quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Praia da Cova

Praia da Cova. 2013
[Ler, fazer, caminhar 23] Ao forte da praia da Cova acede-se por uma impressionante escada. Um contexto de paisagem que é dos mais impressivos do litoral português, bem próximo do sopé da maior escarpa continental, da península Ibérica: é a serra do Risco, cortada ao meio pela erosão marítima.
Praia da Cova. 2013

Forte da Praia da Cova. 2013

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O medo deslumbrado

Portinho da Arrábida. 2012
[Ler, fazer, caminhar 22] Nestes lugares, como o posto da Guarda Fiscal abandonado, encontro as multidões que não conheço, encontro as faces desconhecidas de quem quotidianamente luta com as forças da natureza, com o ilimitado poder do mar, das ondas, dos ventos do inverno, da escuridão gelada, da vertigem de um movimento suspenso sobre o desconhecido, sobre a ousadia de um traço, um desígnio de vida humana. Em lugares perdidos encontro o sentido da solidão, a força tenaz e a energia misteriosa que conduz os nossos passos num limbo de medo deslumbrado.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Cabo de Ares

Posto da Guarda Fiscal do Cabo de Ares. 2013
[Ler, fazer, caminhar 21] É dia um de janeiro e parto para uma nova caminhada, desta vez para o litoral de Sesimbra e serra do Risco. A caminho do forte da forte Praia da Cova, passo primeiro a um antigo posto da guarda fiscal do Cabo de Ares, que guarda vestígios de habitar não muito longínquo. Há um litoral fascinante, de mundos escondidos e a Arrábida é um dos mais singulares troços de todo o litoral português. Agrada-me a ideia da permanência de algumas "inacessibilidades", num mundo em transformação muito, também, pelo desejo de apropriação de toda a linha de costa, da paisagem junto do mar. Estamos num lugar muito isolado, onde o contacto, as deslocações, deveriam ser predominantemente feitas por mar, por um pequeno embarcadouro existente no local. Há uma arquitetura com traços de pragmatismo militar. Há um edifício onde ainda se encontram levantadas estruturas de madeira onde se apoiavam beliches para a dormida dos habitantes do sítio. Há louças partidas pelo chão.
Posto da Guarda Fiscal do Cabo de Ares. 2013

Posto da Guarda Fiscal do Cabo de Ares. 2013

Posto da Guarda Fiscal do Cabo de Ares. 2013

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Fazer molduras em papel e cartão

[Ler, fazer, caminhar 20] Ocasionalmente elaboro uma lista imaginária de todos os passos realizados para a feitura das molduras. Várias vezes tenho tentado fazer uma aproximação a todos os procedimentos para a realização de um trabalho em fotografia, desde a elaboração do projeto até ao seu último passo, seja ele exposição ou edição. Atualmente esses procedimentos prolongam-se pelo desenvolvimento de textos e desenho de páginas web. Aqui deixo apenas um pequeno capítulo relativo à elaboração de suportes. Ao longo destes últimos anos tenho trabalhado em várias soluções de exposição de fotografias, usando sempre como matéria base o papel e o cartão, algumas vezes o vidro, que, neste caso concreto dos Retratos de Leitura, não foi utilizado. São sempre soluções de custo relativamente reduzido e de desenho específico para cada desafio.

Elaboração de suportes, molduras e cartão.
1. Escolha dos materiais
2. Estimativa de todos os materiais e quantidades necessárias
3. Adequação do espaço de trabalho aos movimentos necessários
4. Plano de corte para redução de desperdícios
5. Marcação das placas para corte
6. Corte geral, de todas as peças necessárias
7. Corte específico, feito em peças previamente cortadas: janelas, arestas
8. Disposição apropriada das peças cortadas, quando se tratam de peças com tamanhos aproximados, as mesmas deverão ser etiquetadas
9. Primeiras colagens, juntar as placas, colocar fita
10. Acondicionar as peças em secagem
11. Secagem da primeira colagem
12. Forro das primeiras peças, geralmente são as da face exterior
13. Colagem da fotografia em suporte, quando necessário. Quando as fotografias são de reduzida dimensão, poderá não ser necessário este passo
14. Colocação e colagem das peças traseiras
15. Colocação e colagem das peças de travamento da caixa da fotografia
16. Corte de ajustamento do papel de forro das ilhargas e costas da fotografia
17. Remate do forro na parte traseira da moldura
18. Colagem, quando necessário, de um pequeno cartão de reforço da estrutura
19. Fecho, com tira de papel, do orifício de fixação à parede
20. Colagem de etiqueta identificadora
21. Assinatura
22. Primeira embalagem com papel vegetal
23. Planeamento da embalagem, número de molduras por caixa
24. Execução das caixas de embalagem, em função do meio de transporte a utilizar
25. Identificação das embalagens

