quinta-feira, 28 de abril de 2016

Mortórios — vale do rio Távora

[pst 183] "Vêem-se uma vez e ficam-nos para sempre nos olhos, ferem a alma, como a imagem mais pungente da tristeza e da devastação. Paira sobre eles um silêncio profundo de abandono, a mesma quieta e fria paz que pesa sobre toda a ruína, seja ela a de alguma cidade morta, ou de casa em destroços que noutro tempo as chamas de um incêndio reduziram ao calcinado osso, ou da fonte que secou e donde já não brota gota de água, ou talvez do campo que se fez maninho e deixaram entregue à erva ruim e ao recreio das víboras". São os mortórios vistos por Manuel Mendes em Setembro de 1962, no Douro — Roteiro Sentimental. É a imagem da praga da filoxera, que em pouco tempo destruiu quase todas as vinhas do vale. Muitos socalcos não mais voltariam a ser plantados.

Mortórios — vale do rio Távora. Tabuaço. 20 de agosto de 1996

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