[Lugares livres 22] Como um território inacabado. Uma procura urgente de um espaço de origem, em perda, como se irremediavelmente fosse desaparecer na voragem humana pelo consumo de todos os recursos. Lugar de pacificação, encontro do que resta de uma natureza intacta, a saudade do que não vivemos, que permanecerá em nós como uma memória arcaica. Um diálogo com sítios esquecidos, uma ponte monumental para um desejado futuro em que se preservem as formas livres da natureza evolutiva que nos ergueu como espécie biológica.
Fotografar um território vasto. Procurar em Portugal as raízes de uma identidade coletiva que se perde num tempo longo. Construir um arquivo fotográfico. Reinventar uma paisagem humana, uma ideia de arquitetura, uma cidade nova.
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Metáfora urbana
[Lugares livres 21] Este é, assim, o regresso a uma outra cidade, depois de percorrido o território imenso entre o coração pétreo da urbe medieval e os lugares de natureza esquecida. O mundo metafórico, urbano, do Fontelo, uma floresta inventada, um espaço muito próximo do coração da cidade e de uma grande biodiversidade.
terça-feira, 29 de outubro de 2024
Cidade (Fontelo)
[Lugares livres 20] A Mata do Fontelo não é uma cidade com edifícios de pedra, betão, ferro, tijolo e vidro. É hoje um lugar vegetal. Foi a mata de recreio do antigo Paço Episcopal, cuja origem remonta ao ano 1149, quando o Bispo de Viseu, Dom Onório, adquire a propriedade. Dom Miguel da Silva, regressado de Roma em 1525, e depois de assumir o bispado da cidade, vai introduzir profundas reformas no jardim e na mata, conferindo-lhe o desenho que ainda hoje é reconhecível, apesar das alterações feitas naquela área com a construção de várias infra-estruturas desportivas, como o estádio municipal, as piscinas e um ginásio.
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
Mergulho na terra
[Lugares livres 19] Um mergulho no fundo da terra, na génese deste trabalho. A fotografia como transporte. Há uma câmara que nos prende à realidade, que justifica um motivo e uma posição em cada sítio, como se fosse o próprio motor deste percurso, deste sentido de vida, a procura de um lugar que nunca se alcança. O tempo todo, a vida em jogo.
sábado, 26 de outubro de 2024
8 de julho de 2023. Paraduça, Calde
[Lugares livres 17] Há uma primeira fotografia tirada às 06h16m01s. A última imagem foi feita às 12h50m09s. Um total de 2911 fotografias. 6h34m8s de trabalho fotográfico. 394m8s. 394,133m (2911/394,133=7,39 fotografias por minuto. 23648s. 23648/2911= 8,124s entre cada fotografia. Os números são relevantes sobre a metodologia de trabalho e o entendimento de um certo modo de usar a fotografia. Muito mais do que imagens soltas, procura-se a representação do espaço e do tempo para a compreensão da vida.
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
Natureza ("Viseu território natureza")
[Lugares livres 16] Na sequência do trabalho de 2015, anteriormente referido, cujo foco tinha sido, sobretudo, o povoamento humano no concelho de Viseu, avançava agora para um olhar complementar. O objetivo era agora o de procurar de lugares pouco povoados, onde estivessem pouco presentes marcas de humanização. Já havia mapeado alguns lugares durante a pandemia de Covid, nos anos 2020 e 2021. No ano seguinte, em 2022, com o apoio de imagens de satélite e da cartografia militar na escala 1/25.000, assinalei vários pontos que poderiam ser relevantes no quadro dos objetivos a que me propunha, o registo fotográfico do que restasse de uma paisagem de natureza intacta. Tendemos a considerar a presença humana como algo estranho à paisagem. A evolução das espécies, e a evolução humana especificamente, dizem-nos que tudo é um processo ininterrupto em que as mais variadas espécies, vegetais e animais, estão em contínua adaptação a um meio ambiente em que nada é absolutamente estável. Na procura de recursos há espécies que se destacam, muitas vezes devido a fenómenos aleatórios que podem partir de uma simples mutação genética num indivíduo, que posteriormente a passa à descendência. Tudo quanto é vivo, na Terra, tem uma origem biológica e responde às leis da Física e da Química. Estas paisagens menos povoadas são como reservas de um tempo antigo em que podemos observar os elementos da natureza atuar sem uma direta interferência humana. Na voracidade do Antropoceno, são como territórios em espera.
