quinta-feira, 21 de junho de 2012

Lugar sem espaço

Queluz. Sintra. 2000

[Negativos arq. #6] Os três primeiros momentos, da minha apresentação no colóquio Na Superfície - aqui anteriormente apresentados (Mata, Biblioteca, Hospital) - representam espaço, uma reflexão sobre espaços públicos, ou semi-públicos. O quarto momento, Fuga, é um outro território, um lugar sem espaço, e um regresso a este conceito desenvolvido numa exposição montada por alunos de mestrado do Curso Superior de Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar. A construção da fuga é a síntese de um caminhar e o que está oculto durante essa viagem, ou que não é mostrado de uma forma evidente. A partir de um desafio exterior, a proposta de Nuno Faria, construía um atlas de uma fração do meu próprio trabalho, mas que o representava em varias dimensões, numa estrutura com (in)determinada organização. Aqui estava plasmado um trabalho que caminha estre dois sentidos diferenciados: por um lado a representação das paisagens; por outro o registo dos fazeres que estão por trás dessa desejada representação — uma construção entre o real e o imaginário, uma arquitetura que existe num espaço contido, numa escala pessoal.
A construção da fuga é a consciência de um desvio a um itinerário obvio, um percurso alternativo e desvinculado. É a tentativa de entendimento e afirmação contida de uma realidade própria. A fuga é, simultaneamente, um espaço publico e um espaço privado, jogo de imprevisibilidades, de escondidas e de revelações. Inventar o espaço, reinventar o pensamento. Este é o espaço que prolonga as paisagens das viagens, é um espaço cinético que ambiciona ser construído e vivido de forma contínua.
A construção da fuga é a reconstrução de um passado disperso entre milhares de fotografias feitas num tempo que deixou de ser acessível e que agora é a metáfora de todas as perdas e de todos os lugares entretanto encontrados na perplexidade de um mundo cuja razão talvez acabe por ser a mais absoluta ausência de sentido. A fuga é a construção possível de algo que não poderá deixar de ser uma ruína. É o gozo desinteressado do respirar, do habitar, de algumas ansiedades expressas no caminhar, da procura do entendimento da consciência e, antes de tudo o mais, do ruidoso motor da vida.

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