quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Palavras sobre branco

[depois da estrada 05] Atravessar um papel em branco e deixar nele um traço que define, também, uma linha de tempo. É uma forma de voltar a viver a passagem por espaços deixados vagos, de fazer uma nova viagem. Tinha tomado apontamentos em folhas de papel onde desenhei todo o itinerário, bem como os pontos onde parei para fazer fotografias. Agora, ao olhar para esses planos, que me auxiliaram no alinhamento das palavras, via uma nova viagem. Tudo recomeçava e num conjunto de outras partidas e caminhos que imaginava, outras fontes, outras leituras, a possibilidade da construção de outros objetos. Um processo interminável de divagação progressivamente abstrata.



 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Antes da partida

[depois da estrada 04] Esta viagem foi motivada pela reflexão sobre a enorme extensão de território a que se convenciona chamar “Interior”. As soluções para a inversão do processo de desertificação do país não têm sido satisfatórias, embora vários modelos, tenham sido testados por sucessivos governos ou, pontualmente, por executivos municipais. O que parece cada vez mais evidente é que o “conhecimento”, entendido em sentido lato, pode trazer contributos adicionais e pode proporcionar o envolvimento de pessoas que ajudem a refletir sobre com as questões da terra, que podem trazer novas propostas para enfrentar esta realidade. Ao invés, o desconhecimento da terra, das paisagens nada pode trazer de positivo que não seja o espanto perante catástrofes ocasionais, sejam elas incêndios de grandes proporções, cheias, ou, esses sempre imprevisíveis, abalos sísmicos, devastando arquiteturas que não estavam preparadas para os receber.

 Padornelos, Montalegre. 20/07/2018

 

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Três linhas

[depois da estrada 03] Esta viagem enquadra-se numa trilogia: um conjunto de três linhas desenhadas no mapa que visa estimular a reflexão sobre a terra, sobre quem nela caminha, sobre os lugares, sobre o nosso habitar, sobre o futuro. Não pode deixar de existir aqui uma dimensão pessoal de leitura do espaço e do tempo que se reflete na construção de objetos de comunicação: fotografias, palavras, desenhos, mapas, livros, exposições. Embora a criação de todos estes elementos esteja alicerçada em modelos já conhecidos, pretendo que na sua forma reflitam uma construção não-linear. Este é o espelho da nossa relação com a temporalidade concreta do espaço, de toda a ordem de referências, que continuamente transportamos connosco. 

Trilogia Portugal 15-5-20: itinerários de viagem