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
Urbanidade ("Viseu: Identificação e reconhecimento", 2015)
[Lugares livres 15] Viseu: Identificação e Reconhecimento, foi uma exposição, que se subdividiu em dois espaços distintos: o Museu Almeida Moreira e a Casa das Memórias, atualmente Museu da Cidade. São dois núcleos distintos de fotografias, de 1996 e de 2010-2016, que constituiu uma proposta de reflexão, pela imagem fotográfica, sobre a terra, sobre as construções humanas, sobre uma região que aqui tem o seu coração, sobre o tempo, sobre Portugal, também. Ao fim de 33 dias de trabalho de campo na área geográfica do município de Viseu, que decorreram entre inverno e o início do verão de 2015, foram percorridos 1.800 quilómetros, visitadas 240 povoações, 160 outros lugares isolados, todas as ruas da cidade, feitas mais de 55.000 fotografias.
Exposição "Viseu: Identificação e reconhecimento", Casa das Memórias, Viseu, 2016
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Terra ("Portugal Património")
[Lugares livres 13] Num trabalho desenvolvido para o Círculo de Leitores, entre os anos 2000 e 2008, percorri extensivamente todo o país. As fotografias de Viseu, de praticamente todo o concelho, são de 2002, 2004 e 2008. Portugal Património é uma obra em doze volumes desenvolvida em cerca de dez anos. Para a sua realização foi percorrido todo o espaço português, em mais de 550 dias de trabalho de campo, nos quais foram feitas 611.527 fotografias. Pela abrangência e detalhe do património cultural e natural, em sítio de Portugal, é considerada uma obra única no panorama editorial português. Além das unidades de património de reconhecida importância foram também fotografadas e descritas nos vários volumes da obra, outras pouco conhecidas. Partindo de uma cartografia especialmente desenhada para este projeto, foram implantadas, sem hierarquizações, árvores notáveis, conventos, trechos de paisagem natural, viadutos, palácios, barragens, cruzeiros, jardins, fábricas, dólmenes, capelas de romaria, grutas, moinhos, igrejas, edifícios de arquitetura contemporânea, castros, etc. O conjunto da obra revela, de forma evidente, a invulgar diversidade de patrimónios existentes em Portugal e a singularidade da cultura de todo um povo.
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Contacto ("Portugal - O Sabor da Terra")
[Lugares livres 12] Portugal — o Sabor da Terra, foi uma investigação e recolha fotográfica desenvolvida entre 1995 e 1997, para o Pavilhão de Portugal, na Expo’98, e para o Círculo de Leitores, do qual resultaram catorze exposições simultâneas nas várias regiões de Portugal e igual número de volumes publicados. Foi um trabalho elaborado com o historiador José Mattoso e a geógrafa Suzanne Daveau. Desde 1986 que percorria Portugal num levantamento fotográfico progressivo de unidades de paisagem, formas primitivas de ocupação e domínio do território, lugares arqueológicos, aspetos das cidades e da suburbanidade, arquiteturas, vias de comunicação e transformações recentes do espaço habitado. Destes itinerários foram extraídas as fotografias uma obra onde se procurou fixar a paisagem e povoamento num tempo longo. Este trabalho pretendeu contribuir para a identificação de um país, para a redescoberta das suas regiões e da multiplicidade dos seus lugares e arquiteturas.
domingo, 20 de outubro de 2024
Longe do mar
[Lugares livres 26] A serra do Caramulo é como uma barreira que isola o território de Viseu do mar. Curiosamente, da divisão administrativa do espaço português em distritos, Viseu é a única destas frações que não tem contacto nem com o Atlântico, nem com Espanha. Uma paisagem interior, mas tão perto de tudo, destas barreiras geográficas a partir das quais podemos descobrir paisagens distantes, muitas vezes já tão acentuadamente diferentes. Esta é uma das marcas mais singulares da paisagem portuguesa, a enorme diferença de lugares em distâncias próximas. Se compararmos a serra da Estrela com o rio Douro, por exemplo, o granito e o xisto, poucas semelhanças encontramos. A leitura, com os pés no chão, destes tão surpreendentes lugares é um dos mais fascinantes motivos para a viagem. Uma enorme curiosidade pelo conhecimento da terra.
