[Lugares livres 14] Orlando Ribeiro foi o mais destacado geógrafo do século xx português e um nome incontornável quem pretenda conhecer o território hoje Portugal. Começou a fotografar o país em 1937, com uma câmara Leica M3, dando conta dessa aquisição numa carta a outro grande nome da cultura portuguesa: Leite de Vasconcelos. Em 1945 fez uma fotografia em Viseu, cidade que lhe era familiar desde a infância, onde moravam os seus avós maternos. Vinte e dois anos mais tarde, em 1967 ,voltava ao mesmo lugar, Esculca, um vértice geodésico e faz uma tomada de vista sobre a cidade, tal como havia feito em 1945. As diferenças entre as duas imagens são evidentes. A fotografia mais recente mostra-nos um bairro, de casas uniformes, ao modo das colónias agrícolas promovidas pelo Estado Novo. Em 2011, por ocasião de um trabalho enquadrado no centenário do seu nascimento, promovido pela Biblioteca Nacional de Portugal, fotografei vários locais onde tinha estado, e fotografado, Orlando Ribeiro. Este ponto em Viseu foi um desses lugares. O bairro construído na década de 1940 estava, quase na sua totalidade, em ruínas. Mais tarde regressei, várias vezes, encontrando, por vários motivos, uma paisagem sempre diferente. Quando comparamos estas fotografias de Orlando Ribeiro, e outras, sobretudo se anteriores à década de 1980, o que hoje encontramos é um tempo civilizacional diferente. São imagens que nos dão conta da voragem do tempo, de uma contemporaneidade que avança, célere em afastamento a um ponto de origem, tendendo a apagar uma natureza intacta que nos traz a memória da conquista da terra e a construção das cidades.
Esculca, Viseu, 1945 (fotografia de Orlando Ribeiro) |
Esculca, Viseu, 1967 (fotografia de Orlando Ribeiro) Esculca, Viseu, 2023Esculca, Viseu, 2012
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