segunda-feira, 29 de junho de 2015

Palácio da Sempre-Noiva

[pst 021]  É como que uma interpretação construída da paisagem alentejana. Sofreu no fim do século XIX profundas mutilações quando se tentou adaptar a casa a funções agrícolas. É uma manifestação da arte mudéjar e um exemplar raro da casa senhorial rural do século XVI português. Não se conhece a origem do nome, mas é anterior ao palácio, pois este seria edificado por D. Afonso de Portugal, arcebispo de Évora, na herdade da Sempre-Noiva. É atribuído ao local o cenário da novela Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.
20. Palácio da Sempre-Noiva. Évora. 6 de setembro de 1992.

domingo, 28 de junho de 2015

Casa das Torres

[pst 020]  O solar minhoto, símbolo da nobreza rural do Norte, representa uma tradição de edificar baseada na utilização de elementos construtivos de raiz erudita e outros de origem local, o que confere a esta arquitetura uma série de variantes e de singularidades. A Casa das Torres, setecentista, adota uma estrutura arquitetónica assente na planta em U, trazida para Portugal no século XVII. A sua volumetria imponente tem como elementos fundamentais os dois torreões e uma escadaria central de acesso ao andar nobre da residência. São dois dos elementos de síntese da casa barroca do Minho.
19. Casa das Torres — Facha. Ponte de Lima. 7 de outubro de 1996.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Construção e gesto

[ronda 06] Mas, depois, há a construção civilizacional. E essa construção é feita de gestos individuais que se somam num número ilimitado. E o sentido da vida, poderá ser esse, a edificação de uma casa humana, a luta pelo afastamento de um lugar de origem, de incerteza, de medo. O passado, as mais avassaladoras descobertas científicas do presente, dizem-nos que o mundo é um lugar aberto e indeterminado. Aparentemente as possibilidades são cada vez mais vastas no futuro, a liberdade é cada vez maior.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ouguela

[pst 019]  D. Dinis concede-lhe foral em 1298 e ordena a reedificação do seu castelo em 1310. Ouguela, não longe de Campo Maior, situa-se num morro elevado na margem direita da ribeira de Abrilongo, próximo da sua confluência com o rio Xévora, afluente do Guadiana. É uma pequena aldeia rodeada de muralhas, que se desenvolve em redor de uma antiga praça de armas. Talvez transmitido pela dimensão cósmica da vasta planície, é um exemplo notável de ordem espacial e da dignidade da arquitetura alentejana.
18. Ouguela. Campo Maior. 20 de março de 1996.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Chafariz das Portas de Moura

[pst 018]  No ano de 1960 Jaime Cortesão responde ao convite de um amigo para visitar algumas regiões do Sul, seduzido "pela necessidade de interpretar a história à luz direta da geografia". Sai de Lisboa por Vila Franca, atravessa o Tejo e a Lezíria, cruza o território alentejano. "E de súbito Évora, sob o tenebroso meteoro, aparece e desdobra-se numa visão que acentua e transcende o real. A cidade caiada de fresco, como é de hábito às vésperas de S. João, radia a sua brancura de espectro milenário. Ressalta nitente de alvura, contra a massa de treva que a envolve. Ganha relevo luminoso e táctil, que confunde e ofusca a vista. O olhar abre-se com pasmo delicado. Será sonho ou realidade? Ilusão dos olhos cansados de aridez? Miragem de charneca? Mas não; o que temos em frente é o próprio espírito revelado da cidade, graças ao acaso daquela hora inefável." (Jaime Cortesão, Portugal - a Terra e o Homem).
17. Chafariz das Portas de Moura — Évora. 4 de abril de 1996.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Rio Tejo

[pst 022]  É o maior rio da Península Ibérica e, pela sua posição, o mais importante na estruturação do seu vasto território. Em 1978 dá-se uma das suas maiores cheias e, em Fevereiro do ano seguinte, a maior até hoje registada no Ribatejo, quando o rio subiu quase até aos nove metros em Santarém. Toda a Lezíria ficou submersa. As cheias do Tejo, pelos nateiros que as suas águas transportam e que se depositam na superfície alagada, contribuem poderosamente para o aumento da fertilidade dos campos do vale, já celebrada por Estrabão.
21. Rio Tejo — Santarém. 12 de janeiro de 1996.


