa em aberto diversas questões sobre a própria dinâmica do sucesso, ou insucesso, de um obra literária, ou de qualquer outro género, no contexto social em que é publicada. Poderá haver livros que não mereceram a atenção devida.
Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa. 2011