Esta é a história de um fazer longamente maturado. Passos que levam anos a definir. Processos em que, a cada regresso, há uma evolução qualquer, a transformação, ou afinamento de processos. Tentarei, mais tarde, no âmbito desta Cidade Infinita, voltar a este tema, a uma síntese de todos os processos envolvidos no desenvolvimento, sistematização e concretização de trabalhos criativos, a margem de uma ciência.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Habitar entre em gigantes

[Ler, fazer, caminhar 19] Concluo as molduras em acabamentos que, por vezes, parecem não ter fim. Habito agora entre gigantes. Erguem-se de superfícies planas os leitores de todo o mundo conhecido. Depois dos lugares em que o mar molda a montanha, regresso a estes meus amigos silenciosos que são também todas as pessoas que não conheço, que nunca fotografei, mas que povoam todos os lugares que percorro, à procura de vestígios de sentido deste labor humano, que molda a singularidade maior de uma espécie que, ao mesmo tempo que se afasta de uma natureza intacta, edifica as cidades do futuro. Há um mundo sóbrio no limiar de uma qualquer possibilidade não conhecida.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Praia da Figueirinha

Praia da Figueirinha. 2012
[Ler, fazer, caminhar 18] A meio da tarde vou à praia de Galápos e, depois, à praia da Figueirinha, que parece enunciar a foz do rio Sado. A chuva que se aproxima, faz-me apressar o passo, não tarda a ter de regressar um pouco mais cedo do que inicialmente previra. A chuva miúda batida por um vento forte, impossibilita a recolha fotográfica. Regresso às molduras.
Praia da Figueirinha. 2012


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Portinho da Arrábida

Portinho da Arrábida. 2012
[Ler, fazer, caminhar 17] O Portinho da Arrábida é uma baía onde a floresta parece querer entrar pelo mar adentro. Tal como a praia da Ursa, tão diferente, o Portinho é também uma das mais insólitas praias do litoral português. Há diversos lugares dentro do lugar. Há um conjunto de penedos que se soltaram da superfície rochosa, nalguns sítios íngreme, e rolaram para o areal. Esses penedos chamam a atenção pela sua diversidade, pelas suas formas irregulares. Mas um olhar aproximado vai revelar-nos uma estranha e diversa densidade mineral. Muitas destas rochas sedimentares são compostas de habitantes fossilizados de um tempo antigo, animais marinhos, um sem número de conchas. Estas rochas são como as fotografias de um tempo antigo que precisamos de descodificar. São as pontes para um tempo antigo, antes, muito antes, de um povoamento humano, do advento de um olhar racional sobre a vida, um olhar distanciado, consciente. 
Portinho da Arrábida. 2012

Portinho da Arrábida. 2012

Portinho da Arrábida. 2012

Portinho da Arrábida. 2012

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Praia de Alpertuche

Praia de Alpertuche. 2012

[Ler, fazer, caminhar 16] Na praia de Alpertuche encontros os segredos que escondem estas paisagens da Arrábida. Ao contrário de Sintra, no dia anterior, a Arrábida, apresenta uma natureza muito diferente, em todos os aspetos. Na Arrábida dominam as rochas sedimentares e o coberto vegetal e muito diferente do litoral da serra de Sintra. O clima, numa linha de costa voltada a Sul, é muito mais ameno do que aquele que encontramos a norte. O coberto vegetal reflete isso mesmo, através de espécies características, do mar interior Mediterrâneo.
Praia de Alpertuche. 2012

Praia de Alpertuche. 2012

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mata do Solitário

Mata do Solitário. Arrábida. 2012
[Ler, fazer, caminhar 15] Regresso à Mata do Solitário, espreito essa floresta interdita da margem da estrada que dá acesso ao Portinho da Arrábida. Trata-se de um dos últimos vestígios da floresta mediterrânea primitiva existente em redor de todo esse mar interior. Estamos defronte o Atlântico, mas o clima é mediterrâneo.
Mata do Solitário. Arrábida. 2012