Lugar. Morte

[ronda 07] A vida é um lugar fabuloso onde todo o imaginável conflui. E não há limites. Mesmo a morte, que nos espreita a toda a hora, é um estímulo para a pacificarmos, para a ludibriarmos, para construirmos uma casa onde ela entre, serena, e saia mais completa.

Vida. Evolução. Sentido

[ronda 05] Não se consegue explicar com precisão como começou a vida na Terra. Há várias teorias, mas é provável que nunca se saiba ao certo o modo como tudo começou. Sabe-se que o decurso do tempo levou ao desenvolvimento de formas de vida cada vez mais complexas. Numa sucessão de milhões de anos aconteceram inovações extraordinárias na adaptação a um ambiente sempre em mudança. A consciência, que de resto muitos animais possuem, e a linguagem simbólica, apenas existente nos humanos, são o último passo evolutivo de uma espécie cujo sucesso a levou a povoar todo o planeta num período de tempo relativamente curto. A vida poderá não ter outro sentido que não a adaptação, sobrevivência e a passagem dos genes que nos constituem para a geração seguinte.


Largo da Sé

[pst 017]  A escolha de um lugar para habitar tinha um valor fundamental no mundo antigo. Os sítios eram governados pelo genius loci — o espírito do lugar —, e antes de construir celebrava-se um pacto com a divindade local. São inúmeras as situações em que se percebe uma estreita relação entre o objeto arquitetónico e o local onde é edificado. Encontram-se pedras afeiçoadas, da época romana, no embasamento da Sé Catedral de Viseu e é provável que existam no subsolo outros vestígios de povoamentos anteriores. A cidade é edificada numa elevação, centro de um extenso planalto, território granítico da Beira-Alta. É um local de cruzamento de vias de comunicação. No cume, em torno de um largo, erguem-se os edifícios mais significativos.
16. Largo da Sé — Viseu. 13 de abril de 1996.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Regresso sistemático

[ronda 04] Há um regresso sistemático a reflexões anteriores, tentativa de aprofundar, pela palavra, leituras do mundo, de um específica condição humana de diálogo com o visível, consciência de si. Desenho de um mapa.


 

sábado, 13 de junho de 2015

Terreiro do Paço

[pst 016]  Em 1755, a terra estremece violentamente e Lisboa é uma das cidades mais afetadas pelo terramoto. Estava-se no reinado de D. José. Por iniciativa do Marquês de Pombal, a baixa lisboeta é reconstruida segundo uma malha regular e ortogonal, sendo os seus edifícios erguidos de acordo com os mais inovadores e esclarecidos modos de edificar da época. Era, não apenas mais um passo na afirmação de Lisboa como capital de um país, à volta da qual se desenvolve a consciência de Nação, mas também a edificação de um símbolo, que é o da última das cidades mediterrânicas virada para o Atlântico, centro de encruzilhada de grandes rotas marítimas.
15. Terreiro do Paço — Lisboa. 8 de dezembro de 1996.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Penhascos

[ronda 03] Na caminhada solitária sobre penhascos debruçados sobre o mar revolto, não podemos deixar de ter a noção da nossa fragilidade, do risco nos nossos passos. Quando vivemos intensamente, a morte parece não existir, não ser possível.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Porto

[pst 015]  Não longe do mar, sob um céu cinzento e húmido, nasce do Douro e desenvolve-se em torno de um morro, em cujo sopé se atravessa o rio. A cidade do Porto ostenta uma singular dignidade, poderosa e profundamente enraizada no seu solo acidentado. É a cidade das revoltas populares do século XVIII, de liberais e burgueses no século XIX, de democratas contra o demorado regime de Salazar, no século XX.
14. Porto. 22 de outubro de 1989.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Universidade

