quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Maria Ondina Braga

[três viagens 35] Braga, foi uma paragem enquadrada num outro projeto, sobre Maria Ondina Braga, nas comemorações do centenário do seu nascimento. Fiz as fotografias iniciais da sua geografia próxima, desta cidade que teve um significado primordial em toda a sua escrita, mesmo quando partiu para o mundo, num singular percurso literário. Estes trabalhos de mapeamento fotográfico interpenetram-se são aqui, não raras vezes, o somatório de diferentes linhas que hão de ser o desenho de um mapa evolutivo, sempre inacabado.

Escultura de Maria Ondina Braga, Braga, 2022

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Emigração

[três viagens 34] Segui para A Ver-o-Mar. O mar de estufas que ali me levara não era suficientemente expressivo em relação ao objetivo que procurava. Em Laúndos, no alto do monte de São Félix, encontrei o que não buscava e a evocação da emigração, através de uma escultura monumental, que tão forte impacto teve no passado recente de todos estes lugares.

Monte de São Félix, Laundos, Póvoa de Varzim, 2022

 

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Norte

[três viagens 33] Parti de Viseu para as proximidades de Paços de Ferreira. O primeiro objetivo desta terceira e última viagem, ao norte, era fotografar o complexo industrial IKEA. Aquela paisagem não correspondeu ao que idealizara para aquele retângulo cartográfico. Estava a repetir outras situações, com referências industriais, já presentes no conjunto das imagens, particularmente uma que fizera no complexo industrial de Setúbal. Perto deste local havia um santuário, de Nossa Senhora do Pilar, que ocupava o topo de uma elevação. O lugar era ainda um importante ponto de telecomunicações, onde podíamos observar um conjunto de antenas. No bosque de carvalhos seculares, envolto em nevoeiro, encontrei o reflexo de uma paisagem telúrica tão presente na religiosidade desta região do país.

Santuário de Nossa Senhora do Pilar, Penamaior, Paços de Ferreira, 2022

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Três lugares próximos

[três viagens 32] De regresso a Viseu, onde resido, passarei por Rio Maior, onde tenho uma reunião, na biblioteca municipal. Mais uma vez saio cedo de casa para fazer fotografias em Manique do Intendente, São João da Ribeira e a própria cidade de Rio Maior. São três lugares relativamente próximos mas muito diferentes entre si.

Manique do Intendente, Azambuja, 2022

São João da Ribeira, Rio Maior, 2022

Rio Maior, 2022

 

domingo, 25 de setembro de 2022

"Viagem a Portugal"

[três viagens 31] Há escassos meses tinha estado envolvido na reedição da obra Viagem a Portugal, de José Saramago, na ilustração com fotografias do meu arquivo, que iriam estar em diálogo com as imagens do escritor.

Vale do rio Douro, Miranda do Douro, 1996


sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Pausa

[três viagens 30] A minha ida a Lisboa tinha um objetivo. Havia marcado uma deslocação à Fundação José Saramago para a digitalização das fotografias que o escritor fizera na sua Viagem a Portugal, realizada nos anos 1979 e 1980. De um ponto de vista meramente estético, as imagens não são especialmente interessantes. O que de mais sedutor contêm é o seu carácter documental e o facto de sabermos que serviram de apoio, eventualmente de mnemónica, para a escrita desse livro que é um dos mais bem conseguidos retratos literários de Portugal. Quando observamos um mapa com a implantação dos lugares percorridos, percebemos com maior clareza a extensão da sua viagem, do labirinto de lugares que a mesma espelha, mas também alguns dos lugares que Saramago não teve oportunidade de visitar. Lisboa foi uma pausa para José Saramago, mas o permanecer em viagens cruzadas.
Viagem a Portugal (1979-1980), de José Saramago


quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Estuário do Sado

[três viagens 29] Nas margens do estuário do Sado procurei das marcas da industrialização em diálogo com um extenso lençol de águas tranquilas, a evocar também o Mar da Palha e a singularidade tão rara destes dois estuários, de duas serras, da Arrábida e de Sintra, tão diferentes entre si. Dois microcosmos tão próximos, de representação do Mediterrâneo e do Atlântico, tão próximos e tão distantes. Paisagens que nos erguem, que descodificamos, que atribuímos sentido com as fotografias, com artefactos de comunicação que construímos. Terminava assim esta viagem ao Sul.

