quarta-feira, 8 de maio de 2013

Sobre cinco princípios da investigação cientifica e o trabalho criativo

Queluz. 1990

[Viagens. Paisagens 25] A exactidão preditiva não se pode aplicar a um trabalho criativo; coerência interna, sim, sem que, no entanto, se tenha essa coerência como um objetivo. Um trabalho deverá ser desenvolvido dentro de um determinado âmbito, talvez seja mesmo inevitável que o seja (poderemos posteriormente procurar traços de coerência onde ela aparentemente esteja ausente); consistência externa, tal como uma imagem de solidez conceptual que se pretende transmitir; capacidade unificadora, não, ou apenas dentro de um determinado corpus de trabalho, de projeto. Um trabalho criativo deve, de alguma forma, ser disruptivo; fertilidade ou fecundidade, sim, se constituir uma referencia para trabalhos futuros, como ponto de passagem para investigações criativas mais vastas.

4 comentários:

  1. Não sei exatamente porquê, mas lembrei-me das "seis propostas para o próximo milénio" do Italo Calvino ao ler este post. Até na ironia, de se intitularem 6, e serem realmente 5 propostas (princípios), como as tuas.

    ResponderEliminar
  2. Curiosamente há um sexto princípio científico que se procura tendencialmente, mas que não pode ser incluído nos cinco primeiros: é a beleza. Os cientistas também estão atentos ao belo, na esperança que reflita uma verdade cósmica.

    ResponderEliminar
  3. Que o Belo é um fenómeno natural não há dúvida: inúmeros animais e vegetais utilizam uma certa forma de "estética" universal - para se atraírem, para se repelirem, como aviso à navegação, como processos de rentabilização de energia, orientação, comunicação... o que talvez seja particular num eventual princípio científico do Belo, é, precisamente, não poder ser enunciado como princípio, não poder ser teorizado...? E talvez fosse melhor que o ser humano deixasse que assim seja..? Afinal a Arte é já um modo próprio de "investigarmos" o Belo e o Horrível (sorriso).
    A era moderna tratou a natureza como se de uma máquina se tratasse, entre cientistas e filósofos, e depois, mais tarde, no século XIX, alguns disseram, como Feuerbach disse: se queres conhecer um cão pega-o ao colo, não o cortes com o bisturi.

    ResponderEliminar
  4. Eu tive professores no Porto que diziam: o belo discute-se e bem! Por oposição à velha ideia de que gostos não se discutem.

    ResponderEliminar