[pst 014]  Em 1941 Portugal é visitado pela exposição itinerante "Moderna Arquitetura Alemã", ou a arquitectura do III Reich. Mostrava-se a estética monumental da arquitetura nazi, dos grandes parques, alamedas, estádios, em espaços que simbolizavam o poder numa dimensão atemporal. Numa altura em que poucas notícias vinham do exterior, os arquitetos portugueses são marcados por este movimento. Na alta de Coimbra procede-se a uma das mais vastas demolições de um centro histórico antigo para, em seu lugar, se construir a Universidade. É a imagem portuguesa de uma monumentalidade forçada e do desrespeito pelo património histórico mais venerável. É paradoxal que os testemunhos do passado tenham sido destruídos para no seu lugar construir um monumento à transmissão do saber académico.
13. Universidade — Coimbra. 2 de maio de 1996.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Um dia

[ronda 02] As notas que se seguem partiram de uma viagem de apenas um dia, mas também de aproximações que duraram anos, a um lugar. O local em si não é significativo, mas é-o o processo. O encontro de uma montanha com o mar, fotografias feitas ao longo de mais de duas décadas. Porto de embarque para rotas desconexas.
1992.

2015.

Monte Abraão

[pst 013] A urbe desenvolve-se com o abandono do nomadismo, no período Neolítico, através de pequenos povoados e teve um processo de evolução descontinuo no espaço e no tempo. É por essência o espaço dos homens, ou a concretização do sonho de habitar o cosmos por oposição ao caos, ao mundo natural, à natureza violenta e hostil. No entanto, a paisagem urbana mudou, e o conceito de cidade foi, ou está a ser, alterado. O núcleo urbano, compacto e claramente delimitado, adquire outro sentido. Hoje fala-se em regiões urbanizadas. Atualmente, pensar a cidade e possíveis formas de agir sobre ela, tem que partir do entendimento de uma realidade que inclui a noção de degradamento progressivo.
12. Monte Abraão — Queluz. Sintra. 11 de fevereiro de 1991.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Escola Superior de Comunicação Social

[pst 012] De um modo geral, as discussões em torno da cultura portuguesa atual não passam pela recente produção do espaço arquitetónico. É estranho que isso aconteça num país de tão marcados problemas de ordenamento territorial. Apenas a defesa do património histórico liga arquitectos e outros intelectuais. À ausência de uma pedagogia generalizada sobre a feitura da arquitetura contemporânea sucumbem os próprios arquitetos. Poucos e em gestos dispersos procuram o espaço de invenção, a utopia, ou uma ideia de Paraíso.

11. Escola Superior de Comunicação Social — Lisboa. 6 de dezembro de 1996.

domingo, 7 de junho de 2015

Ponte D. Luís I

[pst 011] A história da Cidade Invicta é também a das suas pontes, da travessia do Douro. A Ponte das Barcas foi destruída durante a fuga da população portuense às tropas francesas, em 1809. Morreram centenas de pessoas. Em 1843 é construída a Ponte Pênsil, sendo ainda visível na margem direita do rio,  parte da sua estrutura. Veio a seguir a ponte ferroviária de D. Maria, obra sublime da engenharia do ferro. A Ponte D. Luís foi inaugurada em 31 de Outubro de 1886. Em aço, é formada por dois arcos de curvas parabólicas divergentes e por dois tabuleiros, um superior, que liga a Serra do Pilar ao morro da Sé, e outro inferior, unindo a Ribeira do Porto às caves do vinho generoso de Vila Nova de Gaia. Durante a cheia de 1909, o nível da água esteve a meio metro do tabuleiro inferior, o que voltaria a acontecer em Janeiro de 1962. Foram os momentos mais críticos da vida da Ponte. Mais tarde seria construída a Ponte da Arrábida, depois a Ponte São João, ferroviária, e recentemente a Ponte do Freixo.
 