Estuário do Sado, Setúbal, 2022

 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Ribeira de Pena

[três viagens 36] Ribeira de Pena foi a paragem seguinte. Queria captar o vale do Tâmega e a barragem próxima, de construção recente. É o mais complexo sistema de produção elétrica que existe no nosso país, que articula a produção hídrica, diurna com a eólica, noturna, para bombar de novo a água para uma cota elevada, quando o consumo é significativamente mais reduzido, o que daria origem a desperdício da energia captada pelas eólicas, no alto das serras envolventes. Até ao cair da noite fotografei a vila. Os dias são curtos, tento rentabilizar ao máximo a luz disponível.

Ribeira de Pena, 2022

 

Operação Militar Especial

[três viagens 28] A vila de Monchique, pouco a norte das termas, foi a paragem seguinte. Estes dois povoados não faziam parte dos lugares que tinha que fotografar. Foram paragens apenas para atualização do meu acervo de registo de lugares. Ao cair da noite, ainda com a luz do final da tarde, avancei para norte, em direção ao Alentejo, por uma estrada que serpenteia pela serra. Pouco depois fazia um desvio à estrada asfaltada e procurava um local para montar a tenda. Na manhã seguinte tenho uma mensagem no meu telemóvel. A Rússia tinha invadido a Ucrânia. Depois de mais de duas décadas de paz, havia de novo uma guerra na Europa. A Rússia, com as palavras de “Operação Militar Especial”, iniciou uma guerra de futuro imprevisível, relegando para segundo plano essa outra batalha iniciada em 1972, na Conferência de Estocolmo, contra as alterações climáticas, que já nessa altura se enunciavam. 

Segui para a barragem de Santa Clara, um extenso lençol de água que rega as numerosas estufas do litoral, da zona de São Teotónio, Odemira. Depois de uma breve paragem em Garvão, prossegui para Messejana, onde uma vez pernoitei na casa de um casal de amigos arquitetos, numa viagem a Serpa, enquadrada num concurso para um edifício público. O pelourinho comprova um antigo poder municipal. Do antigo castelo praticamente não restam vestígios, mas o povoado mantém a brancura da cal nas paredes das casas. As ruínas do convento de São Francisco, são também vestígio de um passado onde a religião assumia uma dimensão de estruturação espacial e social do lugar.

Monchique, 2022

Albufeira da Barragem de Santa Clara, Odemira, 2022

Messejana, Aljustrel, 2022

Convento de São Francisco, Messejana, Aljustrel, 2022


 

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Caldas de Monchique

[três viagens 27] Nas Caldas de Monchique localiza-se uma praça de singular beleza, de equilíbrio arquitetónico muito bem conseguido, entre o terreiro, os edifícios que o conformam e as árvores que o povoam. Cada vez que volto a este lugar não deixo de pensar quando é que alguém se vai lembrar de fazer obras de melhoramento e destruir o carácter daquele lugar termal.
Caldas de Monchique, Monchique, 2022

 

domingo, 18 de setembro de 2022

Geografia, cartografia, fotografia

[três viagens 26] E cada projeto puxa novos projetos, neste caso concreto, ia desenvolvendo a ideia de aprofundar este atlas do espaço português, de apertar a malha e representar muitos mais lugares. Juntar geografia, cartografia, fotografia, algumas palavras.

Praia de Monte Clérigo, Aljezur, 2022

Praia de Monte Clérigo, Aljezur, 2022

 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Praia de Monte Clérigo

[três viagens 25] Perto da praia de Monte Clérigo estava, mais uma vez, numa franja de território, numa quadrícula, onde nunca tinha estado. As franjas do mapa onde tinha que ir para completar este mapeamento fotográfico. O litoral vicentino, com as suas escarpas em xisto, é uma paisagem que impressiona. Estes lugares, onde a terra acaba e o mar começa, ou vice-versa, têm sempre um enorme dinamismo para quem deles se aproxima para fotografar. São sempre diferentes em função do estado do mar, das marés, da hora do dia, da estação do ano, que trazem consigo uma luminosidade sempre diferente. Há, invariavelmente, a dimensão sonora provocada pela rebentação das ondas que ajuda a que nos ausentemos na abstração da tentativa de captar a natureza esquiva destas fronteiras.