Serra do Caramulo, 1996 |
Exercício-mapa
[Lugares livres 18] O exercício da recolha fotográfica não deixa de ser, aqui, um movimento performativo sobre a terra. A marca que deixa é um conjunto de imagens. Há uma experiência de vida, intensa, de concentração, de foco pleno. Ao mesmo tempo é ausência de um quotidiano funcional, de múltiplas respostas a solicitações concretas. Um trabalho disruptivo, contaminado por pensamentos dispersos que abarcam todo o passado vivido, o presente e a projeção do futuro breve. Cada viagem, cada caminhada, é diferente de todas as outras. Há sucessivos sedimentos de memória que dialogam entre si.
Tempo (Orlando Ribeiro)
[Lugares livres 14] Orlando Ribeiro foi o mais destacado geógrafo do século xx português e um nome incontornável quem pretenda conhecer o território hoje Portugal. Começou a fotografar o país em 1937, com uma câmara Leica M3, dando conta dessa aquisição numa carta a outro grande nome da cultura portuguesa: Leite de Vasconcelos. Em 1945 fez uma fotografia em Viseu, cidade que lhe era familiar desde a infância, onde moravam os seus avós maternos. Vinte e dois anos mais tarde, em 1967 ,voltava ao mesmo lugar, Esculca, um vértice geodésico e faz uma tomada de vista sobre a cidade, tal como havia feito em 1945. As diferenças entre as duas imagens são evidentes. A fotografia mais recente mostra-nos um bairro, de casas uniformes, ao modo das colónias agrícolas promovidas pelo Estado Novo. Em 2011, por ocasião de um trabalho enquadrado no centenário do seu nascimento, promovido pela Biblioteca Nacional de Portugal, fotografei vários locais onde tinha estado, e fotografado, Orlando Ribeiro. Este ponto em Viseu foi um desses lugares. O bairro construído na década de 1940 estava, quase na sua totalidade, em ruínas. Mais tarde regressei, várias vezes, encontrando, por vários motivos, uma paisagem sempre diferente. Quando comparamos estas fotografias de Orlando Ribeiro, e outras, sobretudo se anteriores à década de 1980, o que hoje encontramos é um tempo civilizacional diferente. São imagens que nos dão conta da voragem do tempo, de uma contemporaneidade que avança, célere em afastamento a um ponto de origem, tendendo a apagar uma natureza intacta que nos traz a memória da conquista da terra e a construção das cidades.
Esculca, Viseu, 1945 (fotografia de Orlando Ribeiro) |
Esculca, Viseu, 1967 (fotografia de Orlando Ribeiro) Esculca, Viseu, 2023Esculca, Viseu, 2012
Origem (Grão Vasco)
[Lugares livres 11] Lugares, arquiteturas, campos agrícolas, árvores, paisagens. São fundos de pintura, em que as figurações humanas, de episódios bíblicos, ocupam o centro do retábulo e nos prendem a atenção. Quando aproximamos o olhar destas superfícies cromáticas, revela-se-nos um mundo que, a uma primeira observação, nos passa despercebido. Há um imenso detalhe na pincelada, no traço. Há marcas do tempo que passa sobre os pigmentos, sobre a madeira de castanho que constitui o suporte destas obras. Mergulhamos, progressivamente, num universo que nos absorve, que nos chama. Estamos dentro de paisagens, simultaneamente reais e imaginárias, com cinco séculos de sucessivos olhares. Fotografar estes matizes é como registar uma paisagem do presente. É a extrema educação do olhar, o mais fino detalhe, que nos mostra Grão Vasco, em que o seu tempo é agora o nosso tempo. Tudo pára, no indizível fascínio desta pintura.
