segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Pegadas

(neve gerês 14) Sigo passos de animais, como se aí pudesse estar o sentido do caminho, a saída do labirinto. Nada encontro, que não seja a fuga. (Este é o último post relativo à neve no Gerês).





domingo, 22 de fevereiro de 2015

Não temer

(neve gerês 13) Não deixar de caminhar. Ousar pensar que a vida também se encontra na dimensão ínfima, fratal, das paisagens, no espanto do infinito mínimo. Saber partir para novos lugares. Aceitar que há um fim inevitável, que a eternidade não existe, que a vida humana não é transitória, mas possibilidade de descodificar mundos até hoje desconhecidos. Inventar possibilidades. Diluir fronteiras. Não temer.






sábado, 21 de fevereiro de 2015

A superfície do movimento

(neve gerês 12) Caminhar com uma câmara fotográfica é muito diferente de caminhar apenas. Por um lado há um desequilíbrio e um desconforto que decorre dos cuidados do transporte, na relação física com o objeto. Por outro lado, uma câmara nas mãos, altera a nossa atitude, conceptual, perante o mundo visível. Há gestos para a construção de discursos, há um diálogo com as superfícies do visível que podem revelar aspetos da sua profundidade. Mundos tocados pela luz, matéria diáfana das fotografias.




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Síntese

(neve gerês 11) Não são apenas os matemáticos e os cosmólogos que procuram a grande síntese, a 'teoria de tudo'. Essa síntese pode ser a essência de um caminhar humano, o sentido de uma vida racional, o entendimento do 'belo'. As ciências da vida parecem querer negar a possibilidade de haver essa teoria que una a relatividade, geral e restrita, do infinitamente grande, com a física quântica, do mínimo irredutível. Na vida, na evolução das espécies, tudo parece demasiado imprevisível, sem possibilidade de ser traduzido em números. O desconhecimento do futuro parece permanecer a única realidade a que podemos associar a palavra eternidade.


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Documentalismo

(neve gerês 10) Há uma obsessão, um excesso, o caminhar num limbo. Há uma experiência existencial intensa. Há descrição das paisagens, dos lugares, espaços, por vezes, apenas humanizados pelo olhar, que constantemente nos escapam. O documentalismo é, ocasionalmente, considerado um parente pobre da grande expressão artística. Numa linguagem despojada, em diversos suportes, o documentalismo dá-nos a imagem de um mundo sublime, filtrado, fascinante, que abre portas novas ao conhecimento, edifica-se como construtor de mundos de esperança. O documentalismo trabalha a síntese, a ponte, entre a arte, a poesia e o conhecimento científico. De todas as formas expressivas colhe o seu saber.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Palavra em falta

(neve gerês 09) Há muitos anos alguém me acusou de nem ver as coisas, mas apenas as fotografar. Trinta anos passaram. A afirmação ficou-me. Na altura, tempos de fotografia analógica, fazia cerca de dez a quinze vezes menos fotografias do que hoje faço. Quando regresso de uma campanha, olho as fotografias e, invariavelmente, questiono-me 'mas onde está todo aquele mundo que vivi há tão pouco tempo?' Sim, as fotografias continuam a parecer-me poucas, mesmo quando me sinto a aproximar de um limite de possibilidade de captura. Um limite físico, espacio-temporal. Quando escrevemos, há uma miríade de pensamentos que conflui em poucas palavras. Quando revemos essas frases, parecer-nos-á impossível tanto ter ficado por dizer. Há uma palavra que falta. Há uma imagem que não encontramos. Continuamos a caminhar na neve.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Paisagem mudada

(neve gerês 08) Esta procura da neve poderia ser feita noutras geografias onde ela se apresente, eventualmente, revestida de uma maior 'espectacularidade'. Mas tão só buscamos as paisagens que se transformam, acompanhar esse processo de inquietante fascínio.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

País procurado

(neve gerês 07) Esta neve é, também, a procura de um país que talvez nem exista, que, seguro, constantemente se nos escapa quando o tentamos capturar. Mas essa é a essência do jogo do conhecimento, da procura adaptativa a uma realidade mutante. O jogo inapelável da própria vida.
Montalegre, 4 de fevereiro de 2015


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Subir

(neve gerês 06) Os pontos altos da montanha parecem exercer um chamamento sobre quem os observa. Há um desafio humano, uma luta interior, nesse caminhar em aproximação a um objetivo que se torna cada vez mais difícil. Há inegáveis riscos que se correm. O frio intenso associado ao vento cortante, a impossibilidade de lhes escaparmos. Há os nevoeiros densos, bruscos, que são como o movimento dentro de uma nuvem continua. Trilhos que se perdem. Esta visita ao Gerês foi um primeiro contacto para um regresso prometido.



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Branco contraditório

(neve gerês 05) A neve tem um fascínio contraditório. Talvez isto seja mais evidente para quem habita um país de clima temperado, fundamentalmente mediterrânico, de temperaturas médias relativamente elevadas face a países localizados mais ao norte. Por um lado há uma inegável beleza no branco transitório pousado sobre a terra, por outro lado há também um frio associado que torna estas climas muito difíceis de habitar. Percebemo-lo muito claramente no olhar dos camponeses que partem para os campos, ou regressam às aldeias ao fim do dia.




quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Cemitérios

(neve gerês 04) Ao longo do meu trabalho de recolhas fotográficas pelo país, não deixo de, ocasionalmente, fotografar cemitérios. Não se trata de nenhuma tendência mórbida. Poucas vezes me detenho na arte dos jazigos, não raro de excelente qualidade. Interessam-me as visões de conjunto, o carácter urbano destes espaços, os alinhamentos das campas, a enorme diversidade de soluções em todo o espaço português. Depois há uma ausência sempre presente, nomes de pessoas concretas, arranjos florais de plástico, cores esmaecidas. Silêncio.
Montalegre. 4 de fevereiro de 2015

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Anjo

(neve gerês 02) Pitões das Júnias foi símbolo de um mundo rural integro. Fora uma aldeia ‘descoberta’ num tempo em que já tudo se estava a transformar. Os etnólogos e antropólogos avançavam para o terreno, para o estudo e registo dessa realidade que permanecera relativamente estática, durante décadas, talvez mesmo alguns séculos. Não era, de qualquer modo, a permanência ao longo de um tempo imemorial. Havia vagas de povoamento, procura de lugares para habitar, sempre na procura de uma vida melhor. ‘Anjo’, é o nome do vértice geodésico localizado perto do cemitério de Pitões das Júnias. Desse ponto vemos a aldeia e, ao longe, um dos conjuntos de geo-monumentos mais impressionantes de todo o parque da Peneda-Gerês.



 

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Partir para a neve

(neve gerês 01) As fotografias que se seguem foram feitas num único dia, 4 de fevereiro de 2015. Serra do Gerês. Há muito que procurava aí a neve, sem nunca ter tido a oportunidade de a pisar nesse local. Não há muitos locais em Portugal onde possamos vivenciar o frio intenso. A serra da Estrela é uma evidência, pois quase sempre permanece coberta de neve durante o inverno. Noutros complexos montanhosos isso nem sempre acontece. Avancemos.

Serra do Gerês. Pitões das Júnias. 4 de fevereiro de 2015