domingo, 13 de novembro de 2011

Bosque de Sombras Perfumadas (5/8)

Serra da Estrela. 1997



No livro que fiz sobre Orlando Ribeiro, anteriormente referido, propus uma viagem breve à serra da Estrela. Depois de ver numerosas referências àquele maciço montanhoso, escritas, fotografadas e desenhadas, e das conversas com Suzanne Daveau, sabia ser aquela uma região especialmente admirada por Orlando Ribeiro. Nas primeiras visitas científicas à Serra seguia o trilho de pastores e carvoeiros; não havia outros acessos que não aqueles feitos a pé ou de burro. Mais tarde seria construída a estrada de ligação à Torre, que terá sido interpretada por Orlando Ribeiro como um gesto arrogante e desnecessário por parte das entidades que tomaram aquela iniciativa. Era uma perversa conquista da civilização: em torno do vértice geodésico mais elevado do território continental português, foi construída uma rotunda. Uma rotunda no ponto mais elevado de Portugal. Uma rotunda que não alimentava o escoamento de tráfego urbano, mas parecia simbolizar o caminhar ininterrupto num vazio circular, andar sobre si próprio num tempo imóvel, o Portugal de então. Hoje, esse traçado fundamentalmente urbano, poderia ser lido como uma metáfora da expansão de um povoamento desregrado, que se libertava de condicionantes milenares e anunciava um novo período histórico, dominado por meios de locomoção muito mais velozes. (continua)

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