Detalhe de retábulo de Grão Vasco, Museu Nacional Grão Vasco, Viseu, 2021
sábado, 19 de outubro de 2024
Monografias
[Lugares livres 10] Há trabalhos monográficos, sobre localidades, que são verdadeiramente inspiradores, como seja, Vilarinho das Furnas - Uma Aldeia Comunitária (1948) ou Rio de Onor - Comunitarismo Agro-Pastoril (1953), ambos de um precursor da antropologia portuguesa, Jorge Dias, Monsanto - Etnografia e Linguagem (1961), de Maria Leonor Carvalhão Buescu ou Pitões das Júnias - Esboço de Monografia Etnográfica (1981), de Manuel Viegas Guerreiro, ou outros mais recentes, a abarcar áreas geográficas mais vastas, como O Gerês: de Bouro a Barroso - Singularidades Patrimoniais e dinâmicas territoriais (2011), de Rosa Fernanda Moreira da Silva. Esta proposta editorial segue um caminho diferente. Mesmo tendo como referência Viseu Monumental e Artístico (1949), de Alexandre Lucena e Vale, não pude deixar de seguir outra direção. A internet, os smartphones, de algum modo, abrem um campo de liberdade para o desenho de diferentes artefactos de comunicação. Com mais de 115.000 fotografias feitas, em mais de 27 anos de recolhas fotográficas, Viseu é a área geográfica mais exaustivamente coberta num arquivo fotográfico pessoal de mais de 2.050.000 de imagens. As possibilidades de conceção de um livro são praticamente ilimitadas. Seguimos uma viagem no tempo, que é uma viagem no espaço. Não propomos um roteiro turístico mas uma deriva por uma terra fascinante. Numa altura em que a Inteligência Artificial parece ameaçar toda a criatividade humana, procurámos, justamente pôr em diálogo fotografias com uma experiência já longa de navegação terrestre pelo espaço português.
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
Contexto
[Lugares livres 09] Este é o relato de alguém que caminha demoradamente pela terra, com uma câmara fotográfica, como um dispositivo visual à procura do entendimento da vida. Ao longo do livro há textos de diferente natureza, ora de contextualização das fotografias, ora libertos destas, estabelecendo com as imagens uma relação ambígua.
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Livro-estrutura
[Lugares livres 08] O livro está estruturado em dez capítulos. A abertura é feita com Vasco Fernandes, pintor que exerceu o seu ofício na primeira metade do século XVI. Conhecido como Grão Vasco, foi o autor de uma obra pictórica notável. Pintou temas bíblicos, como era frequente no seu tempo. Figuras religiosas que se constituiam como referências de poder e identitárias da sociedade de então. Por trás dessas imagens, tantas vezes a ostentar uma riqueza luxuriante, estão paisagens que não se conseguem identificar, corresponder na realidade. São, é quase certo, lugares imaginários. Este ponto é significativo e inspirador. Do segundo ao sexto capítulo é feita uma viagem, com uma sucessão de trabalhos concretos que tiveram chão, ou passaram, por Viseu. O capítulo 7 é dedicado à Mata do Fontelo, entendida aqui como uma cidade metafórica. O capítulo 8 foca horizontes distantes, paisagens que fazem um enquadramento alargado deste território e que, simultaneamente, estimulam a viagem e o conhecimento de outros lugares. Segue-se, no capítulo 9, uma evocação do arquivo fotográfico que deu origem a este trabalho e que, de algum modo, é um lugar entre o real e o virtual, um espaço de reflexão sobre a própria natureza da imagem fotográfica e a sua relação com a realidade. O décimo e último capítulo, tem uma ligação com o primeiro na medida em que se foca num trabalho criativo que reinterpreta a paisagem. Simultaneamente próximo e distante de Grão Vasco, o trabalho cerâmico de Liliana Velho fecha esta viagem pela cidade e pelo concelho de Viseu e abre as portas a uma reflexão sobre uma cidade imaginária a que podemos ser transportados quando nos libertamos da estrita observação da materialidade da terra.
