quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bosque de Sombras Perfumadas (1/8)


Capa da 5ª edição, de 1987, sobre desenho e apontamentos em caderno de campo de Orlando Ribeiro



Em resposta a um convite que me foi dirigido por Suzanne Daveau, para escrever um texto para o catálogo da exposição que se encontra atualmente na Biblioteca Nacional de Portugal, escrevi Bosque de Sombras Perfumadas. São palavras da minha aproximação à obra de Orlando Ribeiro, que começou com a leitura de Portugal - O Mediterrâneo e o Atlântico, uma das obras literárias que mais marcou o meu percurso pessoal e profissional. Irei apresentar aqui a totalidade do texto em oito fragmentos, sempre acompanhados de imagens.
Na segunda metade da década de 1980 começava a interessar-me por Portugal, pelo seu espaço físico, pela paisagem, pelas formas de povoamento e pela arquitectura, motivo pelo qual me encontrava na cidade do Porto a estudar. Sonhava já com viagens pelas regiões mais inóspitas do nosso território. Na altura, os guias de Portugal não se exibiam com abundância nos escaparates das livrarias, como hoje acontece. Tinha comigo dois volumes do Guia de Portugal, de Raúl Proença e Santana Dionísio, que trouxera de casa de meus pais, mas agora o que eu procurava era uma geografia ou um estudo sobre o território nacional. Vivia na altura num quarto alugado, numa água-furtada de um prédio antigo, na Avenida Rodrigues de Freitas, bem perto da Escola de Belas-Artes, como então era conhecida, onde funcionavam os dois primeiros anos do curso de Arquitectura. Um dia, haveria de escrever a data da aquisição - 15 de Dezembro de 1987 - saí de casa para ir ver o que podia encontrar na livraria Leitura. Passei pelo Jardim de São Lázaro, atravessei a Praça dos Poveiros, desci a Rua Passos Manuel; depois dos Aliados subi até chegar, finalmente, à Rua de Ceuta. Na livraria procurei a temática geográfica, que ficava no piso superior, num espaço que era, então, exíguo e denso de livros. Uma lombada cor-de-laranja chamou-me a atenção: Portugal - o Mediterrâneo e o Atlântico, de Orlando Ribeiro. Não conhecia a obra e ouvira falar muito vagamente do autor. Chegado ao meu quarto, que não teria mais de seis metros quadrados, onde cabia pouco mais que uma cama e uma pequena secretária, onde um rebordo de alumínio me impossibilitava de desenhar, deitei-me e comecei a ler. Tenho ideia que era um fim-de-tarde. Mergulhava numa leitura e iria marcar os meus anos seguintes de uma forma indelével - e que ainda hoje me acompanha - não apenas nas minhas viagens, mas também nos períodos em que trabalho sobre as centenas de milhar de fotografias que entretanto recolhi, desde meados da década de oitenta, do século passado, até ao presente. Todo o meu trabalho documental em fotografia de Portugal viria a ser marcado por aquela leitura fascinante e por outros livros de Orlando Ribeiro, que procurei mais tarde e que lia com o mesmo entusiasmo. (continua)

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