[Lugares livres 33] As pessoas, figurações humanas, pouco aparecem nestas imagens. As marcas deixadas na terra, ao longo de muitas gerações, são a expressão profunda do seu, nosso, mundo. As populações são quem edifica as paisagens, quem constrói o mundo em que vivemos. Quando visitamos e fotografamos uma aldeia somos, por vezes, recebidos com desconfiança, mais raramente, com alguma agressividade. Há a suspeita pontual de que uma recolha fotográfica pode não ser feita pelos melhores motivos. Há a noção de intrusão num quotidiano rural onde poucas descontinuidades acontecem ao longo do ano. É muito provável que nunca ninguém tenha fotografado o espaço de muitas aldeias, pelo menos alguém vindo de fora, sem aviso prévio, sozinho. Para quem fotografa não pode deixar de, também, pressentir uma certa devassa. É certo que o espaço é público e de livre acesso, mas não deixa de ser verdade que em pequenas comunidades, uma certa intimidade não fica apenas dentro de casa e estende-se pelo espaço circundante à habitação, muitas vezes pelos campos fora. As fotografias ganham essa dimensão de proximidade a algo que vulgarmente não vemos. É o sentido do humano no seu despojamento.
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