Praia de Monte Clérigo, Aljezur, 2022

 

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Praia da Rocha

[três viagens 24] A Praia da Rocha foi, ainda na década de 1960, um dos principais cartazes turísticos de uma corrida às praias que nessa altura se iniciava. O movimento, que ainda hoje permanece, traria consequências profundas na urbanidade de todo o litoral português, com algumas raras exceções, como seja a Costa Vicentina, onde a pressão não deixa de ser forte. Atualmente, a Praia da Rocha é um lugar de servidão turística onde o primitivo carácter paradisíaco das arribas areníticas, em amarelo e ocre, praticamente não se vê face à imponência dos blocos habitacionais que parecem querer avançar sobre o mar. Este não deixa de ser um lugar de estranheza abstrata e fascinante, perturbadora. Fiquei com o desejo de regressar a Portimão, que representa a continuidade desta cidade desconexa. Cada viagem é a vontade de regresso. É a tentativa de registo de um tempo célere que tudo apagará na sua passagem. 

Praia da Rocha, Portimão, 2022

 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Fuseta

[três viagens 22] Adormecera cedo. Quando me levantei ainda não eram cinco da madrugada. Fiz a viagem até ao mundo noturno da Fuseta. Fotografei a localidade, a malha urbana, ainda iluminada pelos candeeiros. Ainda estava escuro quando a iluminação pública foi desligada. Momentaneamente vivi uma experiência singular ao percorrer o lugar em silêncio e escuridão. Havia, pontualmente, uma casa onde se acendia a luz. Prosseguir para a zona portuária deste povoado de pescadores do concelho de Olhão. O dia despontava com o grasnar das gaivotas. Sempre que fui à Fuseta não deixei de ir fotografar o edifício do Instituto de Socorros a Náufragos. Construído sobre pilotis, com uma rampa de acesso, janelas redondas, uma interessante peça de arquitetura, uma ilha de modernidade.

Fuseta, Olhão, 2022

Fuseta, Olhão, 2022

 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Foz do Guadiana

[três viagens 21] Em Vila Real de Santo António, no extremo sul do Portugal, na foz do Guadiana, fotografei o paredão que conforma a Foz do rio e um pequeno farol, na altura com pescadores por ali dispersos, na conversa, lançando o anzol às águas com corrente forte. Um lugar de fronteira onde ouvia o castelhano tanto quanto o português. De algum modo, as paisagens são sempre estranhas, temos um qualquer problema de integração, de, simultaneamente, estarmos fora e estarmos dentro dos lugares, há qualquer coisa de inadaptação contínua. O meu dia de recolhas fotográficas estava a chegar ao fim. O sol já se havia posto. A faixa litoral tem um povoamento excessivamente denso, procurei um local de pernoita longe. Voltei para trás, quando a terra se enruga e se eleva nos cabeços redondos da serra do Caldeirão. A escuridão avançava mas não tive dificuldade em encontrar, seguindo uma estrada de terra, um pequeno terreno onde havia meia dúzia de amendoeiras. Montei a tenda e passei a noite naquele silêncio que não encontro nas cidades.

Foz do Guadiana, Vila Real de Santo António, 2022

 

domingo, 11 de setembro de 2022

Barrancos

[três viagens 19] Em Barrancos, como no Rosmaninhal, o cemitério ocupa a cota mais elevada do lugar. Há uma acentuada uniformidade no desenho das campas, dominadas pelo mármore branco. Ao contrário do traçado urbano, que se adapta organicamente a uma topografia irregular, no cemitério tudo é regular, os vários talhões são planos, separados por muros que diferenciam níveis diferentes, como socalcos. A vista em redor é ampla.

Barrancos, 2022

 

sábado, 10 de setembro de 2022

Madrugada em Campo Maior

[três viagens 18] Quando retomei a viagem era noite. Teria bastantes quilómetros pela frente, até Campo Maior, local que assinalara como a próxima paragem, também numa quadrícula onde nunca tinha estado. O dia despontara coberto de nuvens. Estava agora em terras alentejanas. Paisagem suave pontuada por sobreiros e azinheiras. Era o Alentejo de Campo Maior.

Campo Maior, prox., 2022

 

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Rasto performativo

[três viagens 17] Regressei, depois, ao Rosmaninhal, onde fiquei a fazer fotografias, a aproveitar a luz suave do fim do dia, já com o sol posto. Fotografo já sem um objetivo específico, que não seja o desejo de conhecimento do lugar e a captura de algumas imagens. Cada lugar tem sempre aspetos surpreendentes. Nas fotografias fica o rasto performativo do movimento realizado pelas ruas da aldeia.

Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, 2022 

Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, 2022


 


 

 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Cabeço Alto

[três viagens 16] Do Rosmaninhal desloquei-me para ponte, para atravessar a linha imaginária que estava desenhada no mapa, que me permitia saltar para outra quadrícula, para um estreito pedaço de território onde nunca tinha estado. Vi na carta militar e nas imagens de satélite qual seria o melhor percurso a seguir. No itinerário passei por um vértice geodésico de primeira categoria, Cabeço Alto, com 403 metros de altitude. Embora não seja um ponto muito elevado, dele colhemos um panorama muito abrangente, desde as paisagens de Espanha, ali bem perto, da serra de São Mamede, no Alto Alentejo, também a Gardunha e a Estrela, a poente; para norte toda a extensão desta planície até a terra se começar a enrugar de forma mais acentuada, na serra da Malcata e serra das Mesas, onde a temperatura se torna mais fria. Ainda teria de percorrer cerca de dois quilómetros e meio, para chegar à linha que queria passar. Segui por uma estrada de terra, de acesso fácil em direção ao rio Erges. Pouco depois estava com vista para o vale. Parei o carro e desci, por entre uma mata de carvalhos jovens.

Cabeço Alto, Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, 2022

 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Rosmaninhal

[três viagens 15] O Rosmaninhal é uma aldeia de grandes dimensões que se desenvolve em três núcleos. O cemitério ocupa as cotas mais elevadas do lugar, a partir do qual se vêem os campos em redor. É uma paisagem seca, árida, terras de xisto que se prolongam para sul, para lá do Tejo, que não está longe e que aqui faz fronteira com Espanha.

Rosmaninhal, Idanha-a-Nova, 2022
 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Adiça

[três viagens 20] Santo Aleixo da Restauração foi a próxima paragem. Fiquei-me pela periferia, num espaço de relação entre a malha urbana e a sua articulação com a paisagem plana envolvente. Prossegui para Vila Verde de Ficalho, no sopé da Serra da Adiça. Eram as paisagens inomináveis do Alentejo fronteiriço. Deslocava-me para sul, parando, pontualmente num ou noutro lugar de acordo com a sua localização, com a necessidade de mapear mais uma quadrícula.

Serra da Adiça, Vila Verde de Ficalho, Serpa, 2022

 

Infantado

[três viagens 14] Depois de uma estadia breve em Lisboa, passei pelo Infantado, que é atualmente pouco mais do que uma rotunda no meio do nada. Uma rotunda com características peculiares: nela está representada uma cena de descortiçamento de um sobreiro, com todo o bestiário associado, raposa lebre e perdizes, além de três homens, um empoleirado na árvore e os outros dois no solo, a receberem a cortiça.

Infantado, Montijo, 2022

 

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Noite instalada

[três viagens 13] Para rentabilizar o dia, ainda passei por Pegões, mas a noite estava definitivamente instalada e não consegui, com a luz disponível, fazer mais fotografias dentro do objetivo que perseguia.
Pegões, Montijo, 2022

 

sábado, 3 de setembro de 2022

Ciborro

[três viagens 12] O fim da tarde já se enunciava. Se o registo da EN 1, em Pombal, era importante no contexto deste levantamento, ou deste retrato da paisagem portuguesa, o mesmo se poderia dizer da EN 2, que recentemente foi adquirindo o singular estatuto da mais extensa estrada nacional. São 738,5 quilómetros entre Chaves e Faro. É uma estrada que define um pouco toda a grande diversidade de solos que encontramos em Portugal, de Trás-os-Montes até ao Algarve. Fotografei a estrada nas proximidades de Ciborro, que marca o quilómetro 500, em zona de montado.

Ciborro, Montemor-o-Novo, 2022

 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Charneca

[três viagens 11] Pouco depois estava em Couço. Em plena charneca do Tejo. Há geografias que queremos representar pela fotografia, mas que a tarefa não se apresenta fácil. A marginar a estrada, próximo da ponte sobre o rio Sorraia, encontrei dois bancos de jardim, onde ninguém se sentaria há muito tempo. Era um bom exemplo desta paisagem de charneca onde o povoamento humano foi sempre pouco denso.

Couço, Coruche, 2022

 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Ponte Rainha Dona Amélia

[três viagens 10] De Pombal segui para Muge, onde queria fotografar a ponte sobre o rio Tejo. A ponte Rainha Dona Amélia foi inaugurada no dia 14 de janeiro de 1904. Em 2001 foi encerrada ao trânsito ferroviário, sendo objeto de uma intervenção no sentido de a adaptar à circulação de automóveis ligeiros, que hoje mantém. Com um comprimento total de 840 metros, tratar-se de um significativo exemplo deste tipo de construção, em ferro. Foi este o motivo desta deslocação, registar uma construção emblemática da transição, em Portugal, do século XIX para o século XX.

Ponte Rainha Dona Amélia, Muge, Salvaterra de Magos, 2022