quinta-feira, 12 de abril de 2012

Reenquadrar


[A Construção da Fuga #15] Todo este movimento é, creio, desencadeado pela ideia do "belo", pela procura de subtilezas significantes dentro das paisagens, por elementos de descontinuidade dos lugares que estimulam a nossa reflexão, que questionam a nossa própria existência. Talvez a procura de uma harmonia, de um equilíbrio quase sempre ausente das nossas vidas. É nesta precariedade que se cria o nosso próprio movimento, é nela que encontramos a base de uma energia criativa e, eventualmente, a raiz da consciência. Há aqui uma busca continua do equilíbrio, como que a definir a base de qualquer procura. O que se seguirá depois é a reflexão sobre um novo 'lugar' que tem origem no acumular dos nossos registos e materialização de memórias em fotografias. Parte-se de um reenquadramento da realidade visível, pela fotografia, para procurar aquilo que ela não mostra no imediato. A soma de todas as fotografias de um lugar vai ser mais do que a própria realidade que se pretendera retratar. E este é o jogo infindável da fotografia sistemática e documental da realidade. É uma fotografia de afastamento e de rutura. Aqui há a procura do tempo em que este processo se iniciou, numa altura em que não havia consciência desse início, nem se consegue precisar o ponto inicial desse caminhar. As fotografias dos lugares acabam por ser fotografias do tempo, tanto quanto o são do espaço. O espaço, aliás, é vertido numa bidimensionalidade. O tempo é parado e associado a essa bidimensionalidade.

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