10. Ponte D. Luís I. — Porto. 17 de abril de 1990.

sábado, 6 de junho de 2015

Auto Estrada nº1

[pst 010] A partir do final da década de 1950 inicia-se um processo de movimentações sociais, que provocará alterações muito significativas num ritmo secular de desenvolvimento. Embora tivessem existido no passado outros fluxos migratórios, é a partir desse período que se dá uma emigração massiva das áreas de Interior, estagnadas, para os países mais desenvolvidos da Europa e Estados Unidos. Mais tarde, um novo movimento traz muita gente para a periferia das grandes cidades, que acolhem também as populações vindas, em 1975, do Império desfeito. Rompendo com os tradicionais conceitos de espaço regional, desenvolvem-se as regiões dinâmicas à volta de Lisboa e do Porto e ainda o eixo sub-litoral entre Setúbal e Braga.

 
9. Auto Estrada nº1 — Ponte sobre o Rio Trancão. Lisboa. 2 de setembro de 1996.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Ponte sobre o Tejo

[pst 009] Denominada inicialmente Ponte Salazar, essa designação é alterada, após a Revolução dos Cravos, para Ponte 25 de Abril. Todos a conhecem como Ponte sobre o Tejo. Obra-símbolo do poder e do regime do Estado Novo, representa o ponto culminante da engenharia do ferro do século XX português. Inaugurada em 1966, irá provocar profundas alterações na Área Metropolitana de Lisboa, dando início a uma urbanização desmedida e descontrolada da Península de Setúbal.

8. Ponte sobre o Tejo. Almada. 3 de setembro de 1996.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Central eólica - Serra do Poio

[pst 008] Constituem uma versão desenvolvida dos moinhos que outrora marcavam o cume dos montes em determinadas áreas do país. Utilizam também a força do vento, não para moer cereais, mas para produzir energia elétrica. Estes delicados gigantes eólicos são fruto da pesquisa de energias alternativas e não deixam na paisagem as pesadas marcas das barragens, nem o ar poluído das centrais termoelétricas.
7. Central Eólica — Serra do Poio. Lamego. 4 de outubro de 1996.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Serra do Espinhaço de Cão

[pst 007] Desde tempos imemoriais que as deslocações entre lugares eram feitas a pé ou de burro. O uso do tempo disponível era outro e homens e mulheres andavam por toda a parte. Os caminhos mais longos passavam por povoações, albergues e tabernas. A construção do caminho de ferro não viria a alterar muito esta situação: eram apenas postas em contacto as cidades do Reino. Com o desenvolvimento da rede de estradas, tardiamente construída após a Segunda Grande Guerra, todas as povoações vão ficando ligadas entre si. Deixam de se utilizar os caminhos velhos e muitos lugares tornam-se inacessíveis. Opera-se uma profunda mutação na organização do território.

6. Serra do Espinhaço de Cão. Aljezur. 27 de abril de 1996.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Rio Douro

[pst 006] Orlando Ribeiro escreve em Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico: "No Douro, em encostas que até aí só davam mato bravio, começou, no séc. XVII, a levantar-se a escadaria dos geios ou socalcos destinados a suster a terra, em parte criada com a rocha moída, lodos do rio e cabazadas de estrume — a mais vasta e imponente obra humana do território português. Um porto de estuário, um rio navegável, um mercado externo (Inglaterra, Brasil, depois outros países do Norte da Europa) desenvolveram a produção de um afamado vinho licoroso, tratado nos enormes armazéns de Vila Nova de Gaia, onde envelhece; a cidade fronteira deu o nome ao porto e domina a produção".

5. Rio Douro — S. Leonardo de Galafura. Peso da Régua. 19 de maio de 1996.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Oliveiras

[pst 005] É difícil de precisar se foram os Romanos que trouxeram a oliveira das margens do Mediterrâneo, ou se já a teriam encontrado na Península Ibérica. Sabe-se que foi dos Romanos que os Visigodos a herdaram. Dela se extrai o azeite. Vive em solos pobres, sob um clima quente de estios demorados e é, com a sua estrutura meã, o seu verde seco e perene, um dos símbolos do Mediterrâneo.
4. Oliveiras — Monte de Sete Vais. Fronteira. 19 de março de 1996.