quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Mínimo infinito

[tinta e pó_03] Partir para o terreno nunca sabendo o que se vai encontrar, mesmo levando um itinerário previamente traçado, mesmo conhecendo imagens dispersas de várias fontes, mesmo repetindo um percurso que se fizera no passado. Caminhar, fotografar, procurar fixar, de forma progressivamente intensa, aspetos das paisagens e das arquiteturas. A impossibilidade de abarcar um espaço vasto, de o registar exaustivamente pelo nosso movimento, pelas fotografias, transporta-nos para áreas geográficas restritas, espaços cada vez mais reduzidos. De horizontes abrangentes, colhidos, aparentemente, numa única imagem, encontramos pormenores que reafirmam o ilimitado do espaço, a dimensão fratal da realidade. Numa micro-paisagem parece sintetizarmos um espaço mais vasto, reparamos que construímos uma enorme abstração. O mínimo espaço transforma-se em infinito. Há um apelo que nos constrói em lugar novo, que ao mesmo tempo é a fabricação de um objeto, eventualmente singular, desvinculado do seu referente. A navegação por um imaginário complexo, traz outras imagens consigo, elaboradas na mente de cada observador. Livros de fotografias, exposições, imagens num ecrã luminoso, elementos de comunicação estritamente humana, invenções do absurdo, do inatingível ou intangível, do inacabado permanente. Uma marca deixada na pele, a memória de uma qualquer proximidade e do lugar onde não chegámos. Contraditoriamente, nesses espaços mais pequenos, de imenso detalhe, encontramos o reflexo de nós próprios, que logo se converte em viagem renovada.
Antigas minas de ouro do Conhal do Arneiro. Santana. Nisa. 2014

1 comentário:

  1. Todo o que podemos mostrar acerca da realidade está sempre aquém ou ligeiramente subjectivada dele própria.

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