Antiga estação de serviço IP5, Vila Chã do Monte, Torredeita, 2022
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
Traços largos
[Lugares livres 07] Lugares Livres - Viseu, paisagem e povoamento, segue, em traços largos, esta cronologia de sucessivos mapeamentos fotográficos do território. Há referências bibliográficas que são, para mim, incontornáveis. São leituras que me acompanharam desde os primeiros passos, desde as primeiras viagens à procura de um país inteiro. Mas esta proposta segue outros preceitos, porventura mais difíceis de objetivar. Muito foi escrito sobre Viseu, talvez, curiosamente, mais escrito do que fotografado. Esta obra agarra-se à imagem fotográfica como fio condutor de um discurso sobre a paisagem e o povoamento humano. Esta é uma deriva, pelo tempo e pelo espaço, por um conjunto de lugares concretos. Sendo uma visão local, sobre a especificidade de uma paisagem com características próprias, não deixa de ambicionar ser uma reflexão sobre um país, que em qualquer mínimo lugar podemos, com maior ou menor imaginação, ver como um todo. Se levarmos ainda mais longe a nossa capacidade de abstração, podemos ler num pedaço de terra, mais ou menos alargado, um planeta inteiro. Ao longo desta obra são focadas questões que se prendem com as alterações climáticas. A tão rara neve que caiu na cidade em 2010, o caudal vertiginoso do pequeno rio Pavia, as chuvas torrenciais no verão, a passagem das tempestades subtropicais Leslie e Elsa, que deixaram marcas bem visíveis na cidade, ou as poeiras trazidas do norte de África por frentes atmosféricas, são exemplos de que estamos ligados ao dinamismo alterado do planeta Terra. Parece ser cada vez mais evidente que as ações humanas, nomeadamente através das emissões poluentes, têm um peso significativo nas condições ambientais. Se é certo que o clima na Terra nunca foi estável, também parece evidente que nunca as mudanças foram tão céleres. Alterações bruscas aconteceram no passado devido a grandes cataclismos de escala planetária. O mais recente evento desta natureza aconteceu há cerca de 65 milhões de anos, quando um meteorito de invulgares dimensões embateu na superfície terrestre, abrindo uma gigantesca cratera que, durante vários anos emitiu para a atmosfera, resíduos e poeiras que alteraram de forma significativa o clima, levando à extinção de numerosas espécies vegetais e animais, com destaque para o dinossauros. Foi o desaparecimento destes poderosos répteis que permitiu o desenvolvimento dos mamíferos, classe biológica a que pertencemos e somos herdeiros.
Rio Pavia, Vildemoinhos, Viseu, 2016
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Prospeção
[Lugares livres 06] Em 2022, novamente no âmbito de concurso promovido pela Câmara, desta vez com o nome de Eixo Cultura, obtive apoio para a realização de uma exposição que viria a designar como Viseu território natureza. Ao invés do trabalho anteriormente referido, que incidiu maioritariamente sobre o povoamento humano, agora propus-me registar os espaços onde fossem muito reduzidas as marcas dessa presença que, de forma tão evidente, marca a paisagem contemporânea. Procurava então, com recurso a cartografia, imagens de satélite e a prospeção no terreno, lugares de natureza intacta.
Ribeira de Asnes, Azenha do Espinho, Loureiro de Silgueiros, Viseu, 2022
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
Habitar Viseu
[Lugares livres 05] Em 2006 passei a residir em Viseu. Fui fotografando a cidade e o seu território em recolhas dispersas e sem objetivos muito definidos. Seria durante os anos 2015 e 2016 que, sistematicamente, voltava ao terreno para uma recolha mais aprofundada do que aquelas que havia feito no passado. Com o apoio financeiro da Câmara Municipal de Viseu, obtido através do concurso público Viseu Terceiro, propus-me fazer um levantamento fotográfico do espaço do município tendo em vista a realização de uma exposição. Fiz, nesses anos, o registo de 400 lugares, ficando com a sensação que muito deixara por fazer e que, quanto melhor conhecia esta paisagem, rural e urbana, maior era a evidência da impossibilidade de a captar com uma câmara fotográfica.
