segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Castelo

Lisboa. 2012

[Lisbon Ground 10] As acessibilidades ao castelo procuram como que anular uma diferença de cota que existe entre a cidade baixa e um dos seus mais importantes pontos de povoamento remoto. As primeiras comunidades humanas ter-se-ão fixado nas terras baixas, mas assim que a sociedade ganhou contornos mais complexos, houve a necessidade de construir pontos de defesa. No lugar foram construídas, sucessivamente, muralhas. O castelo se São Jorge foi, durante séculos o ponto simbólico de um poder inatacável, reduto defensivo a afirmar a origem da própria cidade a partir do momento em que esta adquire uma estabilidade social de anos sucessivos, deixando para trás as lutas constantes e as visitas de piratas e corsários que batiam toda a linha litoral. Foi um lugar de afastamento, de proteção, de uma sociedade emergente. Hoje quer-se anular essa diferença de cota, essa subida penosa que num passado ardentemente longínquo, foi o nascimento de um burgo. Este é, também, o sentido desta arquitetura contemporânea, de um tempo atual que redesenha os lugares, que lhes confere um sentido diferente do que tiveram no passado. Este é o complexo evolutivo do tempo agora, de um futuro que já habitamos. Muitas vezes há uma aparente perversão dos sentidos de um espaço original, das suas funções primordiais, mas o que de facto existe, é a tomada, pelo desenho, por uma outra ordem, é a inversão do futuro, é o mais puro jogo de todas as imprevisibilidades, pois as cidades são feitas de gestos desconexos, em tempos diferentes, sem relação direta entre si.
Lisboa. 2012

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