domingo, 10 de novembro de 2024

Memória (Arquivo)

[Lugares livres 31] Este trabalho não partiu de uma análise histórica ou geográfica de Viseu, não partiu do desejo de fotografar os principais elementos patrimoniais da cidade e do concelho. Não se quis, de alguma forma, repetir abordagens mais convencionais. Não se procurou o belo-óbvio. Foram sinalizadas todas as povoações do concelho em cartografia. Havia um conhecimento prévio do território de Viseu, decorrente de anteriores trabalhos, mas não se quis partir para o terreno com uma lista de edifícios a fotografar. Sem dúvida alguma que é fundamental o conhecimento de uma bibliografia base sobre o concelho, mas há um entendimento que é quase sempre esquecido. É a perceção de que a terra é uma fonte “documental” de uma riqueza ilimitada. Há hoje uma tendência para procurar o conhecimento nos livros e em documentos, sobretudo escritos. O contacto com a terra é desconfortável, é muitas vezes duro, moroso, exige disponibilidade, esforço físico. Mas é também uma forma de nos construir, de nos “prender”, agarrar, a um tempo arcaico que vamos pressentindo ser o sentido da nossa existência como espécie, como comunidade evolutiva. Na terra está desenhado todo o nosso passado nos seus traços mais essenciais. Há muitos dados que não nos são acessíveis apenas pela leitura das paisagens, outros que apenas se tornam visíveis pelo demorado olhar que sobre eles repousamos.

Lordosa, Viseu, 2002

 

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