domingo, 13 de outubro de 2024
1996, fevereiro
[Lugares livres 04] Foi no dia 24 de fevereiro de 1996 a primeira vez que pisei o solo da cidade de Viseu. Fazia, na altura, uma extensa recolha fotográfica pelo espaço de Portugal continental para a obra Portugal, O Sabor da Terra, que desenvolvi com José Mattoso e Suzanne Daveau, por ocasião da exposição Universal de Lisboa, Expo’98. Foi com incontido espanto que tomei contacto com a cidade, com o adro da Sé Catedral que, com a praça Dom Duarte e o Largo Pintor Gata, constituem alguns dos mais bem preservados espaços das cidades antigas em Portugal. Não muito mais tarde, em 2002, regressava a Viseu no contexto de um outro trabalho: Portugal Património. Durante um período de cinco anos percorri praticamente todo o país, incluindo as ilhas atlânticas dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Visitei todas as freguesias do concelho de Viseu. Foi uma recolha muito mais detalhada do que aquela que havia feito na década anterior.
sábado, 12 de outubro de 2024
Penedias, rios
[Lugares livres 03] Lugares Livres, é uma deriva visual pela cidade de Viseu e pelo seu território circundante, a área do concelho, marcada por um forte carácter telúrico. Há uma pontual presença do xisto, a norte, mas o granito domina praticamente toda esta paisagem. Há afloramentos rochosos de escala impressionante, grandes lajes, como aquela em que foi construído o santuário de Santa Eufémia. Outra marca da estrutura geográfica desta paisagem são os vales que sulcam seu espaço. O rio Paiva, a norte, apenas toca a fronteira com o concelho de Castro Daire. O rio Vouga segue, sensivelmente, um paralelo entre Barreiros e Ribafeita. A desenhar o limite sul, encontramos o vale do rio Dão, que se irá juntar ao Mondego em Santa Comba Dão. São três bacias hidrográficas a estruturar uma paisagem com um povoamento humano, relativamente denso, onde há vestígios arqueológicos a atestar a atratividade destes campos desde períodos muito recuados.
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
Do adro
[Lugares livres 02] Quando chegamos ao adro da Sé deparamo-nos com um dos mais belos espaços urbanos de Portugal. Há ali um equilíbrio de desenho e volumetrias que raras vezes encontramos noutros lugares, mesmo naqueles que são projetados de raiz, quase sempre de tempos contemporâneos ou relativamente recentes. Se contornarmos o edifício da Sé Catedral podemos ver um conjunto de penedos sobre o qual foi erguida a basílica. Há qualquer coisa de singular e único naqueles rochedos, como se a sacralidade do lugar estivesse inscrita naquelas formas ciclópicas, arredondadas. Talvez em tempos muito recuados se tenha ali erguido um primeiro templo que ao longo de sucessivas vagas de povoamento terá sido transformado, mantendo a sua função primordial, sacra. Aquela elevação nem sequer se sobressai demasiado em relação a outros cumes envolventes, mas o povoamento humano conferiu-lhe uma centralidade que polariza terras que vão do rio Douro ao Mondego, da serra do Caramulo à Estrela.
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Lugares Livres
[Lugares livres 01] Mais do que o ambicionado retrato de uma região, este projeto editorial do Museu da Paisagem quer ser uma reflexão sobre terras próximas dos lugares que habitamos em qualquer ponto da nossa casa comum, a Terra. Viseu, a área geográfica do seu concelho, é aqui esse pedaço de solo planetário. Se nos afastarmos um pouco da objetividade documental das imagens fotográficas, podemos visualizar cidades imaginárias erguidas de fragmentos de labirinto que percorremos em demanda do tempo e do espaço, da origem e do significado da vida.
Lugares Livres — Viseu, Paisagem, Arquitetura, edição Museu da Paisagem, 2023