Mata do Solitário. Arrábida. 2012


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Últimos passos

[Ler, fazer, caminhar 14] Após o regresso a casa, verifico a colagem da moldura que havia montado de manhã e imediatamente avanço para as duas últimas molduras. O processo está controlado. Planeio os últimos passos, nomeadamente a forma de fixação à parede, caso, mais tarde, as fotografias venham a ser penduradas. Na montras da Av. 5 de Outubro, elas foram pousadas.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Praia da Ursa

Praia da Ursa. 2012
[Ler, fazer, caminhar 13] No regresso à praia da Ursa, já tenho pouco tempo de luz, antes do cair da noite. A praia da Ursa é um dos mais singulares e únicos lugares de todo o litoral português. Aqui o mar raramente se apresenta seguro para banhos, o acesso é íngreme e não muito fácil, mas a escarpa envolvente, a diversidade de rochas, o chão arenoso, ou coberto de calhaus rolados, definem um quadro de paisagem invulgar.
Praia da Ursa. 2012
Praia da Ursa. 2012

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Celebração da Cultura Costeira

Praia da Salema. Vila do Bispo. 2002
Hoje está na moda falar do mar, do seu potencial económico. Quase sempre se pensa então, creio, em grandes projetos que, invariavelmente não passam disso mesmo. Todos os dias há homens e mulheres que olham o imenso oceano, que lhe perscrutem os sinais, que no impercetível movimento das marés, na direção e intensidade do vento e com uma intuição estranha e misteriosa, desenham a eminência de uma saída para a pesca. Raramente se ouve falar deste labor, de quem como ninguém enfrenta o mar num quotidiano temerário, em gestos repetidos, milenares.
Celebração da Cultura Costeira foi um projeto que conheci recentemente e que, justamente, propõe-se fixar e inventariar as formas e culturas de relação das comunidades piscatórias com o mar.
Ficam aqui os principais objetivos tangíveis, desta iniciativa, como que o lançamento de uma rede para não deixar escapar um valor cultural ímpar, mas precário e, de alguma forma, ameaçado:
Em http://ccc.mutuapescadores.pt/ é exposto o essencial do projeto.
«Objectivos tangíveis:
- Criar uma rede de inventariantes locais da cultura costeira com o fim de identificar elementos desta herança cultural;
- Sistematizar uma metodologia de formação que possa servir um perfil de inventariante com experiência e prática cultural e profissional diversificadas e que assegure o recrutamento de novos inventariantes locais e a consequente renovação do processo de consciencialização cultural, contribuindo para a emergência de iniciativas de desenvolvimento regional;
- Conceber uma exposição itinerante e publicações que difundam a necessidade e o perfil deste trabalho, uma base de dados on-line e uma unidade de validação, que assegurem a sustentabilidade do processo findo o projecto fundador.»

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Multidão

Litoral de Sintra. 2012
[Ler, fazer, caminhar 12] Antes de subir ao cabo da Roca, desço a uma outra enseada que lhe está localizada imediatamente a sul. É uma paisagem grandiosa, onde enormes afloramentos rochosos se erguem do mar, próximos da costa. Até aqui cruzara-me com cinco pescadores e dois montanhistas, que ensaiavam escalada técnica numa escarpa perto do forte de Espinhaço. Subo finalmente ao Cabo e encontro uma multidão de gente à procura de um pôr do sol, atrás das nuvens. São turistas que ali se dirigem para estarem no ponto mais ocidental da Europa continental. O local é marcado por um cruzeiro, onde se concentram a maior parte das pessoas. Este é seguramente um local muito menos interessante que outros que lhe são muito próximos, como aqueles por onde passei, ou outros mais a norte, como a praia da Ursa, onde pensava não passar agora mas onde acabarei por regressar.
Litoral de Sintra. 2012
Cabo da Roca. 2012
Cabo da Roca. 2012

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Espinhaço

Forte do Espinhaço. Sintra. 2012
[Ler, fazer, caminhar 11] Prossigo a caminhada na direção do Norte. Pouco depois estou no forte do Espinhaço. É o regresso a um lugar onde tinha estado aquando do levantamento feito para o trabalho Portugal Património. Encontro, no espaço que constituíra o terreiro do forte, a lápide evocativa de um pescador que desaparecera naquele local, provavelmente na sequência de uma queda, no dia 22 de janeiro de 2006. Carlos Manuel Ramos Manaia nascera em 1967, e ali fora visto pela última vez. Continuo a caminhada pelo alto da falésia. Desço à enseada de Assentiz, um local deste litoral onde nunca tinha estado, mas que já por ele me deixara seduzir em viagens cartográficas. O acesso não é fácil, mas a enseada apresenta esse carácter de lugar intocado que nos parece falar do principio do mundo, da ausência de leituras humanas das paisagens. Não há muitos lugares em Portugal em que, olhando em redor, não se vejam numerosos vestígios do povoamento humano. Aqui há um quase impercetível trilho desce a ravina, há também detritos diversificados trazidos por um mar muito batido, mas não há muito mais do que isso.
Enseada de Assentiz. Sintra. 2012
Enseada de Assentiz. Sintra. 2012
Enseada de Assentiz. Sintra. 2012


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Desprendimento

Litoral de Sintra, próximo do Forte do Espinhaço. 2012
[Ler, fazer, caminhar 10] Já muito próximo da linha de costa, faço uma primeira paragem para fotografar desabamentos recentes da falésia rochosa. Encontro a rocha viva; o desprendimento de uma superfície vertical com cerca de 15 metros de altura deve ter acontecido neste Outono, talvez com as primeiras chuvas após o Verão. Recordo o vulcão dos Capelinhos, sobre o qual fiz um trabalho em 2007, por ocasião das comemorações do cinquentenário da erupção que lhe deu origem (http://www.duartebelo.com/02-trabalhos/0202-trabalhos/0202_33-dbt0192-fogo_frio/dbt0192_1rt.html). Os Capelinhos representam, de uma forma muito clara, alguns dos processos da fabricação das paisagens e a ação da erosão, marítima e atmosférica, a que a superfície terrestre está sujeita. Habituamo-nos desde cedo a associar às rochas a imutabilidade, face a um tempo devorador que continuamente transforma todos os seres vivos. Um olhar atento para o mundo mineral, revela-nos que nada escapa a essa voragem da seta do tempo, que nem a mais sólida das rochas deixará de a revelar.
Litoral de Sintra, próximo do Forte do Espinhaço. 2012
 











Litoral de Sintra, próximo do Forte do Espinhaço. 2012
Litoral de Sintra, próximo do Forte do Espinhaço. 2012

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O valor e o preço

Portinho da Arrábida. 2012
[Ler, fazer, caminhar 09] Tenho feito uma lista de viagens a realizar; algumas são de regresso, outras são a ida a sítios onde nunca tenha estado. Alguns regressos são para comparar espaço e tempo; outras idas são para melhorar a recolha fotográfica em relação a uma tecnologia mais arcaica. Um trabalho que nunca terá fim, que reencontra a cada viagem novas possíveis direções a tomar. Há novas ideias que surgem para o desenvolvimento de projetos editoriais, sejam em suporte de livro, sejam destinadas à publicação online. Em quase todos os momentos há a procura da viabilidade de uma atividade incerta que, creio, tem um valor elevado, mas um preço baixo, particularmente no tempo atual em que os valores da terra e do trabalho parecem não parar de perder valor, face aos movimentos especulativos ligados ao setor financeiro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Partir para o mar


[Ler, fazer, caminhar 08] Antes de sair para a primeira viagem, verifico se as duas fotografias já coladas estão prontas, se a secagem correu bem, se não houve escorrimento de cola para sítios indesejados. Estava tudo de acordo com o planeado. A fotografia, quando colocada na vertical, apresenta a robustez necessária. Monto e colo mais uma fotografia matinal e saio para a primeira viagem. Parto em direção a Sintra. Estaciono na Azoia, perto do Cabo da Roca, e inicio a descida para o mar. Sigo trilhos de pescadores. Em breve estou a ouvir a rebentação das ondas. O dia está claro e frio. Algumas nuvens brancas percorrem céleres o céu sobre esta linha de mar agitado.
Litoral. Azoia. Sintra. 2012

Litoral. Azoia. Sintra. 2012


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Colar

[Ler, fazer, caminhar 07] Chegado a casa imediatamente começo o trabalho de corte e montagem das molduras que vão envolver as fotografias. Havia, há sempre, a possibilidade de o trabalho não correr como previsto. Dado o tempo disponível não permitir grandes margens de erro, avanço com as primeiras colagens para assegurar a feitura do trabalho e deixar a escuridão para a secagem da cola. Uso, na maior parte das situações, cola branca, vulgarmente destinada a papel, cartão e madeira, que oferece uma ótima resistência, apesar da secagem ser relativamente lenta, particularmente no inverno, com o tempo frio e húmido. De qualquer forma o comportamento das superfícies coladas é muito bom